"O protesto virou outra coisa", reclamam estudantes na avenida Paulista
O estudante de sistemas de informação Luiz Henrique Ardezoni, 24, estava na Paulista na quarta-feira (16), quando começaram os protestos a favor do impeachment da presidente Dilma Rousseff, saiu de lá por volta das 3h desta quinta-feira, mas voltou logo pela manhã. Lá conheceu o estudante de jornalismo Matheus Salgado Marques, 22. Ambos têm visões semelhantes sobre o país e os objetivos do protesto, mas se sentem decepcionados com as diferentes tendências políticas que estão lá.
"O protesto já virou outra coisa. Veio a direita querendo arrumar briga, e está totalmente diferente. Não era nossa ideia, mas eles também têm o direito de estar aqui", disse Ardezoni. "Virou festa, tem muita gente bêbada", acrescentou Marques. Ambos tinham confiança de que, com a chegada da noite, a manifestação voltasse a ficar mais próxima do ambiente na madrugada.
Como vários outros protestos, a manifestação da avenida Paulista, que começou na quarta-feira e se mantém na noite dessa quinta-feira, é um mosaico de tendências políticas. Desde o início, o perfil das pessoas se mostrava completamente diferente: jovens estudantes, aposentados, pessoas utilizando uniformes militares, trabalhadores bem vestidos e muito verde e amarelo, nos rostos, camisas e bandeiras. Essa diversidade se acentuou à tarde, com o aumento do público.
Os manifestantes concordavam com a exigência pelo impeachment ou pela renúncia de Dilma e a prisão de Lula, mas várias pessoas ouvidas pela reportagem também cobraram a investigação sobre outros políticos, inclusive da oposição. Nenhuma bandeira de partido foi vista na manifestação. A unanimidade, como ocorreu na manifestação do domingo (13), era o juiz Sérgio Moro, responsável pela condução do processo da Operação Lava Jato.
Agitado, Ardezoni afirmou que era necessário aceitar a presença de todos os tipos de manifestantes. "Não vamos expulsar essas pessoas", disse, falando sobre "fascistas e defensores da ditadura" que haviam passado pelo local. Mas relatou ter presenciado uma briga durante a noite entre um skinhead e uma mulher contrária à ditadura. "Ele tentou bater nela e a gente tentou separar. Alguns extremistas vêm desestabilizar o movimento, mas são poucos, que querem chamar a atenção", disse.
No local, bloqueado pela Polícia Militar nos dois sentidos, cerca de 50 pessoas permaneceram durante a madrugada, segundo relato dos próprios manifestantes. Por volta das 9h, o local ainda reunia um público reduzido, porém barulhento, em frente ao prédio da Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo) --que apoiou o ato e deixou que os manifestantes que passaram a noite almoçassem e usassem os banheiros do prédio.
"Não temos em quem confiar"
"Acabou a grande manifestação da noite e a gente foi ficando", contou o professor Fabiano Amaral, 50, que pernoitou na avenida e logo precisou comprar uma capa de chuva para se proteger do frio que atingiu a madrugada paulistana.
"Fomos ficando e nos organizamos. A ideia era não deixar a Paulista abrir até a Dilma sair. Se não tiver pressão popular, não vai mudar", complementa a técnica de enfermagem Giovanna Junqueira, 27.
"Não temos em quem confiar. Uma pessoa em que as pessoas confiaram fazer o que fez?", questiona Amaral, em referência a Dilma Rousseff. "Se não pode servir o povo, sai fora. Você trabalha e tenta fazer tudo honestamente para ver que a política e os governantes só dão maus exemplos."
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