Conteúdo publicado há 2 meses
A Hora

A Hora

Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Como Marcelo Rubens Paiva deu um nó na extrema direita

Agora é a vez de Marcelo Rubens Paiva, autor do clássico "Feliz Ano Velho", filho do deputado Rubens Paiva, sequestrado e morto pela ditadura militar, e de Eunice Paiva, advogada e ativista dos direitos humanos e da causa indígena.

Esta última é a grande inspiração para o livro "Ainda Estou Aqui", escrito por Marcelo. Adaptado por Walter Salles para o cinema, o filme é protagonizado por Fernanda Torres e foi aclamado no Festival de Veneza, com dez minutos de aplausos e o prêmio de Melhor Roteiro.

A colunista do UOL Thais Bilenky conversou com Marcelo, e ele confidenciou seu sentimento de justiça ao final da exibição. Justiça à mãe, à história da família dele e uma sensação de vingança contra o ex-presidente Bolsonaro que, enquanto deputado, cuspiu no busto de Rubens Paiva na Câmara dos Deputados.

Também teve a questão do timing, 'perfeito' nas palavras de Marcelo, com a estreia do filme no momento de ascensão da extrema direita em vários países, inclusive na Itália, onde eles estavam. Tinha todo um ambiente e uma receptividade ao filme que, em outro momento, talvez tivesse um apelo diferente.

Foram 16 anos ao todo até o filme ficar pronto

"Ainda Estou Aqui" começou a ser esboçado em 2008, quando Eunice foi interditada pela família devido ao diagnóstico avançado de Alzheimer.

Em 2013, protestos pedindo intervenção militar e fazendo apologias ao AI-5 deixaram Marcelo perplexo.

Em 2014, participou da Flip (festa literária de Paraty) e acompanhou a discussão sobre os protestos do ano anterior. Isso o fez questionar sobre o fato das gerações mais novas não entenderem a gravidade de um novo golpe militar.

No mesmo ano, o governo Dilma instalou a Comissão da Memória e da Verdade, e seu pai teve finalmente a morte confirmada de forma oficial pelo Estado brasileiro.

Ainda em 2014 se tornou pai, o que o fez refletir sobre como o pai se sentiu entre as 24 e 48 horas que passou agonizando sob tortura antes de morrer. "Será que eu errei, que eu não devia ter voltado para o Brasil? O que vai acontecer com meus filhos?"

Com todo esse caldo, Marcelo terminou o livro em 2015 e, dois anos depois, Walter Salles decidiu adaptar para o cinema. Oito anos se passaram, incluindo o período de pandemia e o governo Bolsonaro. Marcelo chegou a assistir a uma versão não acabada do longa, mas a estreia em Veneza, na telona, foi quando ele o viu pela primeira vez.

Durante os dias do festival, Marcelo cumpriu toda a agenda de estreia em festival e desfilou no tapete vermelho com toda a equipe do filme antes dos astros Brad Pitt e o George Clooney, que também estavam estreando um longa.

"Ele passou na frente, deixou o George Clooney para trás. E quem é Brad Pitt na fila do pão?", brincou Thais Bilenky.

Continua após a publicidade

Escute a íntegra do podcast A Hora

Podcast A Hora, com José Roberto de Toledo e Thais Bilenky

A Hora é o novo podcast de notícias do UOL com os jornalistas Thais Bilenky e José Roberto de Toledo. O programa vai ao ar todas as sextas-feiras pela manhã nas plataformas de podcast e, à tarde, no YouTube.

Escute a íntegra nos principais players de podcast, como o Spotify e o Apple Podcasts já na sexta-feira pela manhã. À tarde, a íntegra do programa também estará disponível no formato videocast no YouTube. O conteúdo dará origem também a uma newsletter, enviada aos sábados de manhã.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.