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Bolsonaro volta a descontextualizar OMS e insinua intenção de falir países

Presidente Jair Bolsonaro - Adriano Machado/Reuters
Presidente Jair Bolsonaro Imagem: Adriano Machado/Reuters

Do UOL, em São Paulo

10/06/2020 09h02Atualizada em 10/06/2020 10h02

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) criticou hoje a OMS (Organização Mundial da Saúde) por, segundo ele, ter "voltado atrás" na declaração de que a disseminação do coronavírus por pessoas assintomáticas é "muito rara". Ele insinuou que a organização tem a intenção de "quebrar os países".

"A tal da OMS, que tem que seguir, uns querem que siga cegamente, acabou de dizer que assintomático não transmite, depois voltou atrás, parece que tem algo de mais grave por trás disso tudo, de quebrar os países. A quantidade de problemas econômicos é enorme, vai chegar a um ponto que vai quebrar o Brasil. Quem decidiu que ia fechar comércio, lockdown, tudo competia aos governadores, foi o STF (Supremo Tribunal Federal)", declarou o presidente na portaria do Palácio da Alvorada.

Diferentemente do que Bolsonaro afirmou, a OMS não voltou atrás. A organização, na verdade, informou que "parece haver" baixa transmissibilidade de assintomáticos e citou por enquanto apenas um estudo de pequeno porte feito pela China.

A Organização alertou que há perigo de pessoas pré-sintomáticas transmitirem o vírus e avisou que os estudos sobre assintomáticos ainda não são muito abrangentes, informações omitidas pelo presidente quando ele falou sobre o assunto ontem, na abertura da reunião periódica do chamado conselho de governo.

Posteriormente, a OMS ainda negou que tenha dado qualquer sinal de que esteja defendendo a possibilidade de uma abertura mais rápida das economias e disse não existirem dúvidas: pessoas assintomáticas também transmitem o coronavírus — o que não se sabe é qual a proporção dessas pessoas que, de fato, tem a capacidade de contaminar outras.

Descontextualização de dados e declarações da OMS

Bolsonaro tem voltado sua mira para a OMS desde o início da pandemia e já descontextualizou outras declarações e informações da agência.

No final de março, o diretor-geral da Organização, Tedros Ghebreyesus afirmou que, além da preocupação com a saúde, "os governos precisam garantir o bem-estar das pessoas que perderam sua renda". No entanto, na mesma entrevista, o diretor-presidente da OMS voltou a enfatizar a importância do isolamento social e deixou claro que essa medida de precaução "é a única opção que temos para derrotar esse vírus".

No dia seguinte, Bolsonaro retirou de contexto a fala de Ghebreyesus e disse que, por ele ser africano, "sabe o que é passar dificuldade". O objetivo do mandatário brasileiro era legitimar a tese de que a reclusão social, recomendada pelo Ministério da Saúde de seu próprio governo, deve ser flexibilizada, pois afeta a economia e pode levar a desemprego em massa.

Em outro momento, ele tentou desautorizar Ghebreyesus. "O diretor da OMS é médico? Não é médico. É a mesma coisa se o presidente da Caixa não fosse da economia. Não tem cabimento. Então, o diretor da OMS não é médico", afirmou.

De fato, o diretor da OMS não é graduado em medicina, mas sim em biologia. No entanto, ele tem mestrado em Imunologia de Doenças Infecciosas pela Universidade de Londres, doutorado em Saúde Pública pela Universidade de Nottingham e é considerado especialista em operações e liderança em respostas de emergência a epidemias.

Já no final de abril, Bolsonaro acusou a OMS (Organização Mundial da Saúde) de incentivar a masturbação e a homossexualidade de crianças. O presidente, porém, voltou atrás e apagou o post publicado em seu perfil no Facebook minutos depois.

Sem citar fontes, ele detalhou supostas recomendações da OMS para crianças sobre identidade de gênero e conhecimento do corpo. O guia citado realmente existe e foi publicado em 2010 pelo Centro Federal de Educação em Saúde da Alemanha, em conjunto com o escritório europeu da OMS. O texto, porém, não é dirigido às crianças, e sim aos pais, com o objetivo de ajudá-los na educação de seus filhos.

Na semana passada, o presidente ameaçou deixar a OMS por divergências sobre como o órgão vem conduzindo a crise da covid-19. Ele alertou que se a OMS não mudasse seu comportamento considerado como "ideológico" pelo Palácio, ele poderia seguir o mesmo caminho de Donald Trump (Estados Unidos) e romper com a agência.