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Com tumulto em santuário, bolsonarismo repete 'chute' na fé católica
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As vaias durante a missa e todo tumulto provocado pelos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, no santuário de Nossa Senhora Aparecida, hoje, feriado dedicado à santa padroeira do Brasil, repetem uma grave violência à fé católica promovida por um pastor evangélico, há exatos 27 anos.
Em 12 de outubro de 1995, foi ao ar o programa "Palavra da Vida", na Record, com imagens do então bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, Sérgio Von Helder, chutando uma imagem de Nossa Senhora Aparecida com insultos à Igreja Católica e à fé dos católicos na mãe de Jesus Cristo.
O ato de intolerância religiosa causou indignação no país, com ampla repercussão, inclusive dentro da igreja de Edir Macedo, que chegou a admitir que o fato teria sido o maior erro da sua instituição religiosa.
O que se viu hoje em Aparecida, a partir de matérias na imprensa e imagens que circulam nas redes sociais, retomam à falta de respeito com uma das maiores expressões da fé brasileira.
Todos os anos, milhares de devotos de diferentes partes do país se dirigem à cidade no interior de São Paulo para saudar Nossa Senhora Aparecida, no maior santuário dedicado à santa no mundo. Somente o interior da Basílica tem capacidade de receber até 35 mil pessoas por missa.
Depois de dois anos de restrições por conta da pandemia de covid, a expectativa era grande entre os católicos para finalmente retomar suas homenagens à santa de devoção. Contudo, o dia que seria de orações foi tumultuado pela rápida visita do presidente, em campanha pela reeleição.
Estimulados pelo clima beligerante que já é marca das eleições 2022, os apoiadores de Bolsonaro fizeram questão de festejar a chegada do candidato, com gritos e confusão, necessitando a intervenção de um padre que, ao microfone, lembrava o objetivo da presença de todos ali: a oração.
Bolsonaro não fez questão de esconder que a sua ida ao santuário não passava de uma estratégia de campanha, pois não demonstrou qualquer intimidade com os rituais religiosos praticados durante toda a cerimônia.
O presidente se negou a receber a hóstia sagrada - considerada o corpo de Jesus - e não rezou o Pai Nosso, a mais popular oração cristã do Brasil, se associando menos aos fiéis católicos que acompanhavam a missa emocionados e mais aos barulhentos apoiadores, que chegaram a vaiar trechos da pregação dedicada a questões sociais e políticas, incluindo a necessidade do voto consciente.
Durante sua homilia, o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, condenou "a pátria armada" em oposição à construção de "uma pátria amada" e conclamou os fiéis a combaterem o "dragão do ódio", da mentira, do desemprego, da fome e da incredulidade.
Nem evangélico, nem católico
"Não posso julgar as pessoas, mas nós precisamos ter uma identidade religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos", disse o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, em entrevista à imprensa, na manhã de hoje.
A forma como Bolsonaro explora a fé de evangélicos e católicos, utilizando de forma desrespeitosa símbolos e ensinamentos sagrados - já chegou a afirmar, inclusive, que Jesus não comprou pistola porque não havia em sua época -, revelam que o candidato não se importa com nenhuma doutrina religiosa.
O que importa a Bolsonaro é apenas o voto por motivação religiosa, nem que para isso tenha que movimentar mentiras, gerar medo e promover o ódio entre os brasileiros, sejam religiosos ou não.
Não há dúvidas que, com o comportamento de hoje, o candidato Bolsonaro se afasta ainda mais dos eleitores católicos, que receberam pouca atenção ao longo do mandato, e também dos evangélicos que, conhecedores dos verdadeiros valores cristãos, assumem, acima de tudo, a verdade, o amor e a fraternidade.
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