Cessar-fogo? Ucrânia dividida? O que esperar da conversa entre Trump e Putin hoje
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou que conversará com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, nesta terça-feira (18), em um esforço para alcançar um cessar-fogo na Ucrânia. A proposta envolve possíveis concessões territoriais por parte de Kiev e a definição do controle da usina nuclear de Zaporíjia, que está sob domínio russo desde março de 2022. A conversa acontece em um momento de intensa pressão diplomática, com líderes europeus cobrando um posicionamento claro de Moscou em relação ao acordo de paz.
O ponto central das negociações entre Trump e Putin será o acordo de cessar-fogo de 30 dias, que a Ucrânia já aceitou na semana passada. A proposta foi discutida em reuniões entre representantes ucranianos e americanos na Arábia Saudita, com o apoio de aliados europeus como França, Reino Unido e Canadá.
Segundo fontes diplomáticas, o acordo prevê a retirada parcial de tropas russas de zonas estratégicas, o restabelecimento de corredores humanitários e o início de negociações formais sobre a definição das fronteiras. Kiev insiste que a integridade territorial da Ucrânia precisa ser preservada, o que inclui o status da Crimeia e das regiões ocupadas por forças russas desde 2014.
Trump afirmou que sua decisão de congelar o envio de ajuda militar à Ucrânia no início do mês e seu encontro com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky na Casa Branca foram fatores decisivos para levar Kiev a aceitar o acordo. "O que está acontecendo na Ucrânia não é bom, mas vamos ver se conseguimos alcançar um acordo de paz. Acho que seremos capazes de fazer isso", disse Trump a jornalistas em Washington nesta segunda-feira (17).
A usina nuclear de Zaporíjia, a maior da Europa, também será um ponto crítico das negociações. A Rússia controla o complexo desde março de 2022, mas Kiev tem alertado sobre o risco de um desastre nuclear devido aos combates frequentes na área. A Ucrânia defende que a administração da usina seja transferida para uma autoridade internacional, enquanto Moscou insiste em manter o controle sobre o local como parte de um possível acordo de paz.
Pressão europeia sobre Moscou
Líderes europeus têm aumentado a pressão sobre Moscou para que o acordo de cessar-fogo seja aceito. O presidente francês Emmanuel Macron elogiou a disposição de Zelensky em aceitar o acordo e pediu reciprocidade de Putin. "Basta de mortes, de vidas destruídas, de destruição. As armas precisam se calar", declarou Macron em uma postagem na rede social X (antigo Twitter).
Following Saturday's meeting on peace and security in Ukraine and my discussion with @POTUS yesterday, I spoke with President @ZelenskyyUa today.
? Emmanuel Macron (@EmmanuelMacron) March 17, 2025
President Zelensky demonstrated the courage to accept the US proposal for a 30-day ceasefire. It is now up to Russia to...
O secretário de Relações Exteriores do Reino Unido, David Lammy, foi ainda mais direto, afirmando que Putin deve aceitar um cessar-fogo "completo e incondicional". "Não há sinais de que Putin esteja agindo de boa-fé. Mas temos mais cartas na manga para pressionar Moscou a negociar seriamente", declarou Lammy ao Parlamento britânico.
Enquanto isso, a Casa Branca mantém um tom mais otimista. A porta-voz Karoline Leavitt afirmou que a paz "nunca esteve tão perto", que Trump está "determinado a garantir o acordo de paz" e que as negociações com Putin representam o momento mais próximo de uma resolução pacífica para o conflito desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022.
"A usina de Zaporíjia estará em pauta, assim como a situação na região de Kursk, onde forças ucranianas enfrentam dificuldades após avanços russos significativos", afirmou Leavitt em coletiva na Casa Branca.
Putin mantém posição cautelosa
O Kremlin tem mantido cautela em relação aos detalhes da negociação. O porta-voz Dmitry Peskov disse que Moscou não comentará o conteúdo da conversa antes de sua realização.
Putin já declarou anteriormente que está aberto a um cessar-fogo, mas impôs condições específicas para isso. Ele insiste que a Ucrânia deve reconhecer oficialmente a Crimeia como parte do território russo e aceitar o controle russo sobre as regiões de Donbas e Luhansk.
Além disso, Putin exige que o monitoramento do cessar-fogo seja feito por observadores neutros, descartando a possibilidade de envolvimento da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) ou de forças ocidentais.
Outro ponto sensível é o controle da região de Kursk, no oeste da Rússia, que tem sido palco de confrontos intensos nos últimos meses. Forças ucranianas avançaram sobre a área em agosto passado, mas Putin afirmou que o território agora está totalmente sob controle russo após recentes ofensivas. "As tropas ucranianas em Kursk estão em apuros, cercadas por soldados russos", afirmou Trump.
Conflito com o Irã e escalada no Oriente Médio
Enquanto as negociações de paz na Ucrânia avançam, a situação no Oriente Médio permanece tensa após uma série de ataques dos Estados Unidos contra os rebeldes Houthi no Iêmen. Trump responsabilizou o Irã pelo apoio militar ao grupo rebelde e alertou que Teerã "sofrerá as consequências" se novos ataques ocorrerem.
No último fim de semana, os Estados Unidos lançaram mais de 40 ataques aéreos contra alvos Houthi, resultando em pelo menos 53 mortes, de acordo com o Departamento de Defesa dos EUA.
Em resposta, milhares de apoiadores Houthi realizaram manifestações em diversas cidades iemenitas, prometendo vingança contra os Estados Unidos e Israel. A rede de TV Al-Masirah, controlada pelos Houthi, exibiu imagens de jovens gritando slogans como "Morte à América" e "Vitória ao Islã".
A tensão também tem afetado as negociações nucleares entre Washington e Teerã. Trump enviou uma carta ao governo iraniano propondo uma retomada das negociações sobre o programa nuclear do país, mas o Irã ainda não respondeu oficialmente.
Os rebeldes Houthi atacaram mais de 100 navios mercantes com mísseis e drones, afundando dois navios e matando quatro marinheiros, de novembro de 2023 até janeiro deste ano. A liderança do grupo descreveu os ataques como uma tentativa de encerrar a guerra de Israel contra o Hamas na Faixa de Gaza.
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