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Estrangeiros começam a deixar o Sudão; Biden confirma retirada de funcionários da embaixada americana

Uma foto fornecida pela Agência de Imprensa Saudita em 22 de abril de 2023 mostra membros das forças armadas distribuindo chocolates e flores para cidadãos sauditas e outros nacionais na chegada a Jeddah, após o resgate no Sudão - AFP / HO / SPA
Uma foto fornecida pela Agência de Imprensa Saudita em 22 de abril de 2023 mostra membros das forças armadas distribuindo chocolates e flores para cidadãos sauditas e outros nacionais na chegada a Jeddah, após o resgate no Sudão Imagem: AFP / HO / SPA

23/04/2023 03h19

Os Estados Unidos retiraram sua equipe diplomática de Cartum, onde os intensos combates entraram em sua segunda semana, em uma operação de helicóptero "sem intercorrências" ordenada pelo presidente Joe Biden. França, China e Reino Unido também organizam o resgate de funcionários de suas embaixadas e de civis do Sudão. Uma primeira ação, retirando mais de 150 estrangeiros, também foi anunciada neste sábado (22).

"Hoje, sob minhas ordens, os militares dos Estados Unidos conduziram uma operação para retirar funcionários do governo dos Estados Unidos", declarou Biden em comunicado na noite de sábado, pedindo também um "cessar-fogo imediato e incondicional" para pôr fim a esses atos de violência "sem sentido".

Ainda de acordo com o comunicado de imprensa, o líder americano agradeceu em especial a Djibouti, Etiópia e Arábia Saudita pelo apoio na operação.

O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, por sua vez, indicou que esta decisão de retirar o pessoal americano foi tomada devido ao "risco inaceitável" que a situação representa aos funcionários da embaixada.

A operação envolveu três helicópteros CH-47 Chinook e permitiu a retirada de "pouco menos de uma centena" de pessoas, incluindo diversos diplomatas estrangeiros, informou John Bass, alto funcionário do Departamento de Estado.

Os helicópteros deixaram Djibouti e depois pararam na Etiópia antes de seguirem para Cartum, onde permaneceram menos de uma hora, acrescentou um oficial do Pentágono, o tenente-general Douglass Sims. "Conseguimos entrar e sair sem incidentes", ele acrescentou.

Operação "coordenada"

Antes do anúncio oficial de Washington, os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR) no Sudão haviam afirmado ter "coordenado" com os Estados Unidos a retirada dos funcionários da embaixada americana em Cartum. Mas John Bass rejeitou qualquer indicação de que a operação tenha sido "coordenada" com a FAR e afirmou que esta foi "conduzida exclusivamente" pelas forças especiais dos EUA.

A complexidade da ação começou por reunir, nos últimos dias, em um único local todo o pessoal diplomático disperso em Cartum. A operação de retirada, preparada desde o início da semana, dizia respeito apenas a funcionários do governo e não a cidadãos americanos no Sudão, que seriam centenas.

Dadas as condições de segurança, "não prevemos coordenar a nível governamental uma retirada dos demais concidadãos por enquanto", acrescentou John Bass, enfatizando que as autoridades americanas estão intensificando os contatos com seus nacionais, os orientando a se colocarem em segurança.

Os Estados Unidos enviaram soldados a Djibouti, um pequeno país estável no Chifre da África, a cerca de 1,1 mil km a sudeste de Cartum, no final da semana, para facilitar a retirada de funcionários de sua embaixada.

Blinken multiplicou as trocas diplomáticas nos últimos dias, discutindo pelo menos duas vezes esta semana com o general Abdel Fattah al-Burhane e seu rival Mohamed Hamdane Daglo, conhecido como "Hemedti", bem como com a União Africana.

Retirada de civis

Deixar Cartum também é a palavra de ordem para centenas de estrangeiros que outras embaixadas estão tentando repatriar o mais rápido possível, relata o enviado especial da RFI à capital sudanesa, Eiiott Brachet. Os dois beligerantes dizem estarem prontos para facilitar a retirada de estrangeiros, mas as operações prometem ser delicadas, pois os dois generais têm repetidamente dado prova de serem incapazes de parar os combates.

Em uma primeira operação em grande escala, liderada no sábado pela Arábia Saudita, mais de 150 civis, de diversas nacionalidades, conseguiram deixar o Sudão. Trata-se de sauditas e nacionais de outros 12 países, incluindo Kuwait, Catar, Emirados, Egito, Burkina Faso, além de Índia e Paquistão.

As pessoas retiradas foram transportadas em um comboio de veículos para a cidade de Porto Sudão. Em seguida, elas cruzaram o Mar Vermelho a bordo de navios sauditas. No sábado, cinco navios chegaram a Jeddah, cidade portuária da Arábia Saudita. Um total de 91 cidadãos sauditas e 66 nacionais de "países irmãos" foram retirados. "Diplomatas e funcionários internacionais", especificou o Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita.

Imagens de um canal de televisão saudita mostram mulheres e crianças exibindo a bandeira verde da Arábia Saudita a bordo de um desses navios. A tripulação de um avião saudita que foi atingido por tiros no início do conflito também está entre os resgatados, relata o correspondente da RFI na região do Golfo, Nicolas Keraudren.

"Tudo que é possível"

O exército sudanês afirma que quatro países também se preparam para retirar seus diplomatas e nacionais com seus próprios aviões militares: além dos Estados Unidos, a França, a China e o Reino Unido, onde o governo afirma fazer "tudo que é possível", enquanto os britânicos no local, ameaçados pelos combates, acusam terem sido abandonados pelas autoridades.

O ministro de Estado para o Desenvolvimento e África, Andrew Mitchell, reconhece uma "situação extremamente preocupante para os cidadãos britânicos presos pelos combates", e afirma que as autoridades estão "se preparando para as mais diversas eventualidades".

Os combates violentos opõem o exército sudanês aos paramilitares da FAR há mais de uma semana em Cartum, já tendo provocado centenas de mortos e milhares de feridos e deslocados.

(Com informações da AFP)