Crise financeira no Rio tem relação com esquema de Cabral, diz procurador
A prisão do ex-governador Sergio Cabral (PMDB), realizada nesta quinta-feira (17), tem relação direta com a calamidade financeira que o Estado do Rio enfrenta, segundo os investigadores que apuram as suspeitas de corrupção envolvendo o político.
Para o procurador federal Athayde Ribeiro Costa, do MPF-PR (Ministério Público Federal do Paraná), se o Estado não tem recursos nem para pagar despesas básicas de saúde e educação, isso aconteceu também porque seu ex-governador montou uma organização criminosa para receber propinas de empreiteiras que trabalharam para o governo.
"O caso revelado hoje é um clássico para mostrar os efeitos da corrupção", disse Costa. "A sociedade sofre muito com a corrupção. Aqui no Rio, vemos faltar o mínimo por conta da corrupção."
O Estado do Rio vive uma grave crise financeira. Para tentar reverter o quadro, o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), sucessor de Cabral, tenta aprovar um pacote de ajuste fiscal, que vem sofrendo críticas e motivado protestos.
O procurador José Augusto Vagos, do MPF-RJ, afirmou que as suspeitas de corrupção que levaram a prisão preventiva de Cabral envolvem obras para a urbanização do Complexo de Favelas do Alemão, por exemplo.
O local tem um dos menores IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Rio. Apesar disso, projetos desenvolvidos naquela área foram usados para os ganhos ilícitos de Cabral, de acordo com o MPF e a Polícia Federal.
"Há suspeitas envolvendo obras do PAC na Favela do Alemão. Isso quer dizer que a organização criminosa usou esses projetos para roubar e financiar suas excentricidades", disse Vagos, lembrando que a propina financiou até seis vestidos de luxo para a ex-primeira-da-dama do Estado Adriana Ancelmo, mulher de Cabral.
A investigação da polícia e do MPF apontou ainda que construtoras que faziam grandes obras para o governo pagavam uma espécie de mesada a Cabral, a qual chegou a R$ 500 mil por mês. Esse dinheiro vinha do chamado caixa dois dessas companhias e era enviado ao ex-governador, em espécie, por meio de intermediários.
Procuradores do MPF foram questionados na entrevista sobre projetos de lei que podem anistiar os casos de caixa dois já em investigação no país. Athayde Costa criticou esses projetos e pediu que a sociedade esteja vigilante contra retrocessos.
"Eu renovo meu clamor para que a sociedade fique atenta", afirmou ele. "Se a Lava Jato for abafada, casos como o de hoje ficarão na escuridão."
O UOL entrou em contato com a assessoria de imprensa do ex-governador, que ainda não se pronunciou. A reportagem também ligou para o celular de um advogado de Cabral, mas ninguém atendeu. Foram enviadas mensagens para esse celular assim como e-mails para o advogado, mas nenhuma resposta foi enviada. O UOL continua tentando ouvir a defesa do ex-governador.
Operação Calicute
Cabral recebeu voz de prisão em seu apartamento, no Leblon, zona sul. Ele é alvo de dois mandados de prisão, sendo um deles expedido pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância. O outro mandado é do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal do Rio, e faz parte da Operação Calicute, um desdobramento da Operação Lava Jato, deflagrada pela PF junto com o MPF e a Receita Federal.
Após prestar depoimento, ele deve ser transferido para o complexo penitenciário de Bangu, na zona oeste carioca. O ex-governador é investigado por quatro crimes: corrupção ativa, corrupção passiva, pertencimento a organização criminosa e lavagem de dinheiro.
A mulher de Cabral e ex-primeira dama, Adriana Ancelmo, também foi levada para a Polícia Federal, a fim de cumprir mandado de condução coercitiva (quando a pessoa é encaminhada para prestar esclarecimentos em sede policial).
O casal deixou o prédio onde mora sob gritos de "bandido" e "ladrão", por volta das 7h. Os policiais federais usaram spray de pimenta para dispersar um grupo de manifestantes, que se colocou em frente ao carro da PF.
Cabral é o segundo ex-governador do Rio preso em menos 24 horas. Ontem, a PF prendeu Anthony Garotinho (PR) em uma investigação sobre esquema de compra de votos em Campos dos Goytacazes (RJ) comandada pelo Ministério Público Eleitoral.
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