Boulos, Manuela e Marília: as caras da nova esquerda
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Nada como um dia após o outro, com uma noite no meio.
O vento virou novamente, apenas dois anos após a onda bolsonarista que varreu o país, e logo virou uma marolinha.
Em São Paulo, Porto Alegre e Recife despontaram as novas caras da esquerda, três políticos jovens da geração pós-68, com a idade das minhas filhas.
Guilherme Boulos, do PSOL, Manuela D´Ávila, do PCdoB, e Marília Arraes, do PT, fizeram da campanha eleitoral uma festa popular e chegaram ao segundo turno embalados pela disposição de mudar o esclerosado cenário político, levando novamente às ruas uma militância aguerrida, mesmo em meio à pandemia.
Os três foram os únicos nomes de candidatos que citei na minha premonitória coluna de domingo "Eleição era um dia de festa, alegria e esperança. E voltará a ser".
Negacionismo eleitoral
Só quem não viu isso foi o presidente Jair Bolsonaro, que postou nesta manhã de segunda-feira um tuíte mostrando como está descolado da realidade:
"A esquerda sofreu uma histórica derrota nessas eleições, numa clara sinalização de que a onda conservadora chegou em 2018 para ficar".
A resposta na lata veio do governador Flávio Dino, do Maranhão, um possível adversário de Bolsonaro em 2022:
"Depois do negacionismo climático e sanitário, temos agora o negacionismo eleitoral: a direita se esforçando para esconder a enorme derrota do bolsonarismo. Que mal nasceu e já está decadente".
São Paulo vive mais um duelo entre PSDB e esquerda
Bolsonaro não conseguiu eleger nem a agora famosa Wal do Açaí, candidata derrotada a vereadora em Angra dos Reis, funcionária fantasma do seu gabinete de deputado e caseira da sua casa da praia.
Celso Russomanno (Republicanos), o candidato que o presidente apoiou em São Paulo, levou uma surra de Boulos e terminou em quarto lugar.
Era tudo o que Bruno Covas (PSDB), o prefeito candidato à reeleição, não queria: enfrentar no segundo turno o líder dos movimentos de moradia que herdou os votos do PT, histórico adversário dos tucanos em São Paulo.
Covas ficou com 32,9% e Boulos com 20,2% no primeiro turno, em que o candidato do PSOL teve apenas 17 segundos no horário eleitoral na TV.
Candidatos já começaram campanha ontem
Agora,é uma outra eleição: cada candidato terá 5 minutos para apresentar diariamente as diferenças das suas propostas.
A disputa já começou na própria noite de domingo, dando o tom da campanha, com Covas atirando primeiro:
"São Paulo quer eleger um prefeito, São Paulo não quer alguém que seja anti, totalitarista e radical".
Poucos minutos depois, Boulos retrucou:
"Radicalismo é a cidade mais rica do país ter gente revirando o lixo para comer.
Porto Alegre e Recife
Em disputas que terminaram praticamente empatadas, Manuela D´Avila foi ao segundo turno contra Sebastião Melo, do MDB, e Marília Arraes vai enfrentar seu primo João Campos, do PSB.
A estratégia defendida por Boulos é a mesma de Manuela e Marília: "O que precisamos construir é uma frente contra a desigualdade, pela justiça social e pela democracia".
"Se as ultimas eleições foram marcadas por um movimento à direita do eleitorado, as deste ano tendem a um deslocamento à esquerda", constata o GPS ideológico da Folha sobre o resultado das eleições nas capitais.
O índice recorde de abstenções, votos brancos e nulos pode diminuir no segundo turno, onde as eleições estão mais polarizadas entre esquerda e direita.
Seja qual for o resultado final, há novos atores políticos em cena, principalmente nas câmaras de vereadores, com o expressivo crescimento do número de mulheres e lideranças negras.
Uma lufada de ar fresco está entrando pela janela da democracia. Como já disse neste domingo, há esperanças.
Vida que segue.
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