Bets machucam mais que cadeirada
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É um mercado que movimenta mais de R$ 10 bilhões todo mês. É uma aposta em que a banca sempre ganha, e a maioria sempre perde. Assim funciona o mercado emergente das bets esportivas, dos cassinos, bingos e jogo do bicho online.
Após seis anos de vale-tudo, ele está sendo regulamentado pelo governo. Pela primeira vez, uma pesquisa face a face estima quantas pessoas fazem parte da jogatina.
Cerca de 28 milhões de brasileiros admitiram ao Ipec (antigo Ibope) já terem jogado online a dinheiro alguma vez na vida. É mais do que a população de Minas Gerais.
A informação exclusiva está no episódio desta semana do podcast A Hora, do UOL. Leia mais aqui.
Marçal caiu da cadeira antes da cadeirada, mas ajudou Nunes
O Datafolha já tinha mostrado na semana passada e reforçou a constatação com a pesquisa divulgada nesta quinta-feira: Pablo Marçal (PRTB) caiu na intenção de voto e cresceu na rejeição. Sua viabilidade eleitoral é decrescente. Não, não foi a cadeirada. Ele já havia caído da cadeira e por sua própria culpa pelo menos uma semana antes de ter sido agredido durante um debate com outros candidatos a prefeito de São Paulo.
A direita brasileira não é solidária nem na cadeirada. Marçal ficou se lamuriando sozinho na ambulância que foi buscá-lo no estúdio da TV Cultura, onde havia sido golpeado com uma banqueta de metal após provocar o candidato do PSDB, José Luiz Datena.
Quase ninguém do mundo político se solidarizou com o Marçal. O também influencer Nikolas Ferreira (PL) foi o autor do post de maior engajamento sobre o tema. Limitou-se a lacrar, dizendo, em tom jocoso: "Datena vai aparecer no Datena". Nada sobre Marçal.
Marçal foi vítima do próprio veneno. Havia semanas, ele vinha desmoralizando os debates e tratando o processo eleitoral como um espetáculo de stand-up de baixa qualidade. Quando suas provocações finalmente levaram Datena às vias de fato (ele chamou-o, dissimuladamente, de estuprador), a agressão física não gerou indignação, compaixão. Virou piada, chacota, gozação.
Marçal consolida-se, assim, como um mosquito político: incomoda muita gente, impede o eleitor de se concentrar no que importa, rouba atenção e ainda transmite vírus (via redes). Mas sua influência é um surto: teve um pico de contágio e logo refluiu.
O mosquito ajudou Ricardo Nunes (MDB), porém. Monopolizou as atenções e evitou que o prefeito se tornasse o alvo de todos os seus adversários - como haveria de ser se Marçal não existisse. Leia mais aqui.
Avaliação de Lula na área ambiental despenca após queimadas
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OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberUma área equivalente ao território do estado do Paraná inteiro já pegou fogo neste ano no Brasil e há mais de cem incêndios ativos sem combate em curso. Enquanto isso, o governo federal tenta improvisar uma resposta política à emergência climática.
Além de anunciar mais de R$ 500 milhões e fazer reuniões com chefes dos Três Poderes e governadores, o governo Lula decidiu desengavetar uma promessa de campanha. A criação da autoridade climática, contudo, se sair, terá sido sem embasamento técnico, dotação orçamentária ou força política.
A ideia foi originalmente proposta por Marina Silva, ministra do Meio Ambiente, na eleição de 2022. Lula assentiu, mas o Congresso eleito em 2023 foi resistente e o plano foi para a gaveta.
Agora, diante do fogo, a proposta ressurge, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já sinalizou que, para aprová-la, o nome indicado precisará ter o respaldo dos deputados e senadores.
Portanto, nada indica que a autoridade climática a ser criada resultará de uma tomada de consciência e responsabilidade da agenda ambiental e de força política de Marina Silva.
A ministra, ao contrário, muitas vezes recorreu a Fernando Haddad, titular da Fazenda e alinhado a ela na agenda climática, para mostrar respaldo em Brasília. Mas Haddad possui um antagonista no governo: o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa.
Costa não apenas diverge de Haddad na questão fiscal. Na questão ambiental também ele tem uma posição distinta, mais afinada com a visão histórica do PT —e de Lula— de desenvolvimentismo baseado na exploração de petróleo e combustíveis fósseis.
Em meio às queimadas, a avaliação de Lula na área ambiental sofre queda.
Em abril, a avaliação de Lula sobre meio ambiente está elas por elas: 33% achavam boa ou ótima e 33%, ruim ou péssima - segundo o Ipec (antigo Ibope). Aí vieram as queimadas históricas, a seca e o calor fora de hora, as nuvens de fumaça intoxicaram metade do Brasil e a opinião pública mudou.
Em setembro, o Ipec constatou que 44% acham a atuação do presidente ruim ou péssimo quando o tema é meio ambiente, e só 27% acham boa ou ótima. O empate de abril virou um déficit de 17 pontos.
A avaliação é ainda pior entre quem fez faculdade, entre moradores do Sudeste e do Norte/Centro-Oeste e nas grandes cidades e, como esperado, entre bolsonaristas. Mas mesmo entre eleitores de Lula, 19% acham que a atuação do presidente foi ruim ou péssima quando o assunto é meio ambiente.
Maioria é contra Lula tentar se reeleger. Por quê?
Há meses, o desemprego está no menor patamar em uma década, os preços dos alimentos têm caído, e a economia crescido além do previsto. Nada disso ajudou a melhorar a popularidade de Lula.
Segundo o Ipec (antigo Ibope), a taxa de ruim/péssimo do governo federal foi de 31% em julho para 34% em setembro e chegou ao seu maior patamar no terceiro mandato do presidente. A taxa de ótimo/bom oscilou de 37% para 35%, a segunda mais baixa na série de oito pesquisas do Ipec, atrás de março (33%).
Piores ainda são as avaliações que os eleitores fazem sobre as políticas do governo para questões específicas:
- Combate à inflação - 23% de ótimo/bom x 47% de ruim/péssimo;
- Combate ao desemprego - 30% a 40%
- Saúde: 26% a 43%
- Meio ambiente: 27% a 44%
- Educação: 37% a 34%
Não por coincidência, a maioria da população acha que Lula não deveria concorrer à reeleição em 2026: 58% responderam que não, e só 39% responderam que sim. A pesquisa não perguntou o motivo.
Algumas especulações:
- Pode ser por influência das queimadas e do ar irrespirável quando a pesquisa foi feita;
- Pode ser porque a comunicação do governo é ruim;
- Pode ser fruto do domínio da direita nas redes sociais;
- Pode ser por etarismo (Lula terminaria um eventual quarto mandato com 85 anos).
Ou pode ser que as políticas públicas estejam de fato deixando a desejar. O governo tem dois anos para descobrir.
Escute a íntegra do podcast A Hora
Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky
A Hora é o novo podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube.
Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados de manhã.
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