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Times rivais se unem na Turquia em protestos contra o governo

Do UOL, em São Paulo

04/06/2013 12h53

A rivalidade entre os três principais times de futebol de Istambul, na Turquia, talvez seja a mais acirrada do planeta. No entanto, uma causa juntou os torcedores de Besiktas, Fenerbahçe e Galatasaray: a onda de protestos contra o governo conservador do premiê Recep Tayyip Erdogan.

Mapa da região

Fotos de torcedores dos três times abraçados já são comuns nas redes sociais. Um designer criou o brasão e fez o cartaz de um “novo clube”, o fictício Istambul United, que representa a união das torcidas de Istambul contra Erdogan.

Uma das principais torcidas organizadas do Fenerbahçe, a “12 Numara”, publicou uma nota salientando a importância da união dos torcedores.

“Chegamos a uma conclusão: o amarelo sem o azul e o vermelho ou o preto sem o branco são impossíveis”, disse a torcida em referências as cores dos times.

No Twitter, o cantor e escritor Feridun Düzagaç, fanático torcedor do Besiktas, time que tem forte ligação com a classe trabalhadora e com grupos de esquerda, escreveu sobre a união dos clubes no distrito de Besiktas, em Istambul, palco de algumas das principais manifestações contra o governo de Erdogan e local da sede do clube.

“Tive orgulho em ver torcedores do Galatasaray e do Fenerbahçe juntos gritando pelo distrito: 'Besiktas você é tudo para mim'”, postou.

A experiência que as torcidas tem em confrontos com a polícia também é importante para os manifestantes. Há menos de um mês, por exemplo, torcedores do Besiktas enfrentaram policiais, jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo no distrito onde agora protestam contra o governo.

Segunda morte

Um jovem de 22 anos, identificado como Abdullah Comert, morreu com um tiro na cabeça durante uma manifestação realizada no sul da Turquia, informou nesta terça-feira (4) o canal NTV.

"Abdullah Comert estava gravemente ferido (...) por disparos realizados por uma pessoa não identificada" e faleceu no hospital, revelou a NTV, que cita um comunicado do governo da província de Hatay, próxima à fronteira com a Síria.

O governo também assinalou que a autoridade judicial responsável já empreende uma investigação "em grande escala" para determinar as causas do incidente.

Segundo Hasan Akgol, parlamentar do principal partido de oposição, Comert era membro da Ala Jovem do Partido do Povo Republicano.

Este foi o segundo óbito ligado à onda de manifestações que sacode a Turquia para protestar contra o governo do premiê Recep Tayyip Erdogan.

Quinto dia de protestos

Milhares de pessoas tomaram mais uma vez, na madrugada desta terça-feira (4), a praça Taksim de Istambul, enquanto a polícia interveio para dispersar manifestações que se aproximavam de gabinetes do chefe de governo em Istambul e em Ancara.

A polícia utilizou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar centenas de manifestantes em Ancara e Istambul, informaram testemunhas e um canal de televisão.

Em Ancara, no bairro de Kavaklidere, a polícia disparou balas de borracha contra os manifestantes, segundo a CNN-Turquia. Em Istambul, os policiais dispararam dezenas de bombas de gás lacrimogêneo em cerca de 500 manifestantes no bairro de Gümüssuyu, onde barracas tinham sido montadas.

Vice-premiê pede desculpas

O vice-primeiro-ministro turco, Bülent Arinç, pediu desculpas nesta terça-feira aos manifestantes feridos pela repressão policial durante os protestos, considerados "justos e legítimos", que afetam a Turquia há cinco dias.

Ao mesmo tempo, Arinç pediu aos cidadãos turcos que interrompam ainda nesta terça as manifestações.

"Peço desculpas aos que sofreram a violência por serem sensíveis às questões ambientais", disse Arinç, que criticou a intervenção policial com gás lacrimogêneo para dispersar um protesto contra a remodelação de um parque no centro de Istambul.

"Mas não acredito que devamos pedir desculpas aos que provocaram danos nas ruas e tentaram bloquear a liberdade das pessoas", completou Arinç.

"O que fez com que as coisas saíssem de controle foi a utilização de gás lacrimogêneo pelas forças de segurança, por uma ou outra razão, contra pessoas que tinham inicialmente exigências legítimas", disse.

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Origem da onda de violência

Os protestos começaram após a intenção do governo do islâmico moderado Recep Tayyip Erdogan de remodelar o parque central Gezi, um dos poucos espaços verdes do centro de Istambul.

O objetivo seria a construção de um centro comercial, projeto rejeitado pela própria comissão municipal, mas defendido em público pelo primeiro-ministro.

No entanto, os manifestantes estão, na verdade, descontentes com o governo conservador de Erdogan que, cada vez mais, busca islamizar a sociedade turca. O Partido do Desenvolvimento e Justiça, que tem Erdogan como principal líder, está no poder há dez anos e tem buscado impor um governo moralista. (Com Reuters, Efe e AFP)