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Suspeito morto não tinha amigos nos EUA; procurado citou islã como 'visão de mundo'

Do UOL, em São Paulo

19/04/2013 16h49

Os irmãos Dzhokhar A. Tsarnaev, 19, e Tamerlan Tsarnaev, 26, apontados pelo FBI (polícia federal norte-americana) como responsáveis pelas explosões da Maratona de Boston tinham em comum, além do parentesco, a veneração pelo Islã.

Provenientes de uma região próxima à Tchetchênia --território de maioria muçulmana ao sul da Rússia que travou sua luta pela independência em duas guerras na década de 1990--,  e residentes legais nos Estados Unidos, de acordo com informações divulgadas pela imprensa americana e agências de notícias, Tamerlan foi morto na madrugada de hoje, após confronto com a polícia durante megaoperação policial na cidade de Watertown, nos arredores de Boston, em Massachusetts.

Ele aparece nas imagens com boné preto e é identificado como o suspeito número um. Enquanto Dzhokhar foi identificado como o suspeito número dois, nas imagens com um boné branco, continua foragido e acredita-se que fortemente armado.

Veneração pelo Islã

Dzhokhar citou o islã em uma rede social russa para descrever sua "visão de mundo". Ele também postou links para sites islâmicos e páginas que defendem a independência da Tchetchênia, além de vídeos de combatentes na guerra civil da Síria.

Personagens da tragédia

  • Reprodução/The Boston Globe

    Irmãos que assistiam à Maratona de Boston perdem uma perna cada um

  • Reprodução/Facebook

    Estudante chinesa morta na Maratona de Boston é identificada

  • Reprodução/Boston Globe

    Criança de 8 anos morta em ataque esperava o pai na chegada da maratona

  • Charles Krupa/AP

    Homem que tentou suicídio após filho morrer no Iraque vira herói

  • Reprodução/Facebook

    Mulher de 29 anos é a segunda vítima fatal da Maratona de Boston

  • Arquivo pessoal

    "Não sabíamos para onde era seguro ir", diz brasileira em Boston

  • Arquivo pessoal

    Passei pela chegada 1 min antes da explosão, diz brasileira em Boston

  • Reprodução

    Brasileiro que olhava maratona é salvo da explosão em Boston por minutos

A página do suspeito também revela um senso de humor em torno de sua própria identidade como membro de uma minoria do Cáucaso --área no sul da Rússia que inclui a Tchetchênia, o Daguestão, a Inguchétia e outras regiões predominantemente muçulmanas--, que vive há duas décadas sob o clima de conflito, desde a queda da União Soviética.

Na rede, Dzhokhar postou a seguinte piada: "Um carro passa com um cara da Tchetchênia, um do Daguestão e outro da Inguchétia dentro. Pergunta: Quem está dirigindo? Resposta: A polícia".

Em outro post, em vídeo, o jovem fez piada com o sotaque do Cáucaso.

Uma conta no Youtube em nome de Tsarnaev Tamerlan --mesmo nome do suspeito morto-- também continha conteúdo com conotação islâmica. Pela conta, criada em agosto de 2012 nos EUA, o usuário compartilhou vídeos relacionados ao islamismo, muito deles rotulados de "terroristas", que acabaram sendo bloqueados.

O pai dos irmãos, Anzor Tsarnaev, que mora na cidade russa de Makhachkala, disse à agência russa "Interfax" que o serviço secreto americano fez uma armadilha para seus filhos por eles serem "crentes muçulmanos". Ele ainda descreveu o filho mais novo, o foragido, como "um verdadeiro anjo".

Há pelo menos dois anos, Dzhokhar trabalhava como salva-vidas na Universidade de Harvard, disse Geroge MacMasters, seu ex-chefe, à ABC News. “Ele era um garoto comum”, afirmou.

Em 2012, Talerman viajou à Rússia onde teria permanecido por seis meses, segundo investigadores que não quiseram se identificar. Não se sabe ainda o que ele fazia no país no período e não há informações que liguem ele ou seu irmão a algum grupo extremista do país, segundo a Associated Press.

Anos antes, em 2009, Talerman teria sido preso por agredir uma namorada.

"Eu gosto dos EUA"

Tamerlan estudou na Bunker Hill Community College, em Boston, segundo informações de um perfil dele divulgado em uma revista da Universidade de Boston em 2010, no qual ele dizia querer ser engenheiro e um dia se juntar à equipe olímpica de boxe dos Estados Unidos.

Ainda segundo a publicação, Tamerlan contou que a família fugiu da Chechênia na década de 1990 em virtude dos conflitos na região e que teria vivido no Casaquistão. E, embora ele estivesse já há alguns anos nos Estados Unidos, ele disse “Não tenho um único amigo americano. Eu não os entendo”.

Tamerlan também disse que era muçulmano e que não fumava, nem bebia.

Em 2004, ao participar de um torneio de boxe chamado “Luvas de Ouro”, ele disse a um jornal: “Eu gosto dos Estados Unidos”.

"A América tem um grande número de postos de trabalho e isso é algo que a Rússia não tem. Você tem uma chance de ganhar dinheiro aqui se você estiver disposto a trabalhar.", disse ao jornal.

John Curran, seu ex-treinador, disse a NBC News que Tamerlan era tão calado e cortês que ele estava “perplexo” com a notícia.

Apesar da habilidade no esporte, o jovem disse ao mesmo jornal que sua primeira paixão era a música, já que tocava piano e violino.

Informações preliminares indicam que os irmãos chegaram ao país com a família em 2002 ou 2003, quando seus pais pediram asilo. A polícia cogitou que ambos teriam tido experiência militar, mas a informação não foi confirmada pelo Exército.