ETA começa a depor armas, um novo passo para o seu desaparecimento

Em Bilbao (Espanha)

O ETA começou a depor suas armas, anunciou nesta sexta-feira (21) um grupo de especialistas estrangeiros em visita ao País Basco, um grande passo para o desaparecimento deste grupo separatista basco após o abandono da violência em 2011.

A Comissão Internacional de Verificação do acordo de cessar-fogo, criada em 2011 e que não é reconhecida por Madri, constatou em janeiro que o ETA "lacrou e tornou inoperante uma certa quantidade de armas, munições e explosivos", anunciaram esses especialistas em Bilbao, no norte da Espanha.

Paralelamente, um vídeo publicado por vários meios de comunicação mostra dois militantes do ETA, encapuzados, mostrando aos especialistas armas sobre uma mesa.

As imagens, registradas em janeiro de 2014, mostram um pequeno estoque incluindo um fuzil, uma pistola e dois revólveres, além de 300 cartuchos e 17 quilos de explosivos, segundo o inventário publicado pela comissão.

Em abril de 2013, segundo o presidente da comissão Ram Manikkalingam, "o ETA pediu confidencialmente que fosse incluído no seu mandato um processo unilateral de selamento e inoperação de armas, munições e explosivos.

A inutilização de um primeiro estoque de armas é "um passo credível e significativo", considera a comissão. "Acreditamos que isso vai levar à aposentadoria do uso de todas as armas, munições e explosivos do ETA", acrescentou.

Uma primeira etapa

O governo basco reconheceu imediatamente "o passo dado pelo ETA", mas afirmou que o grupo deve ir mais longe.

"É um pequeno passo, insuficiente, mas marca uma primeira etapa necessária para o desarmamento completo", declarou o presidente da região, Iñigo Urkullu, um nacionalista conservador do PNV.

O ETA, que teria pouco mais de trinta ativistas em liberdade, havia se recusado até agora considerar o desarmamento enquanto não fossem atendidas algumas de suas reivindicações, incluindo o retorno ao País Basco de seus ativistas presos.

Por sua vez, o governo de direita espanhol continua a exigir a dissolução incondicional do grupo.

Quinta-feira, em Paris, o ministro espanhol do Interior, Jorge Fernandez Diaz, falou de "fatos perfeitamente verificáveis pelas forças de segurança".

Por trás de uma aparente bloqueio, as linhas mudaram nos últimos anos no País Basco: os partidos independentistas de esquerda ganharam influência desde 2012, tornando-se a segunda força política regional.

O ETA, muito enfraquecido, multiplicou os sinais desde o seu último ataque na Espanha, em agosto de 2009.

Uma nova mensagem foi publicada em 28 de dezembro pelo coletivo EPPK, que representa os mais de 500 membros do grupo dispersados em prisões espanholas e francesas.

Muito esperado, o texto reiterou o abandono da violência e evocou, pela primeira vez, possíveis medidas individuais de libertação, sem mencionar a aplicação de uma anistia coletiva, histórica reivindicação do ETA.

Este anúncio foi interpretado como um abrandamento da posição do grupo, na lista de organizações terroristas da União Europeia e dos Estados Unidos e acusado da morte de 829 pessoas em mais de 40 anos em ataques pela independência do País Basco e Navarra.

Outros sinais vieram da sociedade basca, como uma manifestação no dia 11 de janeiro, que reuniu mais de 100.000 pessoas em Bilbao, convocada pela esquerda independentista e o PNV (Partido Nacionalista), em resposta à proibição pelos tribunais espanhóis de uma outra manifestação em defesa dos prisioneiros.

Em 7 de fevereiro, em um novo comunicado, o ETA reconheceu seus "avanços", anunciando que em breve faria um gesto "significativo".

Fundada em setembro de 2011, pouco antes do anúncio histórico do abandono da violência, a comissão de verificação é formada por especialistas em conflito, como o ex-ministro sul-africano de inteligência Ronnie Kasrils e Chris Maccabe, que participou do processo de paz na Irlanda do Norte.

No início de 2013, contatos estabelecidos na Noruega com membros do ETA se esgotaram em um contexto de bloqueio total.

Mas, depois de uma pausa de vários meses, a comissão retomou os contatos, provavelmente fora de Espanha, com o grupo na clandestinidade, o que levou a esta visita.

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