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Polícia cerca antigo Museu do Índio para desocupação; homem é detido

Do UOL, em São Paulo

22/03/2013 05h14Atualizada em 22/03/2013 09h28

Cerca de 50 homens do Batalhão de Choque cercam o prédio que abrigava o antigo Museu do Índio, próximo ao estádio do Maracanã, na zona norte do Rio de Janeiro, desde às 3h desta sexta-feira (22). Os policiais militares usaram bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para dispersar as pessoas que estão do lado de fora, e pelo menos um blindado e outros carros da policia foram destacados para a operação de despejo. Um homem chegou a ser detido pela polícia.

A assessora de comunicação da Secretaria de Assistência Social do Governo do Estado, Paula Pinto, disse na manhã de hoje que o "primeiro índio" estava saindo do local. Segundo ela, o órgão não vai mais se manifestar sobre o caso. "Agora é com a polícia. E os índios serão levados para ondem devem ficar, que é o hotel popular", disse.

A polícia está no local para cumprir um mandado de desocupação expedido pela Justiça Federal na última sexta-feira (15). O prazo dado para que os cerca de vinte índios da Aldeia Maracanã --que moram no lugar-- deixem o prédio terminou nesta quinta-feira (21) .

Um grupo de manifestantes sentou-se no meio da avenida Radial Oeste, uma das principais da cidade, que liga a zona norte ao centro. O clima é tenso no local, à espera do oficial de Justiça que deverá trazer a ordem de imissão de posse.

Do lado de dentro do museu, índios, que ocupam o prédio desde 2006, seguram arcos e flechas e prometem resistir. Entre os indígenas, há mulheres, idosos e crianças.

Negociação

O dia foi de negociações entre os indígenas e a Justiça Federal. Em reunião na noite de ontem, os índios decidiram que só vão desocupar pacificamente o prédio se o local for transformado em um centro cultural indígena. Eles não aceitam que no imóvel seja instalado o Museu Olímpico, como quer o governo fluminense. Um dos representantes da Aldeia Maracanã, Afonso Apurinã, disse que os índios não pretendem abrir mão da posse do imóvel e vão resistir a uma eventual invasão.

"Nós queremos a manutenção desse espaço. Esse lugar é histórico, faz parte da nossa cultura e da nossa vida. Não iremos deixá-lo em hipótese alguma", afirmou Apurinã.

O governo propõe levar os índios para um hotel na região central do Rio, enquanto preparam um centro de referência indígena que, inicialmente, ficaria próximo à Quinta da Boa Vista. Em encontro com o secretário Zaqueu Teixeira, os líderes indígenas rejeitaram a proposta de construir o centro cultural em outro local e entregaram um documento, assinado por todos os ocupantes do prédio, no qual pedem que o imóvel seja recuperado e usado exclusivamente para a promoção da cultura indígena.

Apurinã declarou ainda que o defensor público federal Daniel Macedo - presente ao encontro - solicitou mais um dia de prazo para que os índios analisem a proposta do Estado, mas não teve sucesso. Macedo disse que "a situação é preocupante". "Eu temo por um embate. A polícia tem que ter muita serenidade para retirar os índios do terreno."

Os índios cercaram o prédio do antigo Museu com uma espécie de barricada, fechando as portas e colocando pedras e paus no portão de entrada. O acesso ao terreno é feito apenas por meio de uma escada apoiada ao muro.

Construído em 1862, o edifício --que pertencia à Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), do Ministério da Agricultura-- abrigou o SPI (Serviço de Proteção aos Índios), depois a Funai (Fundação Nacional do Índio) e, até 1978, o Museu do Índio. Recentemente, foi comprado pelo governo do Estado, que pretende derrubá-lo com o objetivo de melhorar a mobilidade urbana no entorno do Maracanã tendo em vista a Copa do Mundo de 2014.

Radial Oeste é liberada, mas trânsito na região é lento

Por causa da intensa movimentação de policiais no local, a Radial Oeste chegou a ser bloqueada por cerca de meia-hora, no sentido centro, nas imediações do antigo Museu do Índio, na manhã desta sexta-feira (22), de acordo com o Centro de Operações da Prefeitura do Rio. O trânsito na via foi liberado por volta das 7h.

O bloqueio tornou a situação do trânsito na região ainda mais complicada. Por volta das 5h, o tráfego no local já estava comprometido devido a uma manifestação de estudantes realizada em frente ao antigo museu. (Com Agência Brasil e BBC Brasil)