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Vanessa Grazziotin: Dilma no Senado e plebiscito "podem reverter impeachment"

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), durante o processo do impeachment - André Dusek/Estadão Conteúdo
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), durante o processo do impeachment Imagem: André Dusek/Estadão Conteúdo

Guilherme Azevedo

Do UOL, em São Paulo

23/08/2016 06h00

A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), aguerrida defensora de Dilma Rousseff (PT) contra o processo de impeachment, acredita que o depoimento da presidente afastada no Senado, na próxima segunda-feira (29), poderá ser um movimento decisivo para que ela consiga ser reabilitada no cargo. 

“É a grande chance de Dilma estar cara a cara com os senadores que a acusam”, diz Grazziotin em entrevista ao UOL, na semana em que o julgamento entra na reta final.

A senadora defende que o compromisso assumido por Dilma de convocar um plebiscito sobre a realização de novas eleições, no caso de voltar, é também um trunfo importante contra o impeachment. “Essa possibilidade é factível”, ressalta.

Se de fato esse golpe passar, Temer vai ter muita dificuldade, porque fez promessas antagônicas

Vanessa Grazziotin

Para Grazziotin, o depoimento da presidente afastada será uma forma de contestar a acusação e explicitar sua suposta inconsistência: “Esse processo precisa ter forma e conteúdo, principalmente. Mas não tem conteúdo”, avalia a senadora, que considera o afastamento um golpe, já que não haveria crime de responsabilidade. Em suas alegações finais, o relator do processo de impeachment, Antonio Anastasia, afirma o contrário.

“Espero que todos os 81 senadores estejam presentes, incluindo aqueles que foram ex-ministros dela”, afirma a senadora.

São seis ex-ministros de Dilma que estão inclinados a votar pela cassação do mandato: Garibaldi Alves (PMDB-RN), Eduardo Braga (PMDB-AM), Marta Suplicy (PMDB-SP), Edison Lobão (PMDB-MA), Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e Eduardo Lopes (PRB-RJ). Outros três senadores que foram ministros de Dilma seguem com ela: Gleisi Hoffmann (PT-PR), Kátia Abreu (PMDB-TO) e Armando Monteiro (PTB-PE). 

O julgamento de Dilma está marcado para começar na quinta-feira (25) e deve se estender até o fim do mês.

Temer

Questionada sobre a chance de Dilma não reverter os votos necessários para seguir, Grazziotin prevê um futuro de instabilidade para o governo Michel Temer (PMDB).

Segundo a senadora, em grande medida, a turbulência virá da movimentação dos próprios aliados, e não da rearticulação das forças de oposição. "Se de fato esse golpe passar, Temer vai ter muita dificuldade, porque fez promessas antagônicas", afirma. 

Grazziotin cita o compromisso de Temer firmado com o PSDB, pela contenção dos gastos e reequilíbrio das contas públicas, em oposição à oferta de mais cargos e verbas para o chamado centrão, bloco que reúne pequenos e médios partidos do Congresso sob influência do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). "Um lado ele vai acabar não atendendo."

Diz estar cada dia mais convencida de que houve ação orquestrada entre diversos grupos para cassar Dilma com um objetivo específico. "Eles chegaram aonde chegaram para implantar um projeto de poder liberal. Não era ela [Dilma], era o projeto de Estado mínimo."

Contra medidas e propostas supostamente liberalizantes de Temer, se confirmadas, diz que a oposição "vai travar uma luta duríssima", mas sem apostar na tese do "quanto pior, melhor". "Na transitoriedade, temos de ter responsabilidade com o país."

O fator econômico

Ela afirma que a economia é "um fator preponderante" para o sucesso ou não do governo Temer, mas diz não acreditar no avanço com ele. "Estar empregado, conseguir uma bolsa de estudo influencia a população, mas esse não é o cenário de curto prazo", analisa. "Na verdade, as medidas acenadas por Temer podem aprofundar os problemas. São medidas equivocadas, porque cortar gastos não faz a economia crescer." Para o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é necessário equilibrar as contas públicas, e isso envolve diminuição de gastos.

Para ela, a reforma da Previdência e da legislação trabalhista poderão inclusive ser o motor de mais impopularidade e "efervescência da sociedade", com grandes protestos. "Vocês que aguardem para ver."

A senadora sublinha a filosofia de base que movimenta os defensores do retorno de Dilma, contra Temer: "Não estamos contra pessoas, mas contra projetos de país".

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