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Boulos, Manuela e Marília: as caras da nova esquerda

Boulos consegue o que o PT não conseguiu em SP; em Porto Alegre e no Recife, mulheres da esquerda chegam com força ao 2º turno - Reinaldo Canato/UOL
Boulos consegue o que o PT não conseguiu em SP; em Porto Alegre e no Recife, mulheres da esquerda chegam com força ao 2º turno Imagem: Reinaldo Canato/UOL

Colunista do UOL

16/11/2020 13h00

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Nada como um dia após o outro, com uma noite no meio.

O vento virou novamente, apenas dois anos após a onda bolsonarista que varreu o país, e logo virou uma marolinha.

Em São Paulo, Porto Alegre e Recife despontaram as novas caras da esquerda, três políticos jovens da geração pós-68, com a idade das minhas filhas.

Guilherme Boulos, do PSOL, Manuela D´Ávila, do PCdoB, e Marília Arraes, do PT, fizeram da campanha eleitoral uma festa popular e chegaram ao segundo turno embalados pela disposição de mudar o esclerosado cenário político, levando novamente às ruas uma militância aguerrida, mesmo em meio à pandemia.

Os três foram os únicos nomes de candidatos que citei na minha premonitória coluna de domingo "Eleição era um dia de festa, alegria e esperança. E voltará a ser".

Manuela D'Ávila conversa com a imprensa após resultado das eleições - Reprodução - Reprodução
Manuela D'Ávila, do autodeclarado partido comunista, bateu de frente com o bolsonarismo e chega ao 2º turno em Porto Alegre
Imagem: Reprodução
Negacionismo eleitoral

Só quem não viu isso foi o presidente Jair Bolsonaro, que postou nesta manhã de segunda-feira um tuíte mostrando como está descolado da realidade:

"A esquerda sofreu uma histórica derrota nessas eleições, numa clara sinalização de que a onda conservadora chegou em 2018 para ficar".

A resposta na lata veio do governador Flávio Dino, do Maranhão, um possível adversário de Bolsonaro em 2022:

"Depois do negacionismo climático e sanitário, temos agora o negacionismo eleitoral: a direita se esforçando para esconder a enorme derrota do bolsonarismo. Que mal nasceu e já está decadente".

São Paulo vive mais um duelo entre PSDB e esquerda

Bolsonaro não conseguiu eleger nem a agora famosa Wal do Açaí, candidata derrotada a vereadora em Angra dos Reis, funcionária fantasma do seu gabinete de deputado e caseira da sua casa da praia.

Celso Russomanno (Republicanos), o candidato que o presidente apoiou em São Paulo, levou uma surra de Boulos e terminou em quarto lugar.

Era tudo o que Bruno Covas (PSDB), o prefeito candidato à reeleição, não queria: enfrentar no segundo turno o líder dos movimentos de moradia que herdou os votos do PT, histórico adversário dos tucanos em São Paulo.

Covas ficou com 32,9% e Boulos com 20,2% no primeiro turno, em que o candidato do PSOL teve apenas 17 segundos no horário eleitoral na TV.

                                 MARÍLIA ARRAES VOTA NO CLUBE ALEMÃO, ZONA NORTE DO RECIFE                              - PAULO DANIEL                             - PAULO DANIEL
Marília Arraes teve apoio do presidente Lula em Recife, reduto tradicional da centro-esquerda. Vai enfrentar o primo João Campos (PSB) no 2º turno
Imagem: PAULO DANIEL

Candidatos já começaram campanha ontem

Agora,é uma outra eleição: cada candidato terá 5 minutos para apresentar diariamente as diferenças das suas propostas.

A disputa já começou na própria noite de domingo, dando o tom da campanha, com Covas atirando primeiro:

"São Paulo quer eleger um prefeito, São Paulo não quer alguém que seja anti, totalitarista e radical".

Poucos minutos depois, Boulos retrucou:

"Radicalismo é a cidade mais rica do país ter gente revirando o lixo para comer.

Porto Alegre e Recife

Em disputas que terminaram praticamente empatadas, Manuela D´Avila foi ao segundo turno contra Sebastião Melo, do MDB, e Marília Arraes vai enfrentar seu primo João Campos, do PSB.

A estratégia defendida por Boulos é a mesma de Manuela e Marília: "O que precisamos construir é uma frente contra a desigualdade, pela justiça social e pela democracia".

"Se as ultimas eleições foram marcadas por um movimento à direita do eleitorado, as deste ano tendem a um deslocamento à esquerda", constata o GPS ideológico da Folha sobre o resultado das eleições nas capitais.

O índice recorde de abstenções, votos brancos e nulos pode diminuir no segundo turno, onde as eleições estão mais polarizadas entre esquerda e direita.

Seja qual for o resultado final, há novos atores políticos em cena, principalmente nas câmaras de vereadores, com o expressivo crescimento do número de mulheres e lideranças negras.

Uma lufada de ar fresco está entrando pela janela da democracia. Como já disse neste domingo, há esperanças.

Vida que segue.