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Mais agressivo, Obama reage e ataca Romney no 2º debate presidencial dos EUA

Barack Obama e Mitt Romney se enfrentaram no segundo debate da corrida eleitoral dos EUA - Shannon Stapleton/Reuters
Barack Obama e Mitt Romney se enfrentaram no segundo debate da corrida eleitoral dos EUA Imagem: Shannon Stapleton/Reuters

Do UOL, em São Paulo

16/10/2012 23h39Atualizada em 17/10/2012 15h40

Após ser bastante criticado pela imprensa americana no primeiro confronto por mostrar uma postura apática e com sua reeleição ameaçada, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, voltou a ficar cara a cara com o republicano Mitt Romney nesta terça-feira (16), durante o segundo debate eleitoral na Universidade Hofstra, em Hempstead, Nova York, mas com uma postura muito mais firme e agressiva.

Enquanto Romney manteve a estratégia do primeiro confronto e voltou a criticar as políticas do atual governo, o presidente se mostrou mais combativo perante o adversário, chegou a chamá-lo ironicamente de "homem do carvão" e criticou duramente os planos de governo do republicano.

"O governador Romney diz que tem um plano de cinco pontos. Ele não tem um plano de cinco pontos. Ele tem um plano de um ponto e este é assegurar que aqueles que estão no topo entrem no jogo com regras diferentes", condenou Obama, que relacionou essa estratégia à sua filosofia no setor privado, como governador e como candidato à presidência.

Obama, diferente do primeiro debate, encontrou um gancho em cada uma de suas falas para criticar Romney, que não hesitou em contra-atacar. Não é a toa que os dois candidatos interromperam um ao outro várias vezes, acusando-se mutuamente de desonestidade, enquanto discutiam temas como criação de emprego e política energética, 11 dias depois de seu primeiro debate, no qual o desempenho do presidente foi amplamente criticado.

Um embate bastante tenso que precisou repetidamente da interferência da mediadora, a jornalista Candy Crowley, da emissora CNN, que advertiu tanto o republicano quanto o democrata.

Ambos os candidatos percorreram o palco para falar diretamente com os respectivos autores das perguntas e às vezes se aproximaram. Durante 90 minutos, Obama, usando terno escuro e gravata vermelha, e o ex-governador de Massachusetts, usando terno também escuro e gravata azul com listras, responderam a perguntas feitas por um grupo de 82 eleitores indecisos.

Romney acusou seu rival de dirigir uma economia estagnada. "A classe média tem sido esmagada ao longo dos últimos quatro anos e os empregos têm sido muito escassos", disse o ex-governador de Massachusetts. "Em quatro anos, o presidente não fez o esforço que era necessário para trazer o emprego de volta."

Em certo momento, Romney chegou perto de Obama para perguntar se licenças e autorizações para perfurações no setor de energia em terreno federal haviam sido reduzidas durante o seu governo. Obama rejeitou a ideia de que Romney era a favor de encontrar mais fontes de energia como carvão e gás natural.

"Quando você era governador de Massachusetts, você esteve em frente a uma usina de carvão, apontou para ela e disse que essa usina mata... E agora, de repente, você é um grande campeão do carvão", disse Obama .

Romney, um ex-executivo muitas vezes acusado de não se conectar com as pessoas comuns, permaneceu na ofensiva, mas frequentemente pediu mais tempo ao moderador para responder a Obama.

Respondendo rápida e ferozmente aos comentários de Romney, olhando diretamente para seu oponente, o presidente defendeu seu plano de energia limpa e declarou: "o plano dele é deixar as companhias de petróleo escreverem a política energética dos Estados Unidos".

Os candidatos mais uma vez discordaram sobre economia. Os dois candidatos voltaram a se enfrentar, com Obama acusando o adversário de tentar cortar impostos exclusivamente dos ricos e Romney insistindo que seu plano de cortar impostos em 20% beneficiaria, sobretudo, a classe média.

Mitt Romney revelou também que deseja firmar mais acordos de livre comércio entre os Estados Unidos e a América Latina. "Quero agregar mais acordos de livre comércio, porque assim teremos mais comércio", afirmou Romney em referência aos negócios com a América Latina.

O republicano assinalou que o comércio entre Estados Unidos e América Latina tem crescido em 12% de maneira consistente nos últimos anos, uma cifra que aumentará com força com a assinatura de novos tratados de livre comércio. Os Estados Unidos têm atualmente acordos de livre comércio com México (Nafta), América Central, Panamá, Colômbia, Peru e Chile.

