Conteúdo publicado há 9 meses

Declaração da Cúpula da Amazônia decepciona e ativistas criticam pouca 'ação prática'

Países se comprometem a criar um painel com dados atualizados em tempo real sobre a floresta, mas não fixam prazo nem detalham medidas que visem acabar com o desmatamento. Cúpula da Amazônia é vista como um passo importante, mas ações efetivas ainda precisam sair da lista de intenções

Assinada por oito países amazônicos, a Declaração de Belém traz uma lista de intenções e objetivos, mas poucos avanços práticos para salvar a floresta, afirmam entidades sociais. A sensação é de certa frustração já que em meio a tantas autoridades e a prognósticos tão preocupantes, o documento não tem medidas impactantes no curto e médio prazo.

Não há, por exemplo, um prazo comum para zerar o desmatamento e cada país perseguirá sua meta interna. O governo brasileiro tem prometido alcançar o feito em 2030. Entre as ações mais imediatas resultantes da Cúpula da Amazônia está a promessa de se criar o Painel Técnico-Científico Intergovernamental da Amazônia - o "IPCC da Amazônia" -, que incluirá governo, pesquisadores, sociedade civil, povos indígenas e comunidades locais e tradicionais, e o Observatório para identificar financiamento e melhores práticas de proteção dos defensores.

"A gente estava com outras expectativas. As pessoas falam muito no discurso, mas na prática não se compromete de fato para uma solução comum sobre essa questão do desmatamento e a crise climática. Não se discute um plano conjunto para fazer essa mudança", afirmou à RFI a indígena Auricélia Arapium, presidente do conselho deliberativo da COIAB, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira.

Exploração petrolífera na Amazônia

Na polêmica sobre a exploração de petróleo na Amazônia, que opôs dois presidentes de esquerda, leve vitória de Lula, que defende a atividade na foz do Amazonas, sobre o colombiano Gustavo Petro, opositor ferrenho a essa ideia. O texto final não veta a exploração petrolífera na região e diz que os países devem "iniciar um diálogo entre os Estados Partes sobre a sustentabilidade de setores tais como mineração e hidrocarbonetos na região amazônica, no marco da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável e de suas políticas nacionais soberanas".

Gustavo Petro, que fez um dos discursos mais duros entre os chefes de estado, chegou a acusar a esquerda brasileira de "negacionismo progressista". Do lado de fora da Cúpula, grupos indígenas também ergueram cartazes contrários à captação de óleo e gás na região. Representantes de povos tradicionais reclamaram ainda do pouco espaço nos debates oficiais da Cúpula da Amazônia.

"Nós entregamos uma carta a eles e isso foi um passo importante. Mas eles ainda estão discutindo sem a gente, falando sobre nós, sobre nossas casas, nossa terra, mas sem nossa participação nos momentos decisivos. E nós precisamos estar presentes porque nós temos a solução", afirmou Arapium.

"Por mais que a tecnologia tenha avançado muito, a solução ainda é a proteção dos territórios dos povos indígenas, das populações tradicionais, dos quilombolas. A solução ainda é a proteção das nossas vidas, porque nós somos os responsáveis pela floresta estar de pé. Sem a gente, a situação estaria bem pior", afirmou a representante da COIAB.

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