Eleição era um dia de festa, alegria, luta e esperança. E voltará a ser
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Ao convocar os 150 milhões de brasileiros aptos a comparecer às urnas para votar neste domingo, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, lembrou que "era triste o tempo em que não tínhamos esse direito".
Para um país que ficou mais de duas décadas sem poder votar para presidente, o dia da eleição era uma festa, com muita música, bandeiras e crianças cantando o jingle dos candidatos, um belo ritual de renovação de esperanças, em que todos se sentiam mais cidadãos.
Neste 15 de novembro, em meio a uma nova onda de coronavírus, as pessoas cumprem apenas sua obrigação cívica de votar para não pagar multa.
Vejo pela televisão pessoas entrando e saindo das suas seções eleitorais com cara de tristeza, desanimadas, cansadas, cabisbaixas, como se estivessem participando de um velório da democracia.
Só a pandemia não explica esse alheamento, essa falta de interesse em participar da campanha eleitoral e brigar pelo seu candidato.
"O Brasil precisa de uma junta médica. Só isso", receitava antes de votar o general Alberto Santos Cruz, ex-ministro de um governo que decretou o fim da "velha política" e se aliou a ela para sobreviver.
Uma eleição chocha
Fazer comícios, empunhar bandeiras, usar bonés e camisetas dos candidatos, agora está tudo proibido.
Campanha eleitoral e boca de urna, tudo é feito na tela fria da internet, produzido nas fábricas de fake news, em que a regra é atacar o adversário, e não defender seu candidato.
Em mais de 50 anos acompanhando e cobrindo campanhas como repórter, mesmo quando os generais decidiam quem seria o vencedor, nunca vi nada parecido.
Parece que o Brasil deixou de acreditar nele mesmo e na sua capacidade de mudar o próprio destino.
Há algumas exceções nesse marasmo
Houve, é claro, animadoras exceções, como as campanhas de Guilherme Boulos, em São Paulo, Manuela D´Ávila, em Porto Alegre e Marília Arraes, no Recife, e algumas outras pelo país, certamente, que eu não vi na mídia.
Com garra e criatividade, esses jovens políticos romperam o marasmo, e não por acaso foram os mais atacados pelo gabinete do ódio, como mostrou meu colega Leonardo Sakamoto, aqui no UOL.
É tudo tão estranho que o maior palanque eleitoral foi montado, nesta reta final, no Palácio da Alvorada, pelo presidente da República, para defender alguns candidatos a prefeito e vereador, como mostrou reportagem de minha colega Maria Carolina Trevisan.
Em que outro país democrático já se viu isso?
A velha política tenta se reinventar, mas a juventude está de olho
Nunca, como agora, nem na ditadura, apareceram tantos candidatos militares, com suas respectivas patentes, delegados de polícia, juízes, promotores e milicianos, sem falar nos pastores da sacolinha, os arautos da "nova política" criada pela Lava Jato, que abriu o caminho para levar o capitão Jair Bolsonaro ao poder.
Mas isso não será para sempre, espero.
Jovens como a minha neta Laura, de 17 anos, que votou pela primeira vez, não pediram aos mais velhos da família para indicar candidatos, como acontecia antigamente.
Foi ela quem fez campanha para os candidatos que escolheu e votou com fé na esperança de viver num país melhor.
"Muita emoção!. Me senti importante. Fazendo a diferença. Animada para 2022", me escreveu a neta depois de votar.
Os velhos currais eleitorais do Centrão sobrevivem, mas uma nova geração está surgindo para mudar a cara desse Brasil oligárquico, corporativista e paternalista que nós herdamos, e não podemos deixar para nossos filhos e netos.
Há esperanças.
Vida que segue.
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