Ato do dia 15: Bolsonaro parte para o tudo ou nada nas redes
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Parece que bateu o desespero. Desde sábado, quando Bolsonaro fez um discurso numa base militar em Roraima, convocando novamente seus apoiadores a irem às ruas no dia 15, todos os recursos, legais ou não, estão sendo utilizados nas redes sociais para garantir o sucesso da manifestação.
Reportagem publicada na Folha nesta quarta-feira mostra os motivos da preocupação do presidente, ao partir para o tudo ou nada nas redes sociais para encher as ruas.
"Mobilização por dia 15 encolhe na rede social, diz consultoria" é o título da reportagem de Daniela Arcanjo. "A despeito das falas de apoio do presidente Jair Bolsonaro aos atos em sua defesa no domingo, a atividade no Twitter relacionada às manifestações caiu — e não engata desde 28 de fevereiro".
Até a conta oficial da Secretaria de Comunicação Social (Secom) foi utilizada para defender as manifestações convocadas por movimentos de direita contra o Congresso e o STF. Publicada na noite de terça feira, diz a mensagem:
"A visita do presidente @Jair Bolsonaro aos EUA incluiu um encontro com a comunidade brasileira que vive na Flórida. Em seu discurso, ele destacou a legitimidade das manifestações populares previstas para o dia 15 de março em todo o Brasil".
Nos últimos dias, foi mobilizada toda a rede de apoio de empresários ao governo, como mostra reportagem de Aiuri Rebelo, no UOL: "Bolsonaristas pagam por postagens pró-ato com ataques ao Congresso e ao STF".
A julgar pelo seu empenho pessoal na mobilização dos apoiadores do governo, Bolsonaro está muito preocupado e não deve ter ouvido os conselhos dos seus ministros palacianos para desconvocar o ato, como informou a repórter Vera Magalhães, segunda-feira, no Twitter.
O ânimo dos bolsonaristas foi abalado após a divulgação do pibinho de 1,1% e do acordão feito pelo governo com o Congresso para a divisão dos R$ 30 bilhões do Orçamento impositivo. Bolsonaro nega qualquer acordo, e insiste que o ato não é contra o Congresso nem o STF, mas "a favor do Brasil".
Ao mesmo tempo, o ataque aos outros poderes é predominante nas mensagens disparadas pelo Twitter, Facebook e Instagram. Entre as hashtags mais utilizadas no Twitter estão "#Maiagolpista e #MaiaVaiSerPreso. No Facebook, grupos pedem abertamente a "intervenção militar constitucional", seja lá o que isso quer dizer.
Mesmo com toda essa mobilização nas redes sociais bolsonaristas, que envolve até contas oficiais do governo, o presidente em seu discurso de Roraima insistiu que "é um movimento espontâneo, e o político que tem medo de movimento de rua não serve para ser político".
Na ausência do presidente, que ainda não tinha voltado ao Brasil quando escrevia esta coluna, quem assumiu o comando das operações digitais foi o filho Carlos Bolsonaro, que exerceu a mesma função durante a campanha eleitoral e é apontado pelo pai como um dos responsáveis por sua vitória.
Na vida real, com o avanço da epidemia de coronavírus no Brasil e no mundo, a Bolsa voltou a cair após a recuperação na véspera, e o dólar estava registrando alta nesta manhã.
Se tudo der errado, e o povo não atender aos apelos do presidente, sempre se poderá colocar a culpa no medo do coronavírus.
Se tudo der certo, Bolsonaro se sentirá ainda mais fortalecido para avançar em sua pauta autoritária que coloca em xeque as instituições e é a principal razão da instabilidade política que afugenta os investidores.
De qualquer forma, domingo será um divisor de águas no conjunto de crises que o país vive, cada vez mais dividido e desalentado, sem sinais de recuperação da economia.
Vida que segue.
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