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Jamil Chade

"Combater pandemia é necessidade para recuperar economia", dizem OMS e FMI

25.mar.2020 - Itália - Médico cuida de paciente infectado com o COVID-19 na unidade de terapia intensiva do Hospital Casal Palocco, nesta quarta-feira 25. - Cecilia Fabiano/LaPresse
25.mar.2020 - Itália - Médico cuida de paciente infectado com o COVID-19 na unidade de terapia intensiva do Hospital Casal Palocco, nesta quarta-feira 25. Imagem: Cecilia Fabiano/LaPresse

Colunista do UOL

03/04/2020 10h15

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Resumo da notícia

  • Coronavírus: Para OMS e FMI, discussão vidas x empregos é um "falso dilema"

Num recado claro a lideres de todo o mundo, Kristalina Georgieva, diretora-gerente do FMI e o Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, publicaram nesta sexta-feira um alerta: a disputa entre salvar vidas e salvar empregos é um "falso dilema".

O artigo assinado em conjunto, publicado em diferentes jornais, alerta que o mundo "responde à covid-19, país após país, confrontado com a necessidade de conter a propagação do vírus à custa da paralisação da sua sociedade e economia".

"Salvar vidas ou salvar meios de subsistência. Este é um falso dilema — controlar o vírus é, quando muito, um pré-requisito para salvar meios de subsistência", apontaram.

"O curso da crise sanitária mundial e o destino da economia mundial estão inseparavelmente interligados. O combate à pandemia é uma necessidade para que a economia recupere", indicaram.

"Como todos trabalhamos em conjunto, com pouco tempo e recursos finitos, é essencial que nos concentremos nas prioridades certas para salvar vidas e meios de subsistência. O nosso apelo comum é que, numa das horas mais sombrias da humanidade, os líderes têm de se mobilizar desde já para as pessoas que vivem nos mercados emergentes", apelaram.

"O nosso apelo conjunto aos responsáveis políticos, especialmente nas economias de mercado emergentes e em desenvolvimento, é que reconheçam que a proteção da saúde pública e o regresso das pessoas ao trabalho andam de mãos dadas", apelaram os dois líderes.

Nos últimos dias, governos como o do Brasil foram tomados por esse debate.

"A OMS está na linha da frente desta crise, em virtude do seu mandato, mas o FMI também está. No pouco tempo desde que a covid-19 começou a espalhar-se pelo mundo, a procura de financiamento do FMI disparou", indicaram. "Nunca, nos 75 anos de história da instituição, tantos países — 85 até agora — se viram tão necessitados de financiamento de emergência", explicaram.

"E este financiamento está a ser disponibilizado em tempo recorde, com os primeiros projetos já aprovados e o dinheiro desembolsado a prestar a assistência muito necessária para proteger os países contra um aumento dramático das necessidades financeiras numa altura de queda súbita das atividades econômicas e das receitas", afirmaram.

Para os dois chefes de agências, o momento é de usar o dinheiro para a saúde. "Uma vez que o financiamento para apoiar orçamentos públicos gravemente limitados chega aos países necessitados, o nosso apelo conjunto é que as despesas de saúde sejam colocadas no topo da lista de prioridades", pediram.

"Pagar salários a médicos e enfermeiros, apoiar hospitais e salas de emergência, criar clínicas, comprar equipamento de proteção e equipamento médico essencial, realizar campanhas de sensibilização do público para medidas simples como a lavagem das mãos - são investimentos críticos para proteger as pessoas contra a pandemia", alertaram.

"Em demasiados locais, os sistemas de saúde não estão preparados para uma ofensiva contra os doentes do COVID-19 e é fundamental dar-lhes um impulso", pediram.

"E isto pode e deve ser acompanhado do apoio às prioridades econômicas necessárias para reduzir o desemprego, minimizar as falências e, com o tempo, assegurar a recuperação", indicaram.

"Estas medidas vêm juntar-se - e não substituir - às despesas de saúde e visam prestar apoio específico às famílias e empresas mais afetadas, incluindo transferências monetárias, subsídios salariais e trabalho a tempo reduzido, reforçar os subsídios de desemprego e as redes de segurança social e limitar o aumento dos custos de contração de empréstimos", apontaram.

A OMS e o FMI indicaram que reconhecem "como é difícil encontrar o equilíbrio certo". "A atividade econômica está a descer à medida que as infeções e as medidas para combater a pandemia afetam os trabalhadores, as empresas e as cadeias de abastecimento, as perdas de postos de trabalho e a incerteza arrastam as despesas, as condições financeiras tornam-se fortemente mais restritivas e o colapso dos preços do petróleo atinge os exportadores de matérias-primas - tudo isto com repercussões transfronteiriças", disseram.

"Em países com grandes economias informais, as famílias dependem dos salários diários para sobreviver. Os bairros urbanos altamente congestionados tornam impossível o distanciamento social", admitem.

"Estamos convencidos, porém, de que o financiamento de emergência só pode ajudar se os países atingirem esse equilíbrio. A OMS pode ajudar em áreas vitais para a coordenação, tais como a garantia da produção e fornecimento de medicamentos aos necessitados, de uma forma eficaz, eficiente e equitativa - facilitando, por exemplo, acordos de compra antecipada", prometeram.

"O FMI, por seu lado, pretende ajudar duplicando a sua capacidade de resposta a emergências de 50 bilhões de dólares para 100 bilhões de dólares - tornando possível aos países obterem do Fundo o dobro das verbas disponibilizadas durante as situações de emergência", afirmaram.