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Augusto de Arruda Botelho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Moro soltou Lula

Sergio Moro - Evaristo Sá/AFP
Sergio Moro Imagem: Evaristo Sá/AFP

Colunista do UOL

25/02/2022 04h00

O senador Flávio Bolsonaro ocupou o espaço da Folha de S.Paulo para escrever um artigo cujo título é o mesmo que eu usei nesta coluna. O filho do presidente, em um texto milimetricamente pensado para as eleições, afirma que o ex-presidente Lula foi solto em razão dos erros, abusos e ilegalidades cometidos pelo ex-juiz Moro no curso da Operação Lava Jato.

Numa tentativa de atacar o líder das pesquisas e de diminuir ainda mais a intenção eleitoral daquele que mais próximo está do segundo colocado, seu pai, o senador, como quem parece ter passado os últimos anos em coma profundo, ressurge das cinzas para construir nada mais do que uma narrativa.

Sim, Sergio Moro e membros do Ministério Público Federal cometeram dezenas de ilegalidades ao longo da Lava Jato, e essas ilegalidades, sim, causaram a anulação de condenações, a rejeição de denúncias, a prescrição de casos, não apenas do ex-presidente Lula, mas de uma série de outros acusados.

A pergunta que fica é: onde estava Flávio Bolsonaro e seus apoiadores durante os anos em que essas autoridades, à luz do dia, cometeram tais ilegalidades? Moro não se tornou um juiz suspeito agora. Já o era em 2014, 2015, 2016...

Em que cavernas os bolsonaristas que hoje apontam as ilegalidades da Lava Jato estiveram que permitiram a eles simplesmente ignorar todos os abusos da Operação?

É de se perguntar onde estava Flávio Bolsonaro quando Moro determinou conduções coercitivas ilegais, grampeou dezenas de advogados, divulgou dolosamente interceptações telefônicas feitas ao arrepio da lei. Onde estavam Flávio Bolsonaro e seus apoiadores quando conversas ilegais e vergonhosas entre um juiz e uma parte foram divulgadas mostrando que eles combinavam ações processuais, chegando ao cúmulo de trocar figurinhas sobre provas e testemunhas a serem ouvidas?

Os abusos da Lava Jato sempre foram conhecidos por Bolsonaro e seu grupo, e, mesmo assim, em conluio com eles, houve um convite para ocupar um cargo de Ministro de Estado. Cargo esse que incluía até a promessa de uma cadeira na mais alta corte de justiça do país.

Flávio, sob a luz difusa de um abajur lilás, sempre soube a cama em que dormia. Sempre soube que os métodos ilegais utilizados por aquele juiz mostravam não apenas uma forma espúria de agir, mas uma deformação de caráter. Mesmo assim, o governo Bolsonaro se utilizou disso e fez com a Lava Jato uma verdadeira simbiose, uma das bases a sustentar sua ascensão ao poder.