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Bolsonaro debocha da pandemia e vai para a galera tirar selfies

Bolsonaro desce a rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, para cumprimentar participantes de ato pró-governo - Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
Bolsonaro desce a rampa do Palácio do Planalto, em Brasília, para cumprimentar participantes de ato pró-governo Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

15/03/2020 17h58

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Fantasiado de Bozo, o palhaço do SBT, um manifestante segura cartaz em que se lê:

"AI-5 - Fechar o Congresso, eliminar todos os partidos, caçar todos os traidores e punir severamente".

A imagem é emblemática do que foi o #bolsonaroday convocado furiosamente nas redes sociais desde sábado. A oposição desapareceu das redes sociais.

"Não tem preço o que esse povo está fazendo", comemorou o presidente Jair Bolsonaro, empunhando uma bandeira do Brasil em frente ao Palácio do Planalto, na mesma hora em que o Ministério da Saúde publicava um apelo nas redes sociais para que pessoas com mais de 60 anos, a maioria dos manifestantes pró-governo que saíram às ruas em 17 estados, buscassem o isolamento para evitar o contágio do coronavírus.

Como cidadão disciplinado que sou, nem saí de casa neste domingo, mas Bolsonaro largou o isolamento no Alvorada recomendado pelos médicos, para debochar da pandemia, tirar selfies com a galera e fazer lives ao ar livre.

Com colete à prova de balas por baixo de uma camiseta branca da CBF, desde cedo o presidente foi ao Twitter para incentivar as magras manifestações de apoiadores, que ele mesmo havia convocado várias vezes e depois desconvocado em rede nacional de TV, na sexta-feira.

É como se o Brasil não fizesse mais parte do resto do mundo e só nós estivéssemos vacinados contra o coronavírus.

Enquanto governantes de outros países, até seu amigo Trump, mostravam preocupação crescente com o avanço da pandemia, anunciando medidas sanitárias e econômicas para enfrentar a propagação do vírus, por aqui tudo parecia um carnaval fora de época, uma micareta cívico-militar.

Além dos ataques ao Congresso e ao STF, principalmente contra o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que animavam todos os atos com faixas, cartazes e discursos em carros de som, a conversa entre os manifestantes bolsonaristas era para negar os fatos e os riscos que todos estamos correndo neste momento.

Como relatou matéria do UOL, a manifestante Lígia Grande, 64, abraçada à bandeira do Brasil e carregando um frasco de álcool gel, acreditava mais em Bolsonaro do que no Ministério da Saúde:

"Antes de tudo, precisamos nos livrar do comuna virus".

Seu marido, Paulo Cesar Grande, 65, desfiava uma teoria conspiratória no melhor estilo do grande guru Olavo de Carvalho, que continua homiziado a confortável distância, em seu rancho na Virgínia, nos Estados Unidos, onde se dedica à caça de ursos nas horas vagas.

"Esse vírus pode muito bem ser uma ação de guerra da China. Pense a respeito, a guerra para fábricas, para viagens, causa medo, tudo que estamos vendo hoje. Vejo uma ação coordenada pela China comunista para derrubar a economia do planeta".

Como já disse o próprio presidente da República, entre outras irresponsabilidades, durante a viagem aos Estados Unidos, "esse cornavírus não é tudo isso que a grande mídia propaga ou propala".

Em quem devemos acreditar? Certamente, melhor é seguir as orientações do Ministério da Saúde. Não dá para brincar com a vida - nem com a nossa, muito menos com a dos outros.

Vida que segue.