Andreza Matais

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Opinião

'Elmarfolia' ajudou a enterrar candidatura de deputado à Câmara

O deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) nunca foi o nome apoiado pelo Palácio do Planalto para assumir a presidência da Câmara. Ele já havia sido vetado para o cargo de ministro, por ser visto com desconfiança pelos petistas devido à sua ligação com ACM Neto na Bahia.

Nos últimos meses, Elmar tentou viabilizar sua candidatura e superar as resistências, principalmente do ministro Rui Costa, ex-governador da Bahia pelo PT, seu maior obstáculo. Paralelamente, não economizou na campanha para atrair votos do seu colégio eleitoral — os 513 deputados.

Sua campanha, marcada por festas na Bahia e em Brasília, "encurtou" o mandato de Arthur Lira (AL) à presidência da Câmara, o que gerou ainda mais desgastes.

Logo no início do ano, Elmar promoveu um réveillon, uma festa de cinco dias numa ilha na Bahia, para deputados, senadores e ministros do governo Lula. Ali, mais de um ano antes da eleição, ele começou a articulação para a troca no comando da Casa.

A colunista Malu Gaspar relatou que o evento ocorreu na Ilha dos Frades, em Salvador, conhecida na Bahia como "a ilha do Suarez", em referência ao empresário Carlos Suarez. O empresário, que não gosta de ver seu nome nos jornais associado às suas relações políticas, é um entusiasta da candidatura de Elmar para a presidência da Câmara.

Em fevereiro, "Elmar candidato" levou cerca de 80 deputados para um camarote no carnaval de Salvador. Em julho, transformou sua festa de aniversário em um megaevento em Brasília, daqueles que políticos promovem quando têm algum interesse.

O convescote reuniu dez ministros de Lula, inclusive Rui Costa, além de deputados, senadores e ex-parlamentares, como Eduardo Cunha. Em Brasília, o prestígio de um evento é medido pela quantidade de ministros presentes. Pela foto, Elmar parecia estar eleito.

O clima de "já ganhou", contudo, causou novos desgastes a Elmar. Segundo um deputado que acompanha de perto a disputa pela Câmara, a desconfiança sobre ele aumentou.

O Planalto não quer mais um Lira ou um Eduardo Cunha na presidência da Câmara, com quem tenha que medir forças.

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Por amigos, Elmar foi aconselhado a fazer um gesto para ganhar a confiança do governo. A ideia seria levar o União Brasil a apoiar a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) à prefeitura de São Paulo, que tem Lula como maior cabo eleitoral. O movimento plantaria, ainda, a base para PT e União Brasil estarem juntos pela reeleição de Lula, em 2026. Com Jair Bolsonaro inelegível, o União Brasil aposta em Ronaldo Caiado, governador de Goiás, como candidato da direita.

Sem o apoio do Planalto, Arthur Lira não teria votos para fazê-lo sucessor. E perder não está nos seus planos. Conforme mostrou a coluna, as negociações no gabinete do presidente Lula envolvem a oferta de um ministério e outras acomodações políticas, pensando já na eleição de 2026 e em alianças. O Palácio do Planalto diz que reforma ministerial não está em negociação.

Lira quer ser candidato ao Senado por Alagoas. Para isso, ele precisa do apoio de Lula para convencer o senador Renan Calheiros (MDB-AL) a fechar um pacto de não agressão com seu arqui-inimigo.

São duas vagas em disputa. Uma delas será de Renan e, pela força do senador no Estado, a outra será de quem ele apoiar. Dos 102 municípios de Alagoas, Renan tem 70 prefeitos e deve terminar a eleição com 85.

Lira, mesmo controlando o orçamento, tem 24 prefeituras. Sem orçamento secreto, a avaliação entre políticos locais é que esse número reduza. Ele não conseguiu eleger o governador nem indicar o vice na chapa do prefeito JHC (PL), que será reeleito em Maceió, segundo as pesquisas, em primeiro turno.

Hugo Motta - a carta na manga

Outra peça no tabuleiro da política foi a decisão do deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) de desistir da disputa, fato antecipado pela coluna. Concomitante a isso, ele anunciou apoio ao seu colega de partido, deputado Hugo Motta (PB).

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Foram dois os motivos: 1) não tinha votos. A bancada evangélica não estava fechada com ele. Pereira é líder da Igreja Universal e o grupo tem várias agremiações que disputam poder; 2) evitar a eleição de Elmar e o fortalecimento do União Brasil.

Motta não tem veto do Planalto. E, apesar de o PT já tê-lo chamado de golpista por sua ligação com Eduardo Cunha e por ter presidido a CPI da Petrobras, que investigou Dilma Rousseff, um deputado petista resumiu à coluna: se esse for um critério para veto é preciso derrubar metade do governo.

Para o governo, ainda ajuda na aproximação com os evangélicos, hoje mais alinhados a Jair Bolsonaro. As pesquisas mostram que 30% da população brasileira já é evangélica; enquanto 50% é católica, 10% declaram não ter religião.

Na disputa ainda está Antonio Britto, do PSD da Bahia. O sonho de Gilberto Kassab, presidente do partido e o único que pode demovê-lo da corrida, é ser vice de Lula em 2026. Sobre isso, dois petistas que frequentam o gabinete do presidente com quem a coluna conversou responderam com letra de música: "Sonho meu, sonho meu..."

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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