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Alberto Bombig

REPORTAGEM

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As razões da dobradinha Haddad-Tarcísio: petista escolheu seu adversário

Haddad (à esq.) e Tarcísio no debate da TV Globo - Reprodução/TV Globo - 27.set.2022
Haddad (à esq.) e Tarcísio no debate da TV Globo Imagem: Reprodução/TV Globo - 27.set.2022

Colunista do UOL

28/09/2022 10h41Atualizada em 28/09/2022 10h45

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O debate da TV Globo com os candidatos ao governo de São Paulo evidenciou o que ainda estava restrito aos bastidores: o PT escolheu Tarcísio Gomes de Freitas (Republicanos) como o adversário ideal para Fernando Haddad enfrentar no segundo turno da eleição em São Paulo. O petista e o ex-ministro de Jair Bolsonaro fizeram uma dobradinha para isolar Rodrigo Garcia (PSDB).

Até momentos antes do debate, realizado na quinta-feira, 27, havia dúvidas no partido se o melhor não seria ter Rodrigo como adversário na fase decisiva, mas acabou prevalecendo a opinião do grupo (majoritário) que vê na replicação no estado da polarização entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), padrinho de Tarcísio, uma chance maior de vitória para Haddad, o candidato do ex-presidente.

Foram três os principais fatores que motivaram essa estratégia:

1) Lula se encaminha para vencer a eleição presidencial no primeiro turno e, portanto, Tarcísio não será um palanque forte para Bolsonaro no maior colégio eleitoral do país na fase decisiva.

2) Os números da mais recente pesquisa Ipec: nas projeções de segundo turno, o levantamento aponta vitória de Haddad na disputa com Tarcísio e empate na margem de erro com Rodrigo, candidato à reeleição. É justamente esse dado que deverá ser explorado pela campanha do governador tucano nesta reta finalíssima de primeiro turno.

3) O PT entende que poderá aumentar a rejeição de Tarcísio no segundo turno ligando o candidato do Republicanos diretamente aos desmandos de Bolsonaro; em outras palavras, para os petistas, o ex-ministro da Infraestrutura é um candidato que pode ser "desconstruído".

Antipetismo. Rodrigo, que até agora procurou manter uma posição de centro na eleição, tentará convencer o eleitor de que ele tem mais força do que Tarcísio para derrotar o PT no segundo turno. Por isso, o tucano tentará atrair os votos de quem, acima de qualquer ideologia ou preferência política, é antipetista.

Em linhas gerais, a questão colocada agora é se o chamado campo azul do eleitorado paulista (formado por aqueles que não gostam do PT) irá votar no próximo domingo (2) mais motivado pela polarização, ou seja, em Tarcísio, ou pela rejeição aos petistas, nesse caso, em Rodrigo. Os dois disputam uma vaga contra Haddad no segundo turno.

Nessa toada, a campanha de Rodrigo lembrará que o PSDB vem impondo derrotas aos petistas no Estado desde 1994, quando Mario Covas (1930-2001) tirou a vaga de Marta Suplicy, então no PT, no segundo turno.

O problema dos tucanos é que Tarcísio, nesse quesito do antipetismo, conta com um cabo-eleitoral poderoso chamado Jair Bolsonaro. Desde 2018, o atual presidente tirou do PSDB o posto de polo contrário a Lula no espectro político.

Sobrará também para Rodrigo investir em um voto últil contra o bolsonarismo, mirando um eleitor de centro e centro-esquerda que pode até votar em Haddad no segundo turno, mas que terá como prioridade no domingo (2) afastar São Paulo dos tentáculos do clã Bolsonaro.

O único consenso, por ora, é que a eleição para o governo de São Paulo ainda está aberta, com 9% de indecisos, segundo o Ipec, e que os tucanos, hegemônicos desde 1995, travam uma batalha dura, capaz de definir o futuro do partido.