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Jovem é morto em manifestação na Turquia; é a 2ª morte ligada à onda de protestos

Do UOL, em São Paulo

04/06/2013 00h40Atualizada em 04/06/2013 02h37

Um jovem de 22 anos, identificado como Abdullah Comert, morreu com um tiro na cabeça durante uma manifestação realizada no sul da Turquia, informou nesta terça-feira (4) o canal NTV.

"Abdullah Comert estava gravemente ferido (...) por disparos realizados por uma pessoa não identificada" e faleceu no hospital, revelou a NTV, que cita um comunicado do governo da província de Hatay, próxima à fronteira com a Síria.

Mapa da região

O governo também assinalou que a autoridade judicial responsável já empreende uma investigação "em grande escala" para determinar as causas do incidente.

Segundo Hasan Akgol, parlamentar do principal partido de oposição, Comert era membro da Ala Jovem do Partido do Povo Republicano.

Este foi o segundo óbito ligado à onda de manifestações que sacode a Turquia para protestar contra o governo islâmico-conservador do premiê Recep Tayyip Erdogan.

Quinto dia de protestos

Milhares de pessoas tomaram mais uma vez, na madrugada desta terça-feira (4), a Praça Taksim de Istambul, enquanto a polícia interveio para dispersar manifestações que se aproximavam de gabinetes do chefe de governo em Istambul e em Ancara.

A polícia utilizou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar centenas de manifestantes em Ancara e Istambul, informaram testemunhas e um canal de televisão.

Em Ancara, no bairro de Kavaklidere, a polícia disparou balas de borracha contra os manifestantes, segundo a CNN-Turquia. Em Istambul, os policiais dispararam dezenas de bombas de gás lacrimogêneo em cerca de 500 manifestantes no bairro de Gümüssuyu, onde barracas tinham sido montadas.

Greve geral

Uma das mais importantes confederações sindicais turcas convocou nesta segunda-feira (3) uma greve de dois dias, a partir de terça, para denunciar o recurso ao "terror" por parte do Estado contra os manifestantes que desafiam o governo.

"O terror exercido pelo Estado contra manifestações totalmente pacíficas é mantido de tal forma que ameaça a vida de civis", considerou a Confederação dos Sindicatos do Setor Público (KESK) em um comunicado divulgado em seu site.

A KESK, que possui 240 mil afiliados nos onze sindicatos, também considerou que a brutalidade da repressão traduz "a hostilidade com a democracia" do governo islâmico conservador no poder.

"Primavera Turca"

O chefe de governo, Recep Tayyip Erdogan, negou qualquer tentativa de uma guinada autoritária e rejeitou a ideia de uma "Primavera Turca".

Ele desafiou os manifestantes antes de deixar a Turquia nesta segunda-feira à tarde para uma viagem de quatro dias pelos países do Magreb.

"Sim, estamos agora na primavera, mas não deixaremos que se torne um inverno", acrescentou, referindo-se à "Primavera Árabe".

Algumas horas depois, na capital do Marrocos, Erdogan afirmou que a situação "está voltando à calma". "Quando eu voltar desta visita (ao Magreb), os problemas serão resolvidos", acrescentou.

O chefe de governo também acusou os opositores de tentarem se aproveitar deste movimento de contestação.

Origem da onda de violência

Os protestos começaram após a intenção do governo do islâmico moderado Recep Tayyip Erdogan de remodelar o parque central Gezi, um dos poucos espaços verdes do centro de Istambul.
 
O objetivo seria a construção de um centro comercial, projeto rejeitado pela própria comissão municipal, mas defendido em público pelo primeiro-ministro.
 
No entanto, os manifestantes estão, na verdade, descontentes com o governo conservador de Erdogan que, cada vez mais, busca islamizar a sociedade turca. O Partido do Desenvolvimento e Justiça, que tem Erdogan como principal líder, está no poder há dez anos e tem buscado impor um governo moralista. (Com Efe e AFP)