Achados mortos após meses: o triste fim dos idosos 'invisíveis e solitários'
A associação francesa de luta contra o isolamento de pessoas idosas Petits Frères des Pauvres publica um relatório anual sobre mortes de pessoas sozinhas na França. O estudo chama a atenção para o aumento de casos de cadáveres descobertos meses após o óbito. A organização aponta ainda que os números compilados representam provavelmente apenas a ponta do iceberg, já que não existem estatísticas oficiais sobre o assunto e a organização se baseia nos casos relatados na imprensa.
Em 2024, a associação contabilizou 33 mortes solitárias na França, um aumento de cerca de 57% em relação a 2024, quando o relatório estimou que 21 pessoas idosas morreram em situação de isolamento. O balanço do ano passado representa uma alta de 153% em relação a 2022, quando 13 mortes nestas condições foram relatadas pela imprensa.
Em média, de acordo com a Ong, duas pessoas idosas isoladas por mês são encontradas em suas casas, muito tempo depois de terem morrido. Segundo os dados do relatório, podem passar semanas, meses e, nos casos mais extremos, até anos para que um alerta seja feito, como aconteceu com um homem de 63 anos encontrado em outubro de 2024, em seu apartamento em Dijon, cinco anos depois de sua morte.
De acordo com a associação, na França, a morte solitária continua sendo um fenômeno subestimado. A falta de estatísticas oficiais abrangentes dificulta a compreensão e a extensão do problema. Em outros países europeus, como o Reino Unido, o fenômeno é melhor documentado, permitindo a implementação gradual de políticas públicas para prevenir ou gerir essas mortes.
A associação pede aos poderes públicos na França que realizem uma política preventiva de luta contra o isolamento das pessoas idosas, para evitar o que chama de "mortes indignas e invisíveis".
A criação de um sistema de alertas que mobilize bancos e fornecedores de energia, em caso de longos períodos sem movimentos nas contas, e de um observatório da morte solitária, para avaliar e prevenir o problema, são medidas preconizadas pela Ong.
A organização alerta ainda para sinais que podem indicar algo estranho, como uma caixa de correspondência sempre cheia de cartas, uma luz acesa durante dias ou um jardim não cuidado.
Reino Unido toma medidas
Apesar de também não contar com estatísticas oficiais, estudos e relatórios britânicos recentes destacam o aumento dos casos no Reino Unido.
Um estudo publicado em 2023 no Journal of the Royal Society of Medicine revelou que, desde a década de 1980, o número de pessoas encontradas em casa muito tempo depois de sua morte tem aumentado constantemente na Inglaterra e no País de Gales. A pesquisa destaca, em particular, que os homens têm duas vezes mais probabilidade do que as mulheres de serem encontrados em estado de decomposição.
Diante dessa realidade, o governo britânico criou em 2018 um ministério dedicado à solidão, reconhecendo a escala do problema e a necessidade de intervenções direcionadas para fortalecer as conexões sociais e prevenir mortes solitárias.
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