Amanda Cotrim

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Argentina enfrenta greve geral de trens convocada por sindicato peronista

O governo de Javier Milei enfrenta mais uma greve nacional, de 24 horas, promovida pelos condutores de trens de carga e passageiros. A paralisação começou à meia-noite.

A greve é encabeçada pela agremiação peronista A Fraternidade e acontece duas semanas depois do aumento da tarifa do transporte público em todo o país. Só em Buenos Aires, a passagem triplicou.

Em razão da greve, só na região metropolitana de Buenos Aires, cerca de 1 milhão e 300 mil passageiros são afetados, estimou o sindicato.

A paralisação é uma resposta "à falta de diálogo" e tem como pauta "uma proposta salarial adequada", diante da inflação que superou a da Venezuela nos últimos 12 meses.

"Estou correndo para pegar o ônibus. Tive que viajar mais de duas horas para poder chegar à capital. Por sorte, os ônibus estão funcionando", disse rapidamente o passageiro Carlos, enquanto subia no ônibus, atrasado para entrar no trabalho.

Carlos levou duas horas para chegar à capital e esperava ônibus em dia de greve dos trens
Carlos levou duas horas para chegar à capital e esperava ônibus em dia de greve dos trens Imagem: Amanda Cotrim/UOL

Na estação de trem de Moreno, região metropolitana de Buenos Aires, a situação é mais crítica, porque a maioria dos usuários sai das perfeitas em direção à capital em trem.

"Complicado. Subiram a passagem, a comida. A casta somos nós", disse uma mulher à TV C5n Argentina.

O que diz o sindicato

Em um comunicado, a agremiação afirmou que a inflação "deteriora os trabalhadores, causando danos irreparáveis".

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Os trabalhadores afirmaram que a greve é um direito constitucional e citaram o ex-presidente Juan Domingo Perón, que originou o movimento peronista vivo até hoje no país: "Dentro da lei, tudo; fora da lei, nada".

Representante sindical da categoria, Omar Maturano criticou o governo de Milei. Ele afirmou que o país está "um caos total" e disse que "essa liberdade que o presidente tanto fala está levando a 80% de pobres e 20% de ricos", exaltou.

O que diz o governo

O porta-voz de Milei, Manuel Adorni, disse que os responsáveis pela greve sofrerão "consequências". "Esta medida de força não é contra o governo nacional, mas contra o povo. As medidas pertinentes estão sendo avaliadas para que isso não fique sem consequências para todos os responsáveis", afirmou à imprensa.

Adorni acusou os autores da greve de obstrução. "A Fraternidade de fraternos não tem nada. Deixaram um milhão de pessoas a pé, fizeram-nas perder o dinheiro que ganham todos os dias para alimentar as suas famílias", acusou.

Pobreza e inflação

Atualmente, a Argentina tem quase 60% de pobreza e 15% de indigência, segundo um estudo feito em janeiro pelo observatório da Universidade Católica da Argentina (UCA).

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A inflação alcançou 254% no acumulado de 12 meses, de acordo com dados do governo divulgados na semana passada. Os serviços subiram mais de 40% e o transporte 26%.

Boa parte dessa alta anual está atrelada ao modelo econômico do governo anterior. Mas outra já inclui medidas do governo Milei, como o fim dos subsídios para tarifas públicas, como o dos transportes, cujos efeitos ainda serão sentidos nos próximos meses.

Aumento do salário mínimo

Essa semana, o Ministro da Economia, Luis Caputo, anunciou em uma entrevista ao canal La Nacion+ que aumentará o salário mínimo em 180 mil pesos em fevereiro e 202 mil em março. Atualmente, o salário mínimo é de 155 mil pesos.

Ontem, 20, dezenas de pessoas protestaram na estação de trem Constituição, na capital, com faixas contra o ajuste do governo.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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