Rebeldes pró-russos retiram corpos de avião e EUA reforçam acusação contra Rússia

Em Grabove, na Ucrânia

Os rebeldes pró-russos recolheram os corpos dos ocupantes do avião malaio que caiu no leste da Ucrânia e os colocaram em trens frigoríficos para levá-los para a cidade de Donetsk, à espera da chegada dos peritos internacionais para avaliar a tragédia.

Os Estados Unidos, por sua vez, insistiram em sua acusação de que Moscou forneceu o míssil que derrubou a aeronave, matando 298 pessoas que estava a bordo.

Em declarações em que incrimina mais claramente a Rússia, o secretário de Estado americano, John Kerry, assegurou que o sistema de mísseis que derrubou o avião da Malaysia Airlines foi "transferido da Rússia para as mãos dos separatistas" pró-russos.

Kiev elevou a tensão, ao publicar a gravação de uma conversa interceptada entre dois rebeldes que pretendiam ocultar as caixas pretas do avião dos observadores internacionais.

Imagens da BBC, por sua vez, mostram oficiais aparentemente carregando uma suposta caixa preta, o que não pôde ser verificado com fontes independentes.

Por outro lado, os peritos internacionais chegarão nesta segunda-feira à zona de impacto, segundo anunciou o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte.



O voo MH17 foi derrubado supostamente por um míssil terra-ar, matando seus 298 ocupantes, em sua maioria holandeses, e aumentando drasticamente o peso do conflito regional que começou três meses atrás.

Os insurgentes asseguraram ter recolhido objetos que parecem ser as caixas-pretas, mas prometeram entregá-las aos "investigadores internacionais quando chegarem".

Um líder rebelde, Alexandre Borodai, explicou no domingo, em Donetsk, que a transferência dos cadáveres para trens frigoríficos foi necessário para protegê-los.

"Ontem começamos a transferir os corpos porque não podíamos esperar mais pelo calor e também porque na região há muitos cães e animais selvagens", explicou o líder da autoproclamada república de Donetsk, em coletiva de imprensa.

o porta-voz da OSCE, Michael Bociurkiw, descreveu o cheiro na estação de Torez, cidade próxima ao local da queda do avião, onde estão os corpos, como "praticamente insuportável".

Os corpos, alguns queimados e desmembrados, ficaram apodrecendo junto aos restos do avião. Os objetos pessoais também estavam espalhados ao longo de vários quilômetros, onde era possível ver malas, passaportes, livros e brinquedos.

Imagens monstruosas

O conflito entre as tropas ucranianas e os rebeldes separatistas, nos quais pelo menos 13 pessoas ficaram feridas nas últimas 24 horas, continuava a 100 km de Grabove.



As autoridades ucranianas disseram que não podiam garantir a segurança dos investigadores no local da catástrofe, controlada por insurgentes desde o mês de abril.

Kerry, cujo país denunciou em várias oportunidades a falta de segurança no local, culpou diretamente a Rússia de ter fornecido a arma que derrubou o avião.

"Sabemos com certeza que os ucranianos não tinham um sistema como esse nas imediações nesse momento. Portanto, isto aponta, obviamente, para os separatistas", afirmou.


O chefe da diplomacia americana também qualificou como "monstruosas" as imagens do local onde o avião caiu e afirmou que os rebeldes estavam atrapalhando a investigação e o resgate dos corpos das 298 vítimas.

"Há informações de soldados separatistas bêbados empilhando corpos em caminhões, tirando tanto corpos quanto provas do local", disse.

O presidente francês, François Hollande, a chefe do governo alemão, Angela Merkel, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron, ameaçaram impor novas "sanções" à Rússia se seu presidente, Vladimir Putin, não consegue que os separatistas pró-russos permitam o acesso "total e livre" à zona onde caiu o voo MH17, que fazia a rota entre Amsterdã e Kuala Lumpur.

