Mergulhado em violência sectária, Iêmen vive 'vácuo de poder'; entenda
Mergulhado em uma crise sectária sem precedentes, o Iêmen, país localizado no extremo sudoeste da Península Arábica, vive atualmente um 'vácuo de poder', com grupos rivais disputando o controle do território que, apesar de empobrecido, tem grande importância estratégica.
Nesta quinta-feira (26), uma coalizão liderada pela Arábia Saudita lançou ataques aéreos contra os rebeldes houthis, dizendo estar "defendendo o governo legítimo" do presidente Abdrabbuh Mansour Hadi, que fugiu para um destino desconhecido após forças rebeldes terem se aproximado de seu refúgio em Áden, no dia anterior.
Uma autoridade houthi alertou a coalizão de que a ofensiva ameaça provocar uma guerra maior. O Irã, potência xiita, acusado pela sunita Arábia Saudita de apoiar os rebeldes, também pediu o fim dos ataques, que --a seu ver-- "violam" a soberania do Iêmen.
A ofensiva tem apoio "logístico e de inteligência" dos Estados Unidos.
Os ataques deixaram pelo menos 13 mortos na capital Sanaa, segundo a agência de notícias AFP. Confrontos entre rebeldes e soldados e leais a Hadi mataram ao menos 18 no sul do país nesta quinta, disse a AFP.
O Iêmen está rapidamente mergulhando num caldeirão violento, com uma mistura perigosa de interesses de rebeldes houthis xiitas, tribos sunitas, Arábia Saudita, Irã, Al Qaeda e, agora, o grupo Estado Islâmico.
Veja abaixo alguns pontos que explicam o conflito.
Quem luta contra quem?
No últimos meses, diversos grupos diferentes têm se enfrentado no Iêmen, levando o país "à iminência de uma guerra civil", segundo o enviado especial da ONU.
O presidente Hadi fugiu para Áden, no sul do país, após ter sido expulso da capital, Sanaa. Apoiado por grupos leais do Exército, da polícia e de uma milícia conhecida como Comitês de Resistência Popular, ele tenta combater forças aliadas a rebeldes xiitas conhecidas como houthis.
Os houthis, apoiados por parte das forças de segurança e o Irã, atacaram Sanaa em setembro. Desde então, têm expandido seu controle sobre porções do país.
Hadi e os houthis enfrentam a oposição do grupo local da Al Qaeda na Península Arábica, que realizou diversos ataques a partir de seu reduto nas regiões sul e sudeste.
A situação é ainda mais complicada devido o surgimento, no ano passado, de uma organização afiliada ao grupo autodenominado Estado Islâmico (EI), que tenta derrotar o braço local da Al Qaeda.
Na semana passada, o Estado Islâmico disse ter realizado ataques em duas mesquitas em Sanaa, que mataram cerca de 140 pessoas em um dos piores atentados na história do Iêmen.
Quem são os houthis?
Os houthis são membros de um grupo rebelde, também conhecido como Ansar Allah ("Partidários de Deus"), seguidores de uma versão do xiismo conhecida como zaidismo. Os zaidis são cerca de um terço da população do Iêmen e governaram o norte do país por quase mil anos, até 1962.
O nome é derivado de Hussein Badr al-Din al-Houthi. Ele liderou a primeira insurgência do grupo em 2004 num esforço para garantir maior autonomia da Província de Saada, reduto dos houthis, e proteger as tradições religiosas e culturais zaidistas de um alegado risco de islamistas sunitas.
Após Houthi ser morto pelo Exército iemenita em 2004, sua família assumiu o controle do grupo e liderou cinco outras insurgências antes de um cessar-fogo ser assinado com o governo, em 2010.
Em 2011, os houthis participaram de protestos contra o então presidente Saleh e se aproveitaram de um vácuo no poder para expandir seu controle territorial em Saada e na Província vizinha de Amran.
Eles, então, participaram de uma conferência de diálogo nacional, que levaram o presidente Hadi a anunciar planos, em fevereiro de 2014, para a transformação do Iêmen numa federação de seis regiões.
Os houthis, no entanto, se opuseram ao plano, alegando que sairiam enfraquecidos.
Por que o conflito é importante?
O que acontece no Iêmen pode exacerbar tensões regionais e também preocupa o Ocidente devido à ameaça de ataques que podem ser planejados no país.
Agências de inteligência ocidentais consideram a Al Qaeda na Península Arábica o braço mais perigoso da Al Qaeda devido a seu conhecimento técnico e alcance mundial.
O conflito entre os houthis e o governo eleito também é visto como parte de uma disputa regional de poder entre o xiita Irã e a sunita Arábia Saudita.
O Irã apoia os houthis, mas é desconhecido o tamanho dessa ajuda. Já a Arábia Saudita, que faz fronteira com o Iêmen, apoia Hadi.
É no Iêmen que está localizado o importante estreito de Bab al-Mandab, ligação marítima entre o Mar Vermelho e o Golfo de Áden, por onde passa a maioria dos petroleiros do mundo. O Egito e a Arábia Saudita temem que uma tomada de poder pelos houthis poderia ameaçar a viabilidade econômica do estreito.
Como a situação saiu do controle?
Em resumo, os houthis assumiram o poder formalmente após meses expandindo seu controle. O grupo dissolveu o Parlamento e anunciou planos para uma assembleia interina e um conselho presidencial de cinco membros, que governaria por até dois anos.
A decisão preencheu um vácuo político aberto em janeiro com a renúncia de Hadi, do primeiro-ministro e do governo após os houthis terem colocado o presidente sob prisão domiciliar e detido outros importantes líderes. Em fevereiro, no entanto, após escapar da prisão domiciliar, Hadi voltou atrás em sua renúncia.
Os houthis são uma minoria xiita do norte, e o governo deles não foi reconhecido por sunitas e líderes do sul, ameaçando ainda mais o Iêmen.
O presidente Hadi, que é reconhecido como o líder legítimo do Iêmen pela comunidade internacional, conseguiu escapar para Áden, declarada por ele a capital de facto do país.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.