Andreza Matais

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Reportagem

Gleisi vê 'campanha contra Lula' em revelação sobre direcionamento de verba

A presidente do PT, Gleisi Hoffman, classificou de "campanha contra Lula" a revelação do UOL de que o presidente direcionou R$ 1,4 bilhão de recursos próprios dos ministérios para seis prefeituras aliadas — três delas do PT.

Conforme revelou a reportagem, representantes das seis prefeituras trataram de suas demandas diretamente com o presidente e, após as negociações, os ministérios liberaram recursos sem seguir as exigências legais para os trâmites.

Há, até mesmo, conclusões em branco e liberação de recursos sem a prefeitura sequer ter solicitado. Os documentos oficiais de ministérios foram obtidos pela reportagem pela LAI (Lei de Acesso à Informação).

Desde que assumiu o mandato, Lula só abriu seu gabinete para agendas individuais com 17 prefeituras — 12 delas com Araraquara, Mauá, Diadema, Hortolândia, em São Paulo, e Belford Roxo e Cabo Frio, no Rio. O PT só tem quatro prefeitos em São Paulo, as três primeiras da lista (a exceção é Matão).

Araraquara e Diadema, por exemplo, receberam mais recursos para saúde do que 13 capitais, incluindo Belo Horizonte, Porto Alegre e Maceió. Cidades com os piores IDHM do Brasil estão há um ano aguardando verba, enquanto que as seis cidades receberam em poucas semanas.

O chefe de gabinete de Lula, Marco Aurélio Ribeiro, o Marcola, se reuniu 33 vezes com prefeitos e secretários municipais no Palácio do Planalto — 22 delas com integrantes do grupo de seis prefeitos amigos do presidente. Nas conversas, trata de verbas para as prefeituras favorecidas pelo presidente.

Quer dizer então que um município não pode receber verbas federais porque o prefeito é do PT? Mesmo sendo tudo justificado, necessário e dentro da lei? Essa campanha contra Lula, na base de criminalizar qualquer ato de governo, ja é o primeiro turno de 2026 ou ainda é o terceiro turno de 2022?
Gleisi Hoffman, presidente do PT em suas redes sociais

O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse em entrevista à coluna que o uso da verba própria dos ministérios precisa ter as mesmas regras cobradas pelo STF das emendas parlamentares.

Em reunião com ministros da Corte nesta terça-feira (20) o assunto foi colocado com o tom de cobrança de que essas verbas estão beneficiando apenas os amigos do presidente.

A coluna apurou que assessores técnicos do Congresso estão levantando o uso dessas verbas próprias dos ministérios para mostrar o direcionamento para o PT e a falta de transparência na liberação.

O UOL só conseguiu identificar que a ordem para atender as seis cidades partiu do presidente depois de cruzar centenas de vídeos e posts dos prefeitos em redes sociais com processos de liberação de recursos.

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Em vídeo, o deputado federal Luciano Zucco (PL-RS) criticou o uso político dos recursos do orçamento próprio dos ministérios, tecnicamente chamados de RP1, RP2 e RP3.

"O Palácio do Planalto alega que está tudo dentro das regras. Não acredito que favorecer aliados às vésperas do período eleitoral seja algo aceitável. É, no mínimo, abuso de poder econômico. Mas tem uma outra questão que é ainda mais grave: enquanto Lula destina mais de R$ 1 bilhão para seus companheiros, centenas de cidades do Rio Grande do Sul aguardam por socorro", criticou o parlamentar.

O subprocurador-geral do Ministério Público Junto ao TCU (Tribunal de Contas da União) Lucas Rocha Furtado pediu que a Corte apure se houve desvio de finalidade no direcionamento bilionário as seis prefeituras com base na reportagem do UOL. Segundo ele, há "indícios de irregularidades graves".

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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