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Após tumulto, desocupação de favela no Rio tem mais de 20 detidos

Gustavo Maia

Do UOL, no Rio

11/04/2014 11h56Atualizada em 11/04/2014 16h32

A Polícia Civil do Rio de Janeiro informou que pelo menos 26 pessoas foram conduzidas à delegacia no decorrer da reintegração de posse de um terreno abandonado da empresa Oi, na manhã desta sexta-feira (11), no Engenho Novo, na zona norte da capital fluminense.

Na maior apreensão, na rua Nilo Teixeira, nas imediações da área desocupada, 21 pessoas, entre elas seis menores, foram detidas para averiguação quando realizavam um saque dentro de um supermercado. A corporação disponibilizou um ônibus para fazer o transporte do grupo.

Eles foram levados para delegacia do Engenho Novo (25ª DP), onde prestam depoimento. Os que não tiverem mandado de prisão em aberto devem ser liberados. De acordo com o delegado William Lourenço Bezerra, os suspeitos afirmaram ter entrado no supermercado em busca de "um lugar seguro".

O proprietário do estabelecimento, porém, em entrevista à "TV Globo", afirmou que foram roubados monitores, impressoras, entre outros equipamentos e produtos. 

Bezerra explicou que, além dos 21 detidos no supermercado, um homem foi autuado em flagrante por dano ao patrimônio e lesão corporal, por ter jogado uma pedra em um ônibus e ferido o motorista do veículo, e outros dois por furto, flagrados saindo de um supermercado da região com dois carrinhos contendo bebidas alcoólicas, energéticos e caixas de chocolate

No início da tarde, um homem que morava no prédio desocupado e tinha mandado de prisão contra si, foi preso e levado à delegacia. Mais cedo, um homem foi detido por, supostamente, durante um confronto entre moradores da favela e PMs, ter jogado uma pedra em um policial. Ele assinou um termo circunstanciado por lesão corporal e vai ser liberado ainda nesta tarde.

O estudante de física da UFRJ (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) Esteban Crescente, 26, foi detido sob suspeita de jogar uma pedra em um policial militar. Após prestar depoimento, o universitário afirmou ter ido para o local da desocupação a fim de dar apoio aos moradores da favela da Telerj, e negou ter lançado qualquer objeto em direção à PM.

"A polícia mais uma vez agiu com truculência contra quem só queria ter onde morar e mais uma vez tentou criar provas", declarou logo depois de prestar depoimento na delegacia e ser liberado.

O terreno da Oi --formado por edifícios e galpões-- era ocupado há 11 dias por famílias vindas de comunidades próximas e de outras regiões, que batizaram o local de "favela da Telerj". Durante a ação da PM, houve confronto com ocupantes do local, e foram usadas bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha, entre outras armas não letais.

Mais cedo, um repórter do jornal "O Globo" recebeu voz de prisão quando trabalhava na cobertura da desocupação. O delegado da 21ª DP informou que ele não passou pelo distrito policial situado no Engenho Novo.

Segundo "O Globo", o jornalista foi preso por fotografar a ação dos policiais militares. Ele teve o celular quebrado. Outros repórteres e fotógrafos que trabalhavam no local foram agredidos por PMs "fisicamente e verbalmente", de acordo com a Agência Brasil. A PM ainda não se manifestou a respeito dos fatos relatados por profissionais de imprensa.

Clima tenso

O clima é muito tenso na reintegração de posse, determinada pela Justiça, de um terreno vazio da empresa Oi, no Engenho Novo, na zona norte do Rio de Janeiro. A Polícia Militar, que chegou ao local por volta de 5h desta sexta-feira (11), entrou em confronto com os ocupantes do local.

Após uma das lideranças dos manifestantes ser presa, o confronto se acirrou. Ocupantes do terreno chegaram a jogar um coquetel molotov em direção aos militares, e a polícia reagiu imediatamente. Foram usadas bombas de gás lacrimogêneo e outras armas não letais a fim de dispersar a multidão.

Maioria dos ocupantes diz não ter condições de pagar aluguel

Os moradores da "favela da Telerj", como vinha sendo chamada a ocupação, começaram a atear fogo em um dos edifícios que compõem o espaço. Os ocupantes também queimaram um carro da PM, três ônibus e dois caminhões, de acordo com o Corpo de Bombeiros.

Uma moradora afirmou à reportagem do UOL que três crianças haviam morrido durante a ação da Polícia Militar, mas a informação foi negada pela corporação. O Corpo de Bombeiros também informou não ter encontrado vítimas fatais durante o trabalho de atendimento a feridos. Em nota, os militares informaram que duas crianças foram socorridas após inalarem gás lacrimogêneo. Elas já foram liberadas. (Com Agência Brasil)