Em uma das perguntas mais constrangedoras para o republicano, uma eleitora indecisa questionou Romney de como ele poderia garantir aos norte-americanos que seria diferente de George W. Bush.

Ao mesmo tempo em que Obama emitiu um sorriso de satisfação com a questão, o adversário disse que os momentos são diferentes, assim como seu plano de cinco pontos. O presidente, em contrapartida, disse que era ultrajante o déficit deixado por Bush.

O segundo debate também reservou um espaço para debater a questão do desarmamento. Obama disse que as leis que já existem devem ser cumpridas para tirar as armas do alcance dos criminosos e proibir o acesso dos cidadãos comuns a armas de guerra. Já Romney afirmou que pretende mudar a "cultura da violência" no país e citou medidas que tomou como governador, que contou com a união das bancadas democrata e republicana. Mas o presidente acusou seu adversário de ter "mudado de lado".

Imigração

O candidato republicano acusou o presidente Barack Obama de não apresentar um projeto de reforma migratória, tal como havia prometido durante a campanha. "Quando o presidente se apresentou como candidato, disse que traria em seu primeiro ano de mandato uma legislação para reformar nosso sistema migratório, proteger a imigração legal, deter a imigração ilegal. Ele não fez isto!", afirmou Romney durante o debate.

Obama reagiu afirmando que tentou promover a reforma migratória, mas se chocou com a oposição republicana no Congresso, que classificou como os "amigos do governador Romney". O presidente afirmou ainda que o ex-governador de Massachusetts rejeitou nas primárias republicanas o "Dream Act" visando legalizar os estudantes estrangeiros ilegais, e que apoiou as duras leis contra imigrantes do Arizona, elaboradas pelo principal assessor de Romney na matéria.

Dívida pública

Romney acusou Obama de conduzir os Estados Unidos "no caminho da Grécia", em razão do crescimento da dúvida pública: "nós tivemos quatro anos consecutivos em que ele disse, enquanto disputava a presidência, que reduziria o déficit à metade, ao contrário disso, ele o dobrou".

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"Nós passamos de uma dívida nacional de US$ 10 trilhões para uma dívida nacional de US$ 16 trilhões. Se o presidente for reeleito, passaremos a uma dívida nacional de quase US$ 20 trilhões. Isto nos coloca no caminho da Grécia", atacou o republicano.

Em outro momento, Obama negou que o adversário vá ser duro com a China, após Romney repetir sua promessa de campanha de ser rigoroso com Pequim quando os chineses "trapacearem", afirmando que o republicano investe em empresas que constroem equipamentos de vigilância para o gigante asiático. "Governador, você é a última pessoa a ser duro com a China".

Líbia

Em outro momento tenso do debate, o presidente acusou o adversário de transformar em questão política o ataque ao consulado americano em Benghazi, Líbia, que matou quatro funcionários americanos, entre eles o embaixador Chris Stevens, em 11 de setembro.

"Não se pode transformar a segurança nacional em questão política", criticou o presidente, condenando o adversário republicano por acusações que chamou de "insultantes", depois de Romney afirmar que Obama saiu em viagem para arrecadação de fundos no dia do ataque mortal.

Romney voltou a criticar a política externa da atual administração no Oriente Médio, ao afirmar que esta "cai aos pedaços diante dos nossos olhos", em alusão à gestão da crise na Síria e na Líbia.

Ainda em relação à Líbia, Obama disse que era "responsável" pela proteção e segurança dos quatro norte-americanos mortos no ataque. "Eu sou o presidente e eu sempre sou o responsável", disse.

As mortes do embaixador e três colegas em ataques contra o consulado em Benghazi se tornaram um ponto crítico na campanha eleitoral de 2012, com os republicanos usando o caso para acusar Obama de fracasso em sua liderança. O presidente repetiu sua promessa de caçar aqueles que estão por trás dos ataques, mas também alfinetou Romney por criticar inicialmente a reação do governo antes de que a completa dimensão dos danos e das vítimas fosse conhecida.

Debate anterior

O chefe de Estado democrata foi mal avaliado no primeiro confronto com o republicano, em 3 de outubro. Em contra partida, a campanha de Romney conquistou um impulso muito necessário há duas semanas, com seu desempenho agressivo no primeiro debate entre os dois candidatos.

Aquela performance ajudou o republicano a reverter sua desvantagem nas pesquisas eleitorais, e as sondagens recentes têm apontado empate na corrida para a Casa Branca a apenas três semanas da eleição presidencial de 6 de novembro.

O próximo debate acontece na próxima segunda-feira (22) na Universidade Lynn, situada em Boca Raton, na Flórida. (Com agências)