Advogado quer pena máxima contra atletas do Vélez: 'agressão sexual brutal'
Desde que veio a público a denúncia de violência sexual com o envolvimento de quatro jogadores de futebol do clube argentino Vélez Sarsfield, Sebastián Sosa (37), Brian Cufré (27), Jose Florentín (27) e Abel Osorio (21), na cidade de Tucuman, norte do pais, a 1.200 km de Buenos Aires, a denunciante não tem um dia de paz.
Não sai na rua, não trabalha, não encontra os amigos e nem vai à academia. Está presa. Isso porque uma mulher que denuncia abuso sexual em Tucuman é vítima duas vezes: dos abusadores e da sociedade que a julga, afirmou um dos defensores da denunciante à coluna. Em entrevista ao UOL, o advogado penalista Juan Andrés disse que sua cliente está emocionalmente instável e busca justiça.
Minha cliente está abalada, vivendo uma situação extremamente difícil, sem poder sair na rua, fazer suas atividades normais, como trabalhar, encontrar amigos e ir a academia. Se encontra muito emotiva e a sociedade tucumana é pequena e machista; coloca o peso da responsabilidade sempre na vítima e nunca no opressor. Minha cliente sofreu uma grande violência e o que ela quer é que a justiça seja feita - Juan Andrés, advogado
Na quarta-feira (27), a Justica imputou Cufré e Floretin como autores de abuso sexual agravado, Osorio de abuso sexual simples e Sosa como participante secundário. Na Argentina, o crime de abuso sexual é agravado quando há a participação de duas ou mais pessoas.
No mesmo dia, o goleiro uruguaio Sosa foi solto após pagar uma fiança de 50 milhões de pesos argentinos (250 mil reais, no câmbio paralelo). Os outros três seguiram detidos e devem esperar o julgamento em prisão domiciliar em uma mesma residência, que deve ser alugada na cidade de Tucuman, até o julgamento, ainda sem previsão para acontecer. A causa se tornou uma ação pública com a participação do Ministério Público da cidade, que também acusa os jogadores, junto com os advogados da denunciante.
Desde que a denúncia veio a público, no dia 6 de março, o Vélez, um dos mais importantes clubes da Argentina, anunciou a suspensão do contrato dos envolvidos enquanto "determina medidas definitivas''.
Paralelamente, o advogado da denunciante afirmou que vai batalhar pela pena máxima. Na Argentina, a violência sexual agravada varia de oito a 20 anos de reclusão.
Seguimos colhendo provas e evidências, tanto os advogados como o Ministério Público. Até concluirmos essa etapa, esperamos que os jogadores estejam privados de sua liberdade - Juan Andrés, advogado
Classificação de violência sexual e estupro
Na Argentina, a nomenclatura abuso e violência sexual é utilizada quando há 'acesso carnal' (penetração vaginal, anal ou oral), sem consentimento, a maiores de idade. O estupro é designado para as mesmas violências, mas com menores de idade.
Segundo a defesa da vítima, até o momento, há indícios e provas de violência sexual, como depoimentos de outros jogadores de futebol, imagens de câmeras de segurança do hotel e fotos do quarto com manchas de sangue.
[O quarto ficou] todo manchado de sangue, o que mostra a agressão brutal que ela sofreu. [Temos] atestados de médicos particulares e do sistema público que comprovam as lesões no corpo da vítima, além da declaração da minha cliente - Juan Andrés, advogado
"Todos reconheceram que tiveram relação sexual com a vítima"
Perguntado se o DNA dos jogadores acusados foi detectado nesses exames, o advogado não respondeu, mas afirmou que "todos os jogadores reconheceram que tiveram relação sexual com a vitima''. Sendo assim, a prova que tanto Ministério Público como advogados vão buscar é se houve consentimento.
A coluna tentou contato com o advogado Ernesto Garcia Biagosh (defesa dos jogadores Cufre e Osório), Ernesto Baclini (defesa de Sosa) e Camilo Atim (advogado de Florentin), mas não teve êxito. O espaço segue aberto para atualização.
O goleiro uruguaio Sosa, imputado como participante secundário e solto após pagar fiança, responderá o processo em liberdade. À imprensa argentina, ele afirmou que é inocente e que não tem nada a falar para a denunciante. "Graças a deus posso voltar para casa", disse o jogador.
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No sábado, 2 de março, de acordo com a denúncia, a mulher foi convidada para o hotel onde os jogadores do Vélez Sarsfield passaram a noite depois de enfrentar uma equipe local, o Atlético Tucumán, para aguardar seu retorno a Buenos Aires.
O goleiro da seleção principal do Uruguai, Sosa, teria feito o convite ao seu quarto de hotel por meio de mensagens no Instagram. No dia 6, quarta-feira, a mulher foi à polícia e denunciou que três jogadores de futebol tinham abusado sexualmente dela.
Supostamente, o goleiro uruguaio não participou do abuso sexual, mas teria ficado no quarto onde teria ocorrido o crime.
Cultura do estupro e futebol argentino
As denúncias por violências machistas no futebol argentino são cada vez mais frequentes. Recentemente, dois jogadores da equipe Mendocino Godoy Cruz foram separados por uma queixa de estupro. Além disso, dois jogadores da seleção argentina campeã do mundo em 2022, Thiago Almada e Gonzalo Montiel, aguardam uma definição judicial sobre denúncias de assédio sexual contra eles.
Na Argentina, o caso do atacante colombiano Sebastián Villa tomou as páginas dos jornais em junho do ano passado por ser investigado, junto a outros jogadores do Boca Juniors, por violência contra mulheres. O atleta foi condenado por bater em sua esposa.
O Boca Juniors também tem outro caso recente de violência envolvendo seus funcionários. Daniel Martinez, técnico equipe feminina até meados de 2023, foi denunciado por abuso a uma funcionária do clube.
O Vélez foi mais rápido e mais eficaz que o Boca. Aplicou um protocolo de ação contra as denúncias por violência de gênero e assim que soube do caso afastou os jogadores e, em seguida, suspendeu os contratos.
O clube disse em nota oficial estar "profundamente preocupado com as denúncias, que claramente são contrárias aos princípios e valores da nossa instituição. Seguimos a disposição da justiça a fim de que os fatos sejam esclarecidos e seguiremos informando as medidas que adotamos''.
Comunicado oficial sobre la actual situación de Sosa, Florentín, Cufré y Osorio.
— Vélez Sarsfield (@Velez) March 18, 2024
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