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Ninguém chega à diretoria da Petrobras por ter "belos olhos", diz Costa

Paulo Roberto Costa deixa a sede da Polícia Federal, em Curitiba, no Paraná, nesta sexta - Vagner Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo
Paulo Roberto Costa deixa a sede da Polícia Federal, em Curitiba, no Paraná, nesta sexta Imagem: Vagner Rosário/Futura Press/Estadão Conteúdo

Bruna Borges

Do UOL, em Curitiba

13/02/2015 17h50Atualizada em 13/02/2015 18h25

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa disse nesta sexta-feira (13), em audiência da operação Lava Jato, que só se chegava a ocupar posições de diretoria na estatal, como a que ele tinha, com o apoio de partidos políticos e que os partidos recebiam dinheiro desviado dos contratos.

“Não se chega -- ou não se chegava -- a diretor da Petrobras sem apoio político. E nenhum partido dá apoio só pelos belos olhos daquela pessoa ou por sua capacidade técnica, sempre tem de ter alguma coisa em troca. O que se comentava é que na diretoria Internacional que tinha apoio do PMDB e do PT, esses partidos tinham alguns benefícios”, afirmou Costa.

Costa prestou depoimento hoje à Justiça Federal do Paraná como testemunha de acusação no processo contra o ex-diretor da área Internacional Nestor Cerveró.

Costa também disse “se comentava” que Cerveró também pode ter recebido parte do dinheiro desviado dos contratos da Petrobras. Ele, no entanto, não tem provas de que o ex-diretor da área Internacional tenha recebido propina. Cerveró está preso na carceragem da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, desde 14 de janeiro e é réu em uma ação penal por suspeita de participar de um esquema de corrupção na estatal.

O ex-diretor de Abastecimento também confirmou, em delação premiada que veio à tona ontem, que recebeu US$ 1,5 milhão para não dificultar a aprovação da compra da refinaria de Pasadena (EUA) pela Petrobras. E que o operador dessa transação foi Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano. As declarações foram feitas durante o depoimento de Costa em setembro de 2014. Os documentos sobre a delação foram disponibilizados nesta quinta-feira (12) no inquérito policial da operação Lava Jato sobre suspeita de pagamento de propina por empreiteiras.

Fernando Baiano é considerado o operador do PMDB no esquema de pagamento de propina. Ele também está preso em Curitiba desde novembro de 2014. Costa afirmou na audiência que conheceu Baiano por Cerveró.

Costa também detalhou a divisão de propina envolvendo o PT, PP e PMDB. “As empresas do cartel formavam esses consórcios e pagavam valores para serem distribuídos entre partidos políticos, entre os operadores e entre diretores da Petrobras. Normalmente, a área de Abastecimento ficava com 1% dos valores, 2% ficava com a área de Serviços, que eram indicados para o PT”, disse Costa.

“Da minha área [de Abastecimento] desse 1%, 60% ia para o PP. Depois, em 2007, houve um maior apoio para o PMDB. Aí parte era para o operador, parte era para as despesas e parte era para mim. Em outras diretorias com apoio do PT o percentual de pagamento de propina era 3%”, concluiu.

Questionado pelo juiz federal Sérgio Moro, Costa disse que todos os contatos feitos com Baiano eram relativos a pagamentos de propina e que nunca teve conversas sobre detalhes técnicos ou de engenharia sobre projetos da Petrobras.

O ex-diretor de Abastecimento também afirmou que a maior parte dos repasses de dinheiro desviado eram feitos ao exterior.