Plebiscito confirma governo militar no Egito

Do Cairo

O referendo realizado no Egito aprovou a nova Constituição e a permanência dos militares no poder, mas o governo aguardava nesta quarta-feira (15) a divulgação da taxa de participação superior a 50% para legitimar a candidatura presidencial do chefe do Exército, general Abdel Fatah al-Sissi, que destituiu o presidente islâmico, Mohamed Mursi.

Segundo as primeiras estimativas da imprensa oficial, cerca de 90% dos eleitores que foram às urnas votaram afirmativamente. Os resultados definitivos serão divulgados em três dias.

"Esperamos que a participação supere os 50%", disse à AFP Hani Salah, porta-voz do governo.

Esse referendo funciona como um plebiscito para o general Al-Sissi, novo e popular homem forte do país. O governo interino, dirigido pelos militares, não esconde que uma forte participação legitimaria a destituição de Mursi em julho, classificada de "golpe de Estado" por seus adversários.

Comandante-em-chefe do Exército, vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa, o general Al-Sissi não disfarçou suas intenções. Três dias antes do referendo para uma nova Constituição pouco diferente da anterior, ele prometeu se apresentar à eleição presidencial prevista para este ano, "se o povo pedir". Ao mesmo tempo, convocou a população a votar em massa no "sim".

Crise no Egito
Crise no Egito

Segundo dia de votação

Nesta quarta, os egípcios votaram pelo segundo dia consecutivo em um referendo sobre a nova Constituição, considerado determinante para uma possível futura candidatura do general Al-Sissi. Embora ainda não tenha sido informado quantos eleitores foram votar, acredita-se que a Constituição será aprovada. O governo espera pelo menos 70% de votos favoráveis.

As seções eleitorais abriram às 5h (horário de Brasília). Poucos incidentes foram registrados nas primeiras horas desta quarta-feira, depois da morte de nove pessoas em confrontos na periferia do Cairo na terça entre partidários de Mursi e grupos de adversários do dirigente islâmico e a polícia.

A nova Constituição substituirá a redigida durante a presidência de Mursi, a qual obteve 64% de votos favoráveis no referendo de dezembro de 2012. Neste, a participação nas urnas chegou a apenas 33%.

Nesta quarta, dezenas de eleitores de Mursi bloquearam uma estação de metrô no subúrbio do Cairo, levando a choques considerados limitados pelas forças de segurança.

Cerca de 250 pessoas foram detidas, entre elas membros da Irmandade Muçulmana, movimento de Mursi, por perturbar a votação.

Os confrontos de terça expuseram a fragilidade das forças no poder no mais populoso país árabe, que ainda se ressente da queda de Mursi e da dura repressão a seus militantes.

Mais de mil pessoas morreram em confrontos entre partidários de Mursi e a polícia desde que o Exército afastou o então presidente do poder em julho, e outros milhares foram detidos, entre eles a maioria dos líderes da Irmandade.

Além disso, multiplicaram-se os atentados, cuja autoria foi reivindicada pelos grupos jihadistas. Esses grupos dizem se inspirar na rede Al-Qaeda.

A porta-voz adjunta do Departamento de Estado americano, Marie Harf, manifestou a preocupação dos Estados Unidos com as informações sobre fatos violentos no primeiro dia de votação, mas disse esperar os relatos de "observadores egípcios e internacionais independentes" sobre o assunto.

Ela disse ainda que uma cláusula de um projeto de lei que deve ser aprovado no Congresso na sexta-feira deve permitir à Casa Branca descongelar US$ 1,5 bilhão de ajuda para o Egito, caso se certifique que o país "realizou um referendo constitucional e está dando passos para apoiar uma transição democrática".

A imprensa egípcia, que fez campanha unânime pelo "sim", elogiou o primeiro dia de votação.

"Sim, embora os criminosos odeiem", dizia a capa do jornal privado "Al Waft", referindo-se aos partidários de Mursi.

"Os egípcios escolhem seu futuro", era a manchete do jornal estatal "Al Gomhuria".

O governo interino garantiu que, após o referendo, haverá eleições legislativas e presidencial no país.

"Nós confiamos na Irmandade Muçulmana e aceitamos sua Constituição, seu governo e seu parlamento (...), mas nos enganaram. Agora, votamos nessa Constituição para sair da crise", comentou a eleitora do Cairo Yihan Abdelaziz.

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