Entenda em 5 pontos o que se sabe da chacina no Guarujá por morte de PM
Pelo menos 14 pessoas morreram em decorrência da Operação Escudo, na Baixada Santista, litoral de São Paulo, desde o fim de semana. A ação policial teve início após a morte do soldado Patrick Reis, da Rota, na quinta-feira (28), no Guarujá. Ontem (1), uma cabo da PM foi baleada em Santos.
Moradores negam que tenha havido confronto. Veja o que se sabe até agora.
1. O que dizem os moradores
Moradores do Guarujá relatam que os PMs prometeram assassinar 60 pessoas em comunidades na cidade. O UOL teve acesso a áudios em que moradores afirmam que agentes da Rota entraram encapuzados nas comunidades, inclusive invadindo residências. Segundo os relatos, os policiais também teriam torturado um dos mortos, que estaria com marcas de queimaduras de cigarro no corpo.
As denúncias estão sendo acompanhadas pela Ouvidoria da Polícia, pela Comissão de Direitos Humanos da Alesp (Assembleia de São Paulo) e pela Comissão de Direitos Humanos da OAB-SP.
Ao UOL, o ouvidor Cláudio Silva reclamou que ainda não conversou com o secretário estadual da Segurança Pública, Guilherme Derrite. Os números de vítimas registrados pela ouvidoria e pela Secretaria da Segurança Pública divergem.
Recebemos uma série de relatos de moradores e de lideranças sociais. O parente de uma das vítimas contou que os policiais disseram que morreriam 60 pessoas. Também recebemos a informação de que as casas estão sendo invadidas por policiais encapuzados, oferecendo uma série de aterrorizamentos. Até adolescentes e crianças estão sendo abordados de forma bastante agressiva.
Cláudio Silva, ouvidor da Polícia de São Paulo
Famílias de vítimas têm medo de falar, diz presidente de Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana. De acordo com Dimitri Sales, conselho tem encontrado dificuldade em colher denúncias e conversar com familiares de vítimas da chacina.
2. Quem são os mortos
Até o começo da noite desta terça (1), o governo não informou a identidade de todas as vítimas. Na segunda (31), foram divulgados quatro nomes e os antecedentes criminais deles.
Boletins de ocorrência registrados no fim de semana indicam sete mortos pela polícia — todos no Guarujá. Nesta terça, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) confirmou duas mortes em Santos. A Baixada Santista é um território estratégico para o crime organizado.
Um familiar do vendedor ambulante Felipe Vieira Nunes, 30, disse que ele foi torturado e que vizinhos ouviram gritos de socorro. Nunes morreu no fim de semana. O corpo foi deixado em um barraco com marcas de queimaduras de cigarro. Sem citar nomes ou casos específicos, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, nega que houve tortura.
Um homem com esquizofrenia teria sido morto a tiros por dois PMs. Ele teria se envolvido em uma discussão no estacionamento de um supermercado — estaria com uma faca na cintura e muito agitado.
Vendedor morto. Moradores do bairro de Morrinhos relatam que o comerciante Filipe do Nascimento, 22, morreu na noite de anteontem ao sair de casa para fazer compras em um supermercado da região. A população da região também relatou que viu policiais obrigando que outros moradores entrassem em casas vazias do bairro para atirar.
3. Quem foi preso
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Quero receber32 pessoas foram presas e 11 armas foram apreendidas na investigação sobre a morte do soldado da Rota, segundo a Secretaria da Segurança Pública. Tarcísio afirmou que dez pessoas foram presas só no fim de semana.
O suspeito de ser o atirador se entregou à polícia na zona sul de São Paulo no domingo (30). Erickson David, conhecido como Deivinho, negou ter matado o soldado da Rota e diz ter se entregado para provar sua inocência. Ele tem três passagens por roubo e uma por formação de quadrilha.
A Polícia Civil também prendeu, na madrugada de hoje, o irmão de Deivinho, Kauã Jason da Silva, por participação no crime. Ele se apresentou para prestar depoimento e já tinha um mandado de prisão em aberto desde ontem, quando a Justiça decretou a sua prisão temporária.
Segundo o colunista do UOL Josmar Jozino, Kauã aparece em uma foto segurando uma pistola automática. Investigadores disseram, na condição de anonimato, que a arma é a mesma utilizada na morte do soldado Reis.
