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Racismo religioso: Estátua de Mãe Stella de Oxóssi é incendiada em Salvador
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Um incêndio atingiu, nesta madrugada, 04, a estátua em homenagem à yalorixá Mãe Stella de Oxóssi, localizada em uma das principais avenidas de Salvador, que dá acesso ao aeroporto e a praias da cidade.
A obra de arte é composta por duas esculturas, uma de Mãe Stella, em tamanho real, sentada em um trono e outro de 6,5 metros de Oxóssi, orixá para o qual ela foi iniciada no candomblé. A obra completa tem 8,5 metros de altura, incluindo uma base de concreto de dois metros.
Em nota, a Fundação Gregório de Mattos, órgão vinculado à Secretaria Municipal de Cultura e Turismo de Salvador, informou que o fato já foi registrado na 12ª Delegacia, no bairro de Itapuã, e que a Prefeitura de Salvador acompanhará as investigações do caso pelas autoridades policiais. Além disso, a Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador fará a retirada da peça danificada para posterior recuperação.
"A administração municipal lamenta profundamente mais este atentado contra o patrimônio público, em uma das últimas peças produzidas pelo artista plástico Tatti Moreno (1944-2022) para a cidade. O conjunto escultórico Mãe Stella e Oxóssi foi entregue em abril de 2019 e faz parte da avenida que leva o nome da famosa ialorixá que liderou, durante anos, o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá". Fundação Gregório de Mattos da Prefeitura de Salvador.
Mãe Stella escreveu livros e artigos sobre o respeito inter-religioso
Nascida em 1925, Maria Stella de Azevedo Santos foi a yalorixá (mãe de santo) à frente de um dos mais tradicionais terreiros de candomblé da Bahia, o Ilê Axé Opô Afonjá, por mais de quatro décadas, até a sua morte, em 2018, aos 93 anos.
Autoras de dezenas de livros sobre a religiosidade de matriz africana, integrou a Academia de Letras da Bahia, além de receber o título de doutor honoris causa pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e pela Universidade do Estado da Bahia.
Com uma vida de dedicação às entidades religiosas de matriz africana, em especial Oxóssi, o caçador de alegrias (Odé Kayodê), mãe Stella escreveu pregando o diálogo e o respeito entre as religiões. Entre suas obras estão: Meu tempo é agora (1993), Òsósi - O caçador de alegrias (2006); Òwe-Provérbios, uma coletânea de ditos iorubanos e brasileiros com interpretações da escritora, além de Epé laiyé - terra viva (2009) livro destinado ao público infantil.
Sob a liderança de Mãe Stella de Oxóssi, a comunidade do Ilê Axé Opô Afonjá implantou uma escola, uma biblioteca e um museu para incentivar a educação de jovens e crianças.
Vereadora denuncia ódio religioso
A vereadora de Salvador, Laina Crisóstomo (PSol) publicou um vídeo em sua rede social, indignada com o ódio religioso contra a imagem da yalorixá.
"Queimar a imagem de Mãe Stella de Oxóssi, para nós, é símbolo e expressão do ódio que estamos vivendo. A gente não vai a nenhuma igreja, a gente não impede que ninguém professe a sua fé. Mas os nossos terreiros e os nossos símbolos são destruídos, são devastados como forma de dizer que não nos aceitam", Laina Crisóstomo, vereadora de Salvador.
A vereadora destaca ainda que o local deveria ser preservado pela prefeitura e espera por providências das autoridades.
"Que seja feita Justiça e que dessa vez os vândalos sejam punidos verdadeiramente, para que não haja mais racismo religioso em nossa cidade", cobra a vereadora.
Atos de vandalismo atingem monumentos a religiosas do Candomblé
O ato de vandalismo é resultado da intolerância religiosa que tem como alvo terreiros de candomblé e outros monumentos da cidade dedicados a lideranças da religião de origem negra. Esta mesma escultura de Mãe Stella já havia sofrido pichações em 2019, quando teve uma placa arrancada.
Próximo a um dos principais cartões postais de Salvador, a Lagoa do Abaeté, cantada em canções de Caymmi, está o busto que homenageia Mãe Gilda, yalorixá do terreiro Abassá de Ogum, em Itapuã. A escultura sofreu vandalismo, em 2020, pela segunda vez.
Em entrevista à época do ocorrido, Mãe Jaciara dos Santos, filha biológica de Mãe Gilda e sucessora na liderança do terreiro, disse que um homem apedrejou o monumento, dizendo estar "a mando de Deus". Muitas partes do busto ficaram quebradas.
Em 2021, em outro bairro de Salvador, o Engenho Velho da Federação, comunidade de maioria negra e com dezenas de terreiros de candomblé em funcionamento, um monumento também foi alvo de vandalismo e intolerância religiosa.
O busto dedicado a Maria Valentina dos Anjos Costa, conhecida como Doné Runhó ou Mãe Runhó, precisou ser reformado após inúmeras depredações. Religiosos do candomblé denunciam que o local onde está o monumento, erguido em 1992, sofre com a intolerância religiosa. Já foram registradas pinturas com uma espécie de tinta vermelha, sal grosso, além de inscrições e desenhos de cruz no chão.
A sacerdotisa do candomblé da nação Jejê, liderou o terreiro do Bogum por 50 anos, se tornando um símbolo de resistência e preservação da religião herdada da África.
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