Interrogados negam ter usado sinalizador dentro da boate de Santa Maria (RS), diz polícia
Nenhuma das pessoas ouvidas até o momento --inclusive os presos temporariamente-- pelo delegado da Polícia Civil de Santa Maria, Marcelo Arigony, assumiu ter usado um sinalizador dentro da Boate Kiss, onde um incêndio matou ao menos 231 pessoas na madrugada deste domingo (27). De acordo com Arigony, até o momento, a investigação aponta que o incêndio começou em decorrência do uso de um sinalizador e as portas da casa noturna não eram adequadas para saída em massa das pessoas. As apurações preliminares indicam que foram usados três sinalizadores durante a festa: dois no chão e um no alto, virado em direção ao teto.
“Ninguém assumiu ter soltado o sinalizador. [Nos depoimentos, uma pessoa] falou [quem acendeu o artefato], mas nós não vamos adiantar isso ainda. Se temos quatro pessoas segregadas, é porque temos algum fundamento para isso”, disse o delegado.
O delegado ressaltou que existem dois tipos de sinalizadores, sendo um deles, o de fogo frio, ideal para ser usado em ambientes fechados. “Se esse fato, que nos parece temerário, de ter jogado um sinalizador dentro de uma boate, que nos parece absurdo, pode ser um elemento desse de fogo frio e a nossa ideia preliminar de que a pessoa tinha agido de forma temerária, pode ser desmontada”.
De acordo Arigony, a polícia já ouviu mais de 20 pessoas, cumpriu mandados de busca e apreensão e prendeu provisoriamente quatro pessoas. “Não sabemos se haverá mais prisões. Não investigamos pessoas [fatos]. Vamos esclarecer tudo e os responsáveis terão a sua responsabilização”.
“Vamos fazer tudo que for preciso, reconstituição, levantamentos, plantas, já estamos fazendo. Estamos fazendo uma perícia intensa, vamos manter o local isolado, se preciso por um mês inteiro”, destacou.
Música nega responsabilidade
O músico que teria iniciado o incêndio na boate de Santa Maria na madrugada deste domingo negou que tenha sido o responsável pela tragédia. Segundo o delegado da Polícia Civil, Marcelo Arigony, o artista, cuja identidade não foi revelada, "não assumiu a culpa em suas declarações" de hoje e negou qualquer responsabilidade no acidente.
Santa Maria fica na região central do RS
Sobreviventes da tragédia na boate Kiss relataram que o incêndio começou quando um dos integrantes da banda Gurizada Fandangueira usou um efeito pirotécnico cujas faíscas atingiram a espuma utilizada como isolante acústico no teto do estabelecimento.
Dois músicos da banda foram detidos hoje de forma preventiva, assim como os dois donos da boate, para evitar que possam interferir nas investigações.
Além do uso de um efeito pirotécnico dentro de um local fechado, a tragédia ganhou intensidade devido ao pânico provocado pela rápida expansão da fumaça e à suposta decisão dos seguranças de fechar as portas para evitar que o público saísse sem pagar, segundo os primeiros relatos de testemunhas.
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O chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul, Ranolfo Vieira Júnior, disse que todas essas possibilidades são matéria de investigação e afirmou ter "a absoluta certeza" que a tragédia vai ser esclarecida.
"A investigação vai passo a passo e não queremos trabalhar com prazos", ressaltou o chefe policial, que acrescentou que o rumo dos trabalhos depende da "prova pericial".
Concretamente, se referiu a comprovar se efetivamente foi o efeito pirotécnico a causa do incêndio e se o local não contava com saídas de emergência. "O que hoje pode parecer temerário amanhã pode não ser", comentou.
Prisões
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul confirmou a prisão temporária de um dos sócios da boate Kiss, em mandado cumprido às 13h20 desta segunda-feira (28). Segundo um dos delegados do caso, Antonio Firmino Neto, Mauro Hoffmann foi apresentado por seu advogado na Delegacia Regional da cidade.
Vieira Júnior confirmou ainda que o empresário Mauro Hoffmann, um dos donos da boate que se entregou hoje, permanecerá sob detenção da mesma forma que seu sócio, Elissandro Spohr, preso esta manhã, e os dois integrantes da banda envolvidos, que não tiveram os nomes revelados.
Mais cedo, depois das 11h, a Polícia Civil havia confirmado as prisões de outro proprietário da boate e de dois músicos da banda Gurizada Fandangueira. O grupo se apresentava no local, na madrugada deste domingo.
"Eles assumem que usaram pirotecnia no show, mas, obviamente, tentam se livrar da responsabilidade pelo caso", declarou o delegado.
Também mais cedo, o advogado do empresário Elissandro Callegaro Spohr --sócio minoritário da Kiss--, Jader Marques, confirmara a prisão do cliente, internado desde ontem (27) em um hospital de Cruz Alta (RS) para desintoxicação de fumaça inalada durante o incêndio.
De acordo com Marques, "Kiko", como Spohr é conhecido, teve de ser hospitalizado devido à inalação de fumaça e está sob custódia policial no hospital.
"Estou indo até ele, pois a informação que recebi foi a da prisão", disse. Indagado se vai recorrer da medida, o advogado resumiu: "Tenho que analisar ainda, pois o Judiciário no Estado só funciona a partir do meio dia", justificou Marques, que completou: "O Kiko está absolutamente à disposição da Justiça", resumiu.
Conforme a Polícia Civil, os dois integrantes da banda foram presos nos municípios gaúchos de Mata e São Pedro do Sul.
Governador pede "apuração rigorosa"
Também hoje cedo, o governador Tarso Genro (PT) disse em entrevista à rádio Gaúcha de Santa Maria que seguiria à cidade da tragédia, juntamente com o procurador-geral de Justiça do Estado, Eduardo Veiga, para acompanhar os trabalhos de investigação do Ministério Público e da Polícia Civil sobre o incêndio.
"Agora é o momento de tomarmos todas as providências para apurar responsabilidades , que têm que ser investigadas profundamente pelo MP, e, depois pelo Judiciário", disse Genro. "Disponibilizaremos [ao MP e à Polícia] todas as condições necessárias para que tenham uma apuração rigorosa", definiu o governador, que preferiu não adiantar eventuais responsabilizações. "Temos que ver se tivemos ações ou omissões que determinem isso", resumiu.
Genro disse ainda que não descarta a criação de uma força-tarefa estadual para auxiliar o município "não só a melhorar a legislação, como também para aumentar fiscalização, se for o caso", em casas noturnas. (Com reportagem de Janaina Garcia e Agência Brasil)
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