Topo

MP investiga 'lucro exacerbado' de empresas de ônibus em Porto Alegre

Flávio Ilha

Do UOL, em Porto Alegre

05/07/2013 10h40

O MPC (Ministério Público de Contas) e o TCE (Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul) estão apurando indicativos de “lucros exacerbados”, superiores ao que determina a lei, por parte dos consórcios de ônibus que operam o sistema de transporte coletivo de Porto Alegre.

Uma inspeção realizada pelo TCE apontou que a rentabilidade média das empresas, que consta no item “remuneração de capital” da composição tarifária, avançou de 6,59% em 2010 para 7,47% na planilha de 2013.

Em números absolutos, significa que o ganho das empresas – descontados investimentos com renovação de frota, depreciação de veículos e pagamento de pessoal – cresceu R$ 16 milhões em quatro anos. A remuneração, de acordo com a lei municipal que regulamenta o sistema, deve ser de no máximo 6,33%. Em alguns casos, a rentabilidade apurada chegou a 19%.

O valor extra arrecadado pelas empresas é igual ao que será renunciado pela prefeitura em ISS (imposto sobre serviços) para reduzir a tarifa dos R$ 2,85 para os atuais R$ 2,80.

LEIA MAIS

Deputados arquivam PEC 37, proposta que tira poderes investigativos do MP; entenda
Pela primeira vez, STF manda prender deputado que foi condenado por corrupção
Câmara aprova 75% dos royalties do petróleo para educação e 25% para saúde
Após protestos, Haddad cancela licitação dos transportes
País teve protesto em 438 municípios de todos os Estados, diz CNM
Governo desiste de constituinte, mas mantém ideia de plebiscito sobre reforma política

Se for levado em consideração um fluxo médio mensal de 20 milhões de passageiros, informado pela Associação dos Transportadores de Passageiros (ATP), o lucro anual das empresas passaria de R$ 38,7 milhões em 2010 para os R$ 54,7 milhões projetados em 2013, tendo como base a tarifa de R$ 3,05 que passou a vigorar em março.

No último dia 4 de abril uma liminar judicial determinou a redução da tarifa para R$ 2,85 – a decisão foi confirmada pelo Tribunal de Justiça na semana passada. Nesta quinta-feira (4), uma nova redução devido à isenção do ISS baixou a passagem para R$ 2,80. Mesmo com a nova tarifa, o lucro das empresas ainda terá avançado cerca de R$ 11 milhões em relação ao exercício de 2010, segundo cálculos preliminares.

Incremento sem justificativa

O procurador de Contas do Estado, Geraldo Da Camino, disse que um incremento na margem de lucro das empresas não se justifica, ainda mais se itens como a renovação da frota e os custos operacionais já fazem parte da composição tarifária e são pagas pelo usuário.

Segundo o procurador, a composição da tarifa já inclui um percentual referente à depreciação do capital investido pelas empresas – ou seja, os usuários do sistema já pagam pelo desgaste dos ônibus usados para o transporte de passageiros. Em 2013 esse item representa 9,81% da tarifa.

“Os dados do TCE não foram baseados em contabilidade e, portanto, não podem ser considerados uma auditagem. Estamos aprofundando essa investigação. Mas a planilha de custos prevê uma remuneração que, em princípio, é bem diferente do que foi realizado”, disse Da Camino.

 

As empresas

O gerente executivo da ATP, Luiz Mário Magalhães, justificou que as empresas de ônibus trabalham com a lógica do lucro e que utilizam “todos os artifícios” que a economia possibilita para auferir resultados. “Até o final do ano passado nosso lucro girava nessa faixa de 7% e 8%. Mas com a tarifa atual é zero, não tem mais, estamos operando com déficit”, afirmou o executivo.

Magalhães disse que não sabe quanto as empresas lucram e que a taxa de rentabilidade indicada nas planilhas de custo é apenas “virtual”. Segundo ele, as empresas pretendem vender 130 ônibus dos 161 da frota de reserva do sistema para “fazer caixa” e enfrentar o deficit operacional.

Além disso, de acordo com Magalhães, as empresas também não vão renovar a frota da capital enquanto persistir o que chamou de “insuficiência tarifária”. Por lei, os consórcios que operam o sistema de transporte público em Porto Alegre precisam renovar 10% dos cerca de 1.700 ônibus da cidade a cada ano.

Nenhum ônibus novo

“Enquanto o equilíbrio econômico-financeiro do sistema não for sanado, não temos como comprar nenhum carro novo sob pena de comprometer a qualidade dos que estão operando”, afirmou. Em 2012, o sistema incorporou 200 novos veículos à frota da capital. Este ano, o sistema não concretizou a compra de nenhum ônibus novo.

Numa análise prévia, o diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Cappellari, adiantou que a solicitação da ATP para vender ônibus da frota reserva será rejeitada, já que coloca em risco a qualidade do serviço.