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Houve tráfico de influência em contratos, diz relator de processo contra Vargas

Bruna Borges

Do UOL, em Brasília

02/07/2014 15h27Atualizada em 02/07/2014 16h40

O relator do processo contra o deputado André Vargas (sem partido-PR) no Conselho de Ética da Câmara, Júlio Delgado (PSB-MG), disse nesta quarta-feira (2) que “houve tráfico de influência” para que o Ministério da Saúde fechasse contratos com o laboratório Labogen, investigado por irregularidades pela Polícia Federal durante a operação Lava Jato.

“Está claro que houve tráfico de influência, só falta confirmar quem é o responsável por este tráfico, quem fez essa intermediação via Alberto Youssef para obter essas vantagens junto ao governo federal”, declarou Delgado após depoimentos de sócios do Labogen na Câmara dos Deputados.

Segundo investigações da PF, Vargas teria favorecido Youssef na obtenção de contratos com a pasta da Saúde. A PF suspeita que o laboratório foi usado pelo doleiro Alberto Youssef para lavagem de dinheiro. Reportagem do jornal "Folha de S.Paulo" revelou que o doleiro era o dono oculto do Labogen e que conseguiu o negócio por meio da influência de Vargas.

Durante o depoimento, Leonardo Meirelles, um dos donos do laboratório, afirmou que Vargas chegou a encaminhar um projeto técnico do laboratório ao Ministério da Saúde.

“O deputado André Vargas estabeleceu o contato entre Labogen e o Ministério da Saúde. [...] A tratativa foi com deputado para quem coloquei que era um bom projeto para o país e que tínhamos condições de fazer dentro do prazo e fomos encaminhados para Secretaria de Insumos Estratégicos do ministério”, afirmou Meirelles.

Mas minimizou a atuação de Vargas no processo de obtenção do contrato. “Não teve intermediação [do parlamentar]. Eu levei o projeto, mostrei a ele, e dentro disso teve um encaminhamento”, declarou Meirelles.

Vargas responde a um processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética por ligação com o doleiro. E Youssef é acusado de chefiar um esquema de lavagem de dinheiro bilionário e foi preso pela Polícia Federal durante a Operação Lava Jato. Ele está preso em Curitiba desde março.

Para Delgado, a testemunha estava instruída a não comprometer Vargas durante seu depoimento.

O outro sócio do Labogen, Esdras de Arantes Ferreira, também compareceu para depor no conselho, mas se recusou a responder às perguntas dos parlamentares. Ele se recusou a falar se conhece o Labogen ou se conhece seus próprios pais. Mas quando questionado sobre uma possível relação com Vargas, Esdras negou que conhece o parlamentar. Meirelles negou que o sócio seja um laranja da empresa e que o conheceu quando ele era frentista.

“O Esdras é um laranja, não tenho a menor dúvida. [..] Não tem o menor conhecimento, não tem a menor condição de ser sócio de uma empresa que movimenta milhões e que não pratica a atividade principal para que ela existe. A Labogen existe nos últimos dois anos para poder fazer evasão de divisas e internalizar recursos e dólares que foram feitos através de uma empresa, que segundo o senhor Leonardo é para produzir insumos, o que não foram feitos nos últimos dois anos porque o tal projeto não acabou se concretizando”, afirmou Delgado.

Meirelles afirmou que tem 90% do laboratório. Durante a audiência, os deputados questionaram se ele seria um laranja, mas o empresário negou que isso seja verdade.

“Eu acho que tem uma laranja maior que isso aí. O Esdras é uma laranja pequenininha e o Leonardo [Meirelles] pode ser uma laranja maior, ele tinha um conhecimento, uma intersecção maior  com todos esses personagens, principalmente com Youssef e a gente vai ver qual é essa relação do Youssef que utilizou a Labogen com o deputado André Vargas, que é o alvo da nossa investigação”, declarou o relator do processo.

Investigação no conselho

O presidente do conselho informou que o grupo recebeu do STF (Supremo Tribunal Federal) os documentos referentes à investigação da Polícia Federal sobre a operação Lava Jato, mas que os deputados ainda não analisaram os autos.

Ontem, o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) disse, durante depoimento no colegiado, que "tem convicção" de que Vargas não fez lobby para que o laboratório Labogen conseguisse um contrato pelo Ministério da Saúde. O petista tem sido um dos principais defensores do parlamentar.

Na semana que vem, o conselho deve ouvir as testemunhas de defesa indicadas por Vargas. Os advogados do deputado voltaram a reclamar nesta quarta-feira que não tiveram acesso às informações repassadas ao conselho do inquérito que tramita no STF. E afirmam que ainda estudam se irão questionar o processo na Justiça.

O relator do processo tem até o dia 24 de julho para concluir seu relatório, mas disse que pretende encerrar o processo e votar o relatório no conselho até o dia 17 de julho, último dia de trabalho dos deputados antes do recesso parlamentar.