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Jamil Chade

Problemas políticos vão dar combustível para a pandemia, alerta OMS

Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra - Reprodução
Diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, durante entrevista coletiva em Genebra Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

20/04/2020 13h53

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Abandonando seu caráter técnico e seu tom diplomático, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, fez um duro alerta contra governos, políticos e partidos que têm liderado disputas políticas por conta da pandemia.

"Esse vírus é o diabo", desabafou o etíope que, em sua coletiva de imprensa, pela primeira vez adotou uma postura emocional.

Tedros vem sendo criticado por sua resposta supostamente lenta diante dos dados vindos da China. O diretor da OMS, em resposta, alertou que era ele, e não outros, que sabia o que era uma guerra, mortes, fome e pobreza.

"Eu sei o que é isso. Talvez outros não saibam", disse.

"Fui orientado que aqui é uma entidade técnica e que não falamos de política. Mas quando a política afeta, preciso falar. Problemas políticos vão dar combustível para a pandemia", alertou.

Segundo ele, dois aspectos podem ser fundamentais: a falta de união nacional e a falta de uma cooperação internacional. "Se isso existir, podemos vencer. Se não, confiem em mim: o pior está por vir", alertou.

Irritado e visivelmente insatisfeito diante da falta de ação internacional, Tedros fez um apelo: "basta é basta".

"Esse é um vírus perigoso que vai aproveitar de brechas entre nós", afirmou. "De direita, esquerda ou centro, esse é o momento de união nacional", apelou.

O diretor-geral lembrou como havia alertado que o vírus seria um desafio até para países ricos. "Nós avisamos", insistiu.

Tedros fez desabafo um dia depois que uma reunião do G-20 não conseguiu chegar a um acordo sobre um plano de ação por conta de um veto dos EUA à declaração final. O governo americano se recusou a aprovar o texto que fazia referências ao papel central da OMS e da necessidade de que a entidade continuasse a ser financiada.

Num esforço para minar a credibilidade da OMS, o governo de Donald Trump passou a acusar a entidade de não ter alertado ao mundo sobre os riscos. Tedros nega e indica como pelo menos 15 funcionários do Centro do Controle de Doenças dos EUA estavam desde janeiro atuando dentro da OMS.

Segundo ele, muitos deles passaram as informações para seu governo, em tempo real. "Não ha segredos na OMS. Manter segredos é perigoso, é uma questão de saúde", disse.

Tedros apontou que o mundo tem hoje a tecnologia que não dispunha em 1918 para enfrentar a Gripe Espanhola. "Podemos prevenir o desastre de 1918", afirmou. Mas ele implorou para que os números de mortos deixem de ser tratados apenas como números. "São pessoas e precisamos entender isso rapidamente", afirmou.