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OMS: até acidente de carro de voluntário em teste de vacina é examinado

Representação de vacina CoronaVac contra Covid-19 - Governo do Estado de São Paulo/Divu
Representação de vacina CoronaVac contra Covid-19 Imagem: Governo do Estado de São Paulo/Divu

Colunista do UOL

11/11/2020 14h29

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Por segurança, até acidente de trânsito envolvendo uma pessoa que faça parte de testes clínicos poderia ser examinado, com uma eventual interrupção do desenvolvimento de uma vacina. O alerta foi dado pela OMS que, por seus protocolos, estipula que qualquer informação sobre a saúde de voluntários em um teste precisa ser considerada no processo.

A OMS, porém, deixa claro que, nesses casos, basta um simples esclarecimento para que o processo de desenvolvimento seja retomado.

No Brasil, nesta semana, a Anvisa interrompeu os testes da vacina contra a covid-19 por conta do suicídio de um dos voluntários envolvidos no processo. Mas, nesta quarta-feira, os testes já foram tomados.

"O mais importante é que as vacinas sejam seguras e que possam prevenir a doença", disse Kate O'Brian, representante da OMS. Segundo ela, as empresas firmaram um compromisso de que não abriram mão da segurança.

De acordo com a especialista, todo e qualquer dado por uma pessoa que participa de um teste clínico é alvo de consideração. "Se ele sofre um acidente de carro, isso entra na base de dados do teste", explicou. "É por isso que vimos que houve pausa em alguns locais", disse. "Mas isso é um sinal de que os testes estão sendo realizados com cautela. Nesse caso, há uma avaliação e, com o tema esclarecido, o processo pode continuar", indicou.

Ela insistiu, porém, que a vacina é "a resposta inteligente" para relançar economias. A OMS voltou a alertar que, para conseguir vacinar 1 bilhão de pessoas até o final de 2021, vai precisar de US$ 7 bilhões, valor que hoje não conta em seus cofres. No total, a entidade necessita de US$ 35 bilhões.

"Essa será a primeira vez na história que a vacina chegará a todos os países ao mesmo tempo", disse. "Em outros casos, uma vacina levou décadas para chegar aos mais pobres e não querem isso na pandemia", completou.

Na agência, ainda que o valor seja elevado, especialistas não se cansam de apontar que, a cada dez dias, o mundo perde US$ 35 bilhões no setor de comércio diante da pandemia.

Controle da doença precisará que vacina chegue a 70% do mundo

De acordo com a cientista chefe da OMS, Soumya Swaminathan, o mundo precisará vacinar 70% da população do planeta para dizer que controlou o vírus. "Isso vai levar um tempo", disse nesta quarta-feira. "Até lá, precisamos continuar a manter a distância e tomar as medidas adequadas", afirmou.

Segundo a OMS, não haverá uma vacina para todos em 2021 e o abastecimento será "apertado". A meta, porém, é de que 20% de cada país consiga ser vacinado, com idosos, trabalhadores do setor da saúde e doentes crônicos como prioridade.

A agência indica que, num primeiro momento, não será prioridade vacinar crianças, inclusive para que se saiba qual vai ser o impacto desses produtos.

A OMS também deixou claro que nenhuma empresa do mundo hoje terá a capacidade produtiva para fornecer vacinas para todos. "Vamos precisar de mais de uma vacina. Por isso precisamos continuar os testes", disse Kate O'Brian. "Vamos precisar ter um grupo robusto de vacinas", completou.

Hoje, existem 40 vacinas em fases de testes clínicos, sendo que dez delas estão em etapas avançadas. Para a OMS, uma vacina apenas será chancelada se garantir uma proteção acima de 50%.

No que se refere à segurança, alguns feitos são aceitáveis, como dor no local onde ela é administrada. Mas a agência insiste que os testes precisam continuar para que se saiba quais são os riscos, para saber por quanto tempo a imunidade existirá e se a vacina vai ser capaz apenas de proteger uma pessoa ou se também irá reduzir a transmissão.

Quem já teve covid-19 deve tomar vacina

De acordo com o protocolo da OMS, mesmo as pessoas que já foram contaminadas pela covid-19 deverão tomar a vacina, enquanto milhares de pacientes terão de continuar a ser acompanhados por especialistas para que se entenda o impacto.

Um dos esforços ainda de empresas é de desenvolver produtos, no futuro, que permitam uma proteção com apenas uma dose. Hoje, a previsão é de que a imunidade exigirá duas doses, o que amplia o desafio de produção e distribuição.

Everest

A OMS estima que, em 2021, o mundo terá uma gama maior de vacinas para escolher. Mas deixa claro que apenas sua produção é apenas parte da operação. "Entregar vacina é o próximo grande desafio", disse Kate.

"Descobrir uma vacina é apenas montar a base aos pés do Everest. Subir o Everest é entrega-las", disse.

Segundo ela, governos de todo o mundo terão de implementar amplas medidas para conseguir fornecer o produto para idosos, grupos de risco e trabalhadores do setor de saúde, treinar as pessoas que irão aplicar bilhões de doses e ainda criar um sistema sofisticado para permitir que as vacinas sejam estocadas em refrigeradores de alta potência.