Outro suspeito identificado como Marco Antônio de Assis Silva, 25, o Mazzaropi, já tinha sido preso na sexta-feira. Em depoimento à Polícia Civil, ele disse que quem atirou no PM foi Deivinho, que, por sua vez, declarou ter ido ao local apenas para comprar drogas.
Um croissant ajudou a identificar Deivinho. Equipes das polícias Civil e Militar encontraram a nota fiscal do salgado no local em que o soldado foi baleado.
Erickson David da Silva, o Deivinho, teria confundido o veículo com o de outra unidade policial antes de atirar, segundo as investigações. Ele temia ser morto pela PM por vingança ou pelo próprio PCC, segundo fontes ligadas ao caso. Por isso, se entregou à polícia no último domingo.
O tiro que matou o soldado da Rota teria sido disparado de um "bunker" construído pelo PCC. O PM foi atingido no peito pelo mesmo disparo que acertou a mão do seu colega. Ambos faziam patrulhamento na região.
Quero falar para o Tarcísio e o Derrite [secretário da Segurança Pública] parar de fazer a matança aí, matando uma pá de gente inocente, querendo pegar minha família, sendo que eu não tenho nada a ver. Estão me acusando aí. É o seguinte vou me entregar, não tem nada a ver.
Deivinho em vídeo antes de ser preso
4. O que dizem as autoridades
Tarcísio disse que as mortes ocorreram em confronto, contrariando versão da Ouvidoria. Na segunda, o governador afirmou estar "extremamente satisfeito" com a ação da polícia e lamentou a morte do soldado da Rota.
A partir do momento em que a polícia é hostilizada, a partir do momento em que a autoridade policial não é respeitada, infelizmente há o confronto. A gente não deseja o confronto de jeito nenhum. Tanto é que tivemos 10 prisões. Aqueles que resolveram se entregar à polícia foram presos. Não houve hostilidade. Não houve excesso. Houve uma atuação profissional.
Tarcísio de Freitas, governador de SP
A polícia diz ter "provas testemunhais" de que Deivinho é o atirador. Em relação ao vídeo em que ele afirma não ter relação com o crime, o secretário Guilherme Derrite diz se tratar de uma "narrativa".
A polícia encontrou uma pistola 9 mm que teria sido usada na morte do policial militar. Além disso, segundo a inteligência do órgão, também já havia sido colhida uma cápsula 9 mm no local dos fatos. O disparo foi feito a uma distância entre 50 e 70 metros, segundo fontes policiais informaram à Agência Estado, por um homem que foi definido pela polícia como um "atirador" (ou sniper).
São narrativas, depois que esse assassino foi preso vira bonzinho, coitadinho. Na verdade ele é o maior causador dessa tragédia que aconteceu na vida do soldado Reis (...) Essa versão de indivíduo que foi torturado não passa de narrativa para nós. Não chegou oficialmente nenhuma informação, indício, muito menos materialidade.
Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública
O secretário afirmou que imagens e áudios das câmeras dos PMs serão analisadas. "Como sempre foi feito", disse.
O ouvidor da Polícia diz que o Guarujá vive clima de terror.
"A vingança sempre pesa nos mais pobres", afirmou Anielle Franco. Em entrevista ao UOL, a ministra da Igualdade Racial lamentou a morte do policial da Rota Patrick Bastos Reis e prestou solidariedade a todas as famílias que tiveram seus filhos assassinados.
5. Quem era o PM da Rota assassinado
O soldado Patrick Bastos Reis, 30, foi baleado durante patrulhamento na comunidade Vila Zilda, no Guarujá. "Os PMs do 1º Batalhão de Choque faziam patrulhamento pela comunidade quando foram atacados por criminosos armados que efetuaram disparos de arma de fogo", informou a SSP em nota.
Natural de Santa Maria (RS), Patrick era filho único e pai de um menino de três anos. A mãe do policial, a corretora de imóveis Cláudia Reis, diz que a paixão do filho pela Polícia Militar começou aos 7 anos, quando o garoto viu pela primeira vez um desfile em comemoração à Independência do Brasil.
Frequentador da boate Kiss. Na adolescência e juventude, Patrick frequentava a boate Kiss, em Santa Maria. No dia do incêndio na boate que matou 242 pessoas, Patrick iria para o local, mas desistiu horas antes para cuidar da avó.
Um cabo de 39 anos que o acompanhava também foi atingido e levado a uma UPA. A vítima ferida está em observação e não corre risco de morrer.
*Com reportagem publicada em 31/07/2023
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