Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Lockdown na Bahia é paliativo: na segunda-feira, vírus volta ao batente
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Desde as 18h de sexta (26), Salvador e os demais 416 municípios da Bahia estão em lockdown —a medida determina o fechamento de shoppings, comércio de rua, bares e restaurantes e proíbe frequentar praias, atividades culturais, esportivas e religiosas até as 5h de amanhã (1º).
A venda de bebidas alcoólicas também está suspensa. Apesar de as autoridades utilizarem o termo lockdown, serviços essenciais relacionados à saúde e à venda de alimentos estão liberados, e o transporte público está em funcionamento.
A medida tenta barrar o crescimento dos casos de covid-19. Na última semana, a Bahia registrou diariamente recordes de internações em UTI e de óbitos pela doença.
O governador Rui Costa (PT) informou nesta semana que havia 195 pacientes na fila de espera por uma vaga em UTI (Unidade de Terapia Intensiva). A estado possui 2.145 leitos exclusivos para pacientes com o diagnóstico do coronavírus, sendo 1.114 em UTIs.
"É a pior fase da pandemia", disse Costa. "O Brasil mergulhará no caos em duas semanas."
Contágio continua durante a semana
A decisão do governo baiano de limitar o lockdown ao fim de semana tenta frear as aglomerações em praias e festas. Pacientes com menos de 39 anos, inclusive sem comorbidades, têm apresentado quadros mais graves da doença e muitos não sobrevivem.
O questionamento que fica agora é quanto ao contágio que também ocorre na movimentação das cidades durante a semana, quando voltam a funcionar shoppings, bares, academias e outros espaços de encontros.
A lotação do transporte público, um dos graves problemas de Salvador, também ameaça o controle do contágio. Ônibus e metrôs circulam lotados de segunda a sexta.
Como ironizou um colega da imprensa: "É o lock-weekend. O curioso caso do corona que descansa" (na tradução, o fechamento de fim de semana).
A restrição apenas no sábado e domingo revela um grande desafio econômico da capital.
Com a suspensão do auxílio emergencial pelo governo federal no final do ano passado, como manter em casa a população de uma cidade empobrecida, com taxa de desemprego em 17% e mais 60% dos trabalhadores atuando no mercado informal?
De um lado estão irresponsáveis que, convencidos por discursos negacionistas, se lançam em aglomerações festivas, colocando em risco suas próprias vidas e das pessoas com quem convivem.
Por outro lado, há uma massa de trabalhadores que precisam sair de casa, todos os dias, para garantir sua própria sobrevivência e o sustento de suas famílias.
Economia informal e precarização do trabalho
Quem circula pela capital baiana percebe o impacto do lockdown na vida dos vendedores ambulantes, que não podem montar suas bancas nos bairros populares e nas ruas do centro ou se aventurar, subindo e descendo nos ônibus, para contar com a solidariedade de passageiros.
São baianas de acarajé que não podem armar seus tabuleiros nas esquinas, mantendo uma tradição ancestral de fonte de renda. Mototaxistas e motoristas de aplicativos que deixam de circular.
Vendedoras de lojas cujo salário só faz sentido se complementado pela comissão de vendas. Garçons que, em muitos casos, têm como retorno financeiro apenas os 10% deixados voluntariamente pelos clientes.
Esta é a dinâmica de uma cidade cujas elites não abrem mão dos privilégios coloniais, entre eles, a exploração de mão de obra barata, por vezes gratuita. Quem reclama (e com razão) da prestação de serviços em Salvador talvez não saiba que parte do problema está nas relações precarizadas de trabalho
Contratos frágeis, salários injustos, explorações e assédios herdados da escravidão desestimulam a eficiência do trabalhador e os empurram à informalidade. Em um momento de crise como este, não há a mínima segurança financeira.
Sem a garantia do alimento para quem precisa ficar em casa, aguardando que a vacinação alcance mais brasileiros e a contaminação seja controlada, o lockdown de fim de semana será apenas um paliativo.
Na segunda-feira, o vírus volta ao batente, circulando junto à massa de trabalhadores.
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