"Rússia deve entender que a solução da crise ucraniana é mais urgente do que nunca, depois da tragédia que indignou o mundo inteiro", informou, em um comunicado, o gabinete do presidente francês, após a conversação dos dirigentes.


O jornal Washington Post noticiou que os serviços de inteligência da Ucrânia tinham imagens e provas de que três mísseis Buk M-1 tinham sido transportados do território controlado pelos rebeldes para a Rússia na sexta-feira pela manhã, 12 horas após a catástrofe.

A embaixada dos Estados Unidos confirmou a autenticidade das gravações divulgadas por Kiev na quinta-feira de telefonemas interceptados entre um líder rebelde e um encarregado do serviço de informação russo, nas quais falavam sobre ter derrubado um avião de passageiros.

Mas o que sugerem as autoridades russas é que o novo governo de Kiev lançou o ataque para colocar a culpa nos rebeldes e, assim, convencer seus aliados ocidentais que os ajudem militarmente a combatê-los.

Rutte, cujo país perdeu 192 cidadãos no acidente, também falou com Putin e exigiu que se responsabilize por uma investigação confiável, durante conversa telefônica - a terceira que tem com presidente russo - que descreveu como "muito tensa".

Segundo ele, no entanto, Putin prometeu sua cooperar para recuperar os corpos das vítimas e as caixas pretas.

Em outra conversa de Putin, dessa fez com o primeiro-ministro australiano, Tony Abbot, o presidente russo disse que todas "as coisas estão em ordem".

Abbott não deu mais detalhes sobre o que discutiu com Putin, mas disse que a responsabilidade agora é de Moscou, que deve cumprir sua palavra.

Por fim, parentes das vítimas da catástrofe, procedentes de uma dezena de países, pediam que os restos mortais lhes fossem entregues.

"Neste momento, só espero que o mundo possa ajudar as famílias a recuperar os restos" mortais, disse à AFP, em Kuala Lumpur, Zulkifli Abdul Rahman, cunhado de uma das aeromoças.

Veja os 10 acidentes aéreos mais fatais
583

27 de março de 1977

Dois jatos jumbo colidiram na pista de aterrissagem do aeroporto de Santa Cruz de Tenerife, nas Ilhas Canárias. Eles foram desviados porque o aeroporto de destino de ambos, Las Palmas, foi fechado após a descoberta de uma bomba.

520

12 de agosto de 1985

Um Boeing 747 da Japan Airlines perdeu as funções do controle de voo primário devido a uma ruptura no sistema de pressão e chocou-se contra uma montanha no Japão.

349

12 de novembro de 1996

Um avião que ia do Cazaquistão para Deli, na Índia, chocou-se no ar com um voo da Saudi Arabian Airlines que saia da capital indiana para a Arábia Saudita.

346

3 de março de 1974

Um DC-10 da companhia aérea Türk Hava Yollari que ia de Istambul para Paris e Londres, caiu por uma pane após pousar na capital Francesa, reabastecer, embarcar mais passageiros e partir para a Inglaterra.

329

23 de junho de 1985

Boeing 747 da Air-India cai perto da costa da Irlanda depois da explosão de uma bomba em sua fuselagem.

301

19 de agosto de 1980

Um jato L-1011 da Saudi Arabian Airlines explode durante pouso de emergência em Riad devido a fogo no compartimento de carga.

290

3 de julho de 1988

Um Airbus A-300 da Iran Air foi derrubado por um porta-aviões norte-americano sobre o Golfo Pérsico.

275

19 de fevereiro de 2003

Um avião da Força Aérea da Guarda Revolucionária Iraniana chocou-se com um pico das montanhas de Sirach.

271

25 de maio de 1979

Um DC-10 da American Airlines caiu pouco depois de decolar de um aeroporto de Chicago devido a um problema na asa esquerda.

269

1 de setembro de 1983

Um Boeing 747 da Korean Air Lines foi derrubado por um caça soviético após entrar no espaço aéreo da União Soviética, perto da ilha Sakhalina.

Fonte: Aviation Safety Network

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