Milícias curdas na Síria acusam Turquia de bombardear suas posições

Em Ancara

  • Abd Doumany/AFP

Milícias curdas na Síria acusaram nesta segunda-feira (27) a Turquia de bombardear suas posições, em meio à crescente tensão com Ancara desde que iniciou sua ofensiva contra o EI (Estado Islâmico) e os rebeldes curdos do PKK.

Neste contexto, Ancara prometeu continuar os ataques contra os rebeldes curdos até que estes deixem as armas.

De acordo com essas milícias, principal grupo que combate os jihadistas do EI em território sírio, vários tanques turcos dispararam contra duas aldeias na zona fronteiriça de Zur Maghar, na província de Aleppo (norte da Síria), e deixaram quatro combatentes feridos.

Estes tiros foram confirmados pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede no Reino Unido que tem uma ampla rede de informantes no país.

"Em vez de atacar posições dos terroristas do EI, as forças turcas atacam nossas posições de defesa", denunciaram em um comunicado as Unidades de Proteção do Povo Curdo (YPG). "Pedimos ao Exército turco que pare de atirar contra nossos combatentes e as suas posições", acrescentaram.

No entanto, um oficial turco negou as acusações. "As operações em andamento têm por objetivo neutralizar as ameaças contra a segurança nacional turca (...) O PYD (principal partido curdo na Síria), junto a outros, não forma parte dos alvos de nossas operações militares", declarou à AFP sob condição de anonimato este funcionário.

"É impossível que tenham sido bombardeados", insistiu por sua vez à AFP uma autoridade do ministério das Relações Exteriores turco.

Mudança

O governo turco mudou radicalmente na semana passada sua política na Síria e decidiu atacar pela primeira vez o EI, que acusa de estar por trás do ataque que deixou 32 mortos na segunda-feira (20) na cidade de Suruç, perto da fronteira com a Síria.

Até então, a Turquia era acusada de fechar os olhos para os grupos radicais que combatem o regime de Damasco.

"Não queremos ver o Daesh [acrônimo em árabe do EI] perto da fronteira turca", insistiu o primeiro-ministro conservador Ahmet Davutoglu em uma entrevista publicada nesta segunda-feira, garantindo, porém, que não envirá tropas terrestres.

Neste contexto, os Estados Unidos e a Turquia decidiram trabalhar conjuntamente para livrar o norte da Síria, ao longo da fronteira turca, do EI, segundo anunciou uma autoridade nesta segunda.

"O objetivo é estabelecer uma zona livre do EI e de melhorar a segurança e a estabilidade ao longo da fronteira", declarou à AFP.

Ofensiva contra o PKK

Em paralelo a sua ofensiva contra o EI, Ancara tem realizado bombardeios contra bases do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) no norte do Iraque, após uma série de ataques contra suas forças de segurança. No domingo, vários aviões F-16 decolaram da base de Diyarbakir, no sudeste da Turquia, em direção às montanhas Kandil, onde estão as bases de retaguarda do movimento rebelde.

"A Turquia prosseguirá até que o PKK renuncie às armas", proclamou o primeiro-ministro Davutoglu.

Após o início dos bombardeios, o movimento curdo anunciou o fim da trégua em vigor desde 2013 e reivindicou um ataque com carro-bomba que matou dois soldados no sudeste do país.

"Se o PYD rompe com o regime [do presidente sírio, Bashar al] Assad e não representa uma ameaça para a Turquia [...] pode unir-se ao movimento para uma Síria democrática", garantiu o primeiro-ministro.

"No entanto, se tentar realizar uma limpeza étnica na região [...] as coisas serão diferentes", disse ele.

A Turquia acusa os curdos da Síria de realizar uma "limpeza étnica" em áreas sob seu controle e teme a criação de uma entidade autônoma curda na Síria, o que ameaçaria sua fronteira sul.

O primeiro-ministro reivindicou a luta contra os jihadistas e o PKK e disse que esta ofensiva poderia "mudar o equilíbrio" na região.

A pedido da Turquia, a Otan se reunirá na terça-feira em Bruxelas para discutir a situação militar na área.

"Eu não acredito que [os turcos] vão pedir uma contribuição militar concreta", disse à televisão norueguesa NRK o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, que elogiou o fato de a Turquia "intensificar a sua luta contra o EI".

O governo turco também autorizou aviões americanos que bombardeiam os jihadistas na Síria e no Iraque de usar em sua base de Incirlik, no sul do Afeganistão.

A ofensiva turca tem provocado protestos contra o presidente Recep Tayyip Erdogan, que os curdos acusam de ser cúmplice dos jihadistas.

Como parte desta "guerra ao terrorismo" a polícia também prendeu centenas de pessoas (1.060 de acordo com uma autoridade turca) por supostas ligações com o PKK, o EI e a extrema esquerda.

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