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Guerra contra a vacina: Brasil é refém de um louco no poder

O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, diagnosticado com covid-19, sem máscara ao lado do presidente Jair Bolsonaro: o novo normal do Brasil - Reprodução/Facebook
O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, diagnosticado com covid-19, sem máscara ao lado do presidente Jair Bolsonaro: o novo normal do Brasil Imagem: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

22/10/2020 13h39

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"Conter Bolsonaro", suplica o editorial da Folha desta quinta-feira, com chamada na capa.

Mas quem vai colocar a camisa de força no capitão enfurecido, fora de controle dos generais, em guerra aberta contra a "vacina comunista da China e do Doria"?

"Restará a Congresso, Judiciário, estados e municípios tomar medidas para que os brasileiros não fiquem sem vacina", diz o jornal.

Gostaria de acreditar nisso, mas acontece que todas as instituições estão hoje aparelhadas pelo presidente, que enfeixa em suas mãos os Três Poderes e as Forças Armadas, com os órgãos técnicos do Ministério da Saúde militarizados e o general de plantão desmoralizado, que ainda não pediu demissão.

Em entrevista à "Jovem Pan", a emissora líder da rede bolsonarista de rádio e televisão, Bolsonaro dobrou a aposta e anunciou que o governo federal não comprará de jeito nenhum a vacina chinesa desenvolvida pelo laboratório Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo, nem que ela seja aprovada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

"A da China nós não compraremos, é decisão minha. Eu não acredito que ela transmita segurança suficiente para a população. Esse é o pensamento nosso", decretou o todo-poderoso presidente.

Pensamento nosso de quem, cara pálida? Quer dizer que a vida de 212 milhões de brasileiros será refém de um louco no poder?

Vale tudo para agradar a turma do Face. Até mesmo vidas perdidas

Num surto de megalomania paranoica, Bolsonaro resolveu desafiar a maior potência econômica mundial, nossa maior parceira comercial, colocando em risco a saúde pública só para abater um concorrente, em sua desabalada corrida pela reeleição, e agradar os devotos das redes sociais.

Vejam o que ele disse na entrevista, em seu português trôpego, depois de passar o dia com emissários de Donald Trump, em ofensiva conjunta contra a China:

"Tenho certeza que outras vacinas que estão em estudo poderão ser comprovadas cientificamente, não sei quando, pode durar anos. A China, lamentavelmente, já existe um descrédito muito grande por parte da população, até porque, como muitos dizem, esse vírus teria nascido por lá".

Pode durar anos? Até lá, num país que já conta com mais de 155 mil vítimas e 5,5 milhões de contaminados, quantos mais precisarão morrer na pandemia antes do doutor Jair Messias Bolsonaro liberar uma vacina?

Um louco pode ser esperto, e vice-versa

"NÃO SERÁ COMPRADA. O povo brasileiro NÃO SERÁ COBAIA DE NINGUÉM". Governando pelo Twitter, o presidente agora deu para escrever suas mensagens em letras maiúsculas para não restarem dúvidas, como fazem seus seguidores mais fanáticos.

Assim como o editorialista, os leitores do jornal também manifestaram indignação com os últimos acontecimentos da guerra contra a vacina deflagrada por Bolsonaro.

"Bolsonaro necessita urgentemente de um psiquiatra. Esse senhor é um psicopata... e se diz cristão e evangélico" (José Coreia de Andrade, Recife, PE).

"Com um presidente como o que temos, não precisamos de pandemia nem de qualquer fato externo para afundar o país" (Rubens R. C. Scardua, Mogi Guaçu, SP).

"No Brasil que tem Bolsonaro, a realidade supera a mais delirante ficção política. Bolsonaro ignorou a pandemia do coronavírus e agora é contra a vacinação. Trata-se de um genocida compulsivo" (Paulo Arisi, Porto Alegre, RS).

"Agora a ordem é não comprar a vacina chinesa por estar vinculada à figura de um adversário político. Até quando o Brasil será destruído pela insanidade de um louco no poder?" (Antonio Beethoven Cunha de Melo, São Paulo, SP).

Quem ainda defende o presidente diz que ele não é louco, mas muito esperto. Uma coisa não elimina a outra.

Vida que segue.