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Após ameaças, PMs fazem segurança de terreno para índios na zona oeste do Rio

Os 12 índios que estavam no Hotel Santanna chegaram ao terreno onde vão viver na manhã de domingo (24) - Luiz Roberto Lima/Futura Press
Os 12 índios que estavam no Hotel Santanna chegaram ao terreno onde vão viver na manhã de domingo (24) Imagem: Luiz Roberto Lima/Futura Press

Julia Affonso

Do UOL, no Rio

25/03/2013 15h38Atualizada em 25/03/2013 17h04

Na entrada do abrigo temporário em que estão vivendo os índios removidos da Aldeia Maracanã, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro, um carro da Polícia Militar com dois policiais faz a segurança dos 12 indígenas que aceitaram o acordo com o governo do Estado. Segundo o índio Guarapirá, da etnia Pataxó, todos os que se mudaram pra o terreno estão sendo ameaçados pelos que não aceitaram o acordo.

Os policiais confirmaram que estão no local devido às ameaças denunciadas pelos índios. O 18º BPM (Batalhão da Polícia Militar) afirmou, no entanto, desconhecer esta informação. Não há crianças, adolescentes ou idosos habitando o local.

“Temos recebido telefonemas de manifestantes e outros índios nos ameaçando. Eles ligam e nos chamam de traidores. Prefiro não falar quais são as ameaças, por segurança”, afirmou Guarapirá. “Tentamos dialogar com os outros índios, mas fomos humilhados por eles. Nós aceitamos o acordo com o governo para dar continuidade ao nosso projeto de levar a cultura indígena para as escolas públicas e particulares”, contou.

Na manhã de domingo (24), os 12 índios que estavam no Hotel Santanna, no centro da cidade, se mudaram para um alojamento temporário na antiga Colônia Curupaiti, em Jacarepaguá. O local faz parte de um complexo que trata de pacientes com hanseníase e tem um hospital e um pavilhão onde moram diversas pessoas que tiveram a doença. Segundo a coordenação do hospital, não há risco de contaminação.

No abrigo temporário, foi montada uma estrutura com seis contêineres, que servem como quartos, cozinha e banheiros feminino e masculino.

Na primeira noite, choveu forte na região, e o local ficou alagado. Na manhã desta segunda-feira (25), ainda era possível ver algumas poças de água no terreno.

“Pedimos para alguém do governo vir aqui colocar o contêiner da cozinha em uma posição mais alta para a água não entrar. Os outros já estão em um nível maior. Vivemos momentos muito turbulentos na aldeia Maracanã, sem saber o que ia acontecer”, disse Guarapirá. “Melhorou, mas por enquanto a parte boa só vai acontecer quando a nova moradia for feita.” Ele será o vice-cacique da aldeia, que será construída em um terreno de 2.000 m² no complexo.

Batizada de Mucamucaú, que em Pataxó significa “união de todos os povos”, a aldeia ficará pronta em seis meses, segundo Guarapirá. No mesmo local, também ficará o Centro de Referência Indígena. A Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos, responsável por negociar a mudança dos índios para o local, informou à reportagem que trabalha com um período de no máximo 18 meses para que ambas as construções fiquem prontas.

Pertences

Com a mudança concluída, o próximo passo dos índios que se mudaram para Jacarepaguá é pegar os pertences que foram levados para um depósito público em Irajá, zona norte da cidade. Segundo a Secretaria de Assistência Social, todos os objetos serão levados para o abrigo na tarde desta segunda-feira.

“Nós deixamos muitas malas de roupa e de artesanatos. Vivemos um período de terror psicológico na Aldeia Maracanã. Os outros índios e alguns manifestantes faziam muita pressão para que a gente não aceitasse o acordo. Esta foi a primeira noite que eu dormi direito, depois de uma semana com tudo isso acontecendo e sem saber a hora que a polícia ia entrar”, contou Guarapirá.

Nos próximos dias, os índios farão interações com os moradores do complexo. Vão ensinar aos vizinhos um pouco da cultura indígena e de cuidados com a natureza em oficinas organizadas por eles. “A Aldeia Maracanã tinha a história da nossa gente, dos nossos antepassados. Por nós, ficaríamos ali e o museu seria sobre o nosso povo, e não olímpico. Como não deu, vamos construir a nossa vida aqui, inaugurar nossa aldeia e pronto”, explicou o vice-cacique.