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Brasil 2021: no país quebrado de Bolsonaro, sobrevive-se com R$ 89 por mês

Bolsonaro é assim: um dia, líder populista a nadar no mar da covid-19. No outro, uma pobre vítima do sistema. Dois anos de factoides e quase 40 milhões de brasileiros a mais na miséria - Reprodução
Bolsonaro é assim: um dia, líder populista a nadar no mar da covid-19. No outro, uma pobre vítima do sistema. Dois anos de factoides e quase 40 milhões de brasileiros a mais na miséria Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

05/01/2021 16h36

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Retrato do Brasil neste início de 2021: 14,1 milhões de desempregados, 39,9 milhões vivendo na miséria, com renda de até R$ 89 por mês, mais de 10 milhões em situação de insegurança alimentar, ou seja, brasileiros que, literalmente, passam fome.

Estes são os dados oficiais do IBGE e do Ministério da Cidadania, após dois anos de governo Bolsonaro. Não é maldade da oposição nem da imprensa.

Quando se apresentou pela primeira vez na tribuna da ONU, em setembro de 2019, Bolsonaro se gabou da produção de alimentos no Brasil:

"Produzimos alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas. Garantimos a segurança alimentar a um sexto da população mundial. Somos o maior produtor mundial de alimentos".

Como ninguém presta muita atenção nesses discursos, passou batido.

Mas o repórter Ricardo Senra, da BBC Brasil, lembrou que, uma semana antes, o IBGE apresentava o Mapa da Fome no país, apontando que o total de pessoas com alimentação suficiente no país era o mais baixo dos últimos 15 anos.

R$ 89 por mês

Em cinco anos, o total de brasileiros passando fome tinha crescido em 3 milhões de pessoas. De lá para cá, com a pandemia e a recessão econômica, o cenário só piorou.

O Brasil que alimenta o mundo, segundo o capitão presidente, é o mesmo onde uma parcela cada vez maior da população passa fome. Alguma coisa está errada nessas contas ou nesse governo.

"Após 6 anos, Brasil volta à marca de 14 milhões de famílias na miséria", informa matéria do meu colega Carlos Madeiro, do UOL, em Maceió, que cita dados do Cadastro Único do Ministério da Cidadania, mostrando que esse é o maior número desde o final de 2014.

Essas famílias sobrevivem com uma renda de até R$ 89 por pessoa por mês (cerca de 15 dólares), para todas as suas necessidades básicas de alimentação, moradia e transporte. Dá para acreditar? E ninguém do governo se comove com isso?

Vem aí: Brasil na pandemia, sem vacina e sem auxílio emergencial

Depois de passar 17 dias de férias nas praias, causando aglomerações por onde passou, o presidente voltou hoje a Brasília tirando qualquer esperança de que essa situação possa melhorar.

"O Brasil está quebrado. Eu não posso fazer nada", limitou-se a informar a 212 milhões de habitantes, como se fosse o dono de uma vendinha dando a má notícia a seus empregados.

Se ele se desse ao trabalho de ler a pesquisa do seu Ministério da Cidadania, ficaria sabendo que, além das famílias na miséria, havia ainda em outubro outras 2,8 milhões de famílias em situação de pobreza, com renda per capita média entre R$ 90 e R$ 178.

Isso antes de acabar o auxílio emergencial, que não será renovado. Só restou o Bolsa Família, herdado dos governos petistas, que paga um valor entre R$ 41 e R$ 205 às famílias cadastradas, em situação de extrema pobreza, que cresceram 1,3 milhão em seu governo.

A culpa é da mídia

E quem é o responsável por isso? Segundo Bolsonaro, é a imprensa, embora ele compre o apoio da rede bolsonarista amiga de rádio e televisão, além da sua milícia digital, mais atuante do que nunca (basta ver os comentários nesta coluna).

"Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, teve esse vírus, potencializado por essa mídia que nós temos. Essa mídia sem caráter. É um trabalho incessante de tentar desgastar para tirar a gente daqui e atender a interesses escusos", explicou aos devotos no cercadinho do Alvorada.

Coitado! Se é tão sacrificado assim ser presidente, por que ele não pede as contas de uma vez e desocupa a moita?

Ao contrário, avisou que vamos ter de aguentá-lo até 2022. Será que o país aguenta?

Sem apresentar qualquer plano para a recuperação da economia, sem ter providenciado até agora a vacinação da população contra o covid-19, o presidente vai empurrando seu governo com a barriga, cada vez maior, como vimos nas fotos esportivas em sua temporada de férias.

Fico me perguntando: aonde Bolsonaro quer chegar? Até quando vai continuar pautando a imprensa e a sociedade com seus factoides midiáticos, em que todos acabamos caindo?

Eu bem que gostaria de mudar de assunto, mas ele não deixa. Parece que fomos todos hipnotizados por um Jim Jones tropical.

Vida que segue.