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Balaio do Kotscho

Começa a se fechar cerco jurídico e politico pelo impeachment de Bolsonaro

Bolsonaro em Coribe, no interior na Bahia, a 900 quilômetros de Salvador, onde foi inaugurar obras da BR-135 - Reprodução
Bolsonaro em Coribe, no interior na Bahia, a 900 quilômetros de Salvador, onde foi inaugurar obras da BR-135 Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

21/01/2021 16h47Atualizada em 22/01/2021 09h43

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O vento virou. A abertura de um processo de impeachment pelo afastamento do presidente Jair Bolsonaro, possibilidade que andava adormecida até o final do ano passado, tornou-se cada vez mais real nestas três primeiras semanas de janeiro, após as mortes por asfixia pela falta de oxigênio em Manaus (e agora também no interior do Amazonas e do Pará) e com a absoluta incompetência do governo para fazer a vacinação em massa dos brasileiros.

As condições jurídicas já estavam dadas por variados crimes de responsabilidade na gestão da pandemia e as condições políticas começam a se formar aos poucos, por iniciativas dos partidos e de entidades da sociedade civil, com vários atos de protesto previstos para esse final de semana.

O maior sinal de que o cerco a Bolsonaro está começando a se fechar, foi dado na manhã desta quinta-feira pelo próprio presidente.

"Se Deus quiser, vou continuar meu mandato e, em 2022, o pessoal escolhe", disse ele a um grupo de apoiadores no cercadinho do Alvorada.

Até então, o presidente não tinha a menor dúvida sobre isso e só pensava e falava na reeleição em 2022. Num raro gesto de humildade, ele também disse que "tem muita gente boa" para escolher nas eleições presidenciais e espera que os "bons se candidatem", sem citar nomes.

Embora ainda conte com uma poderosa rede bolsonarista de rádio, televisão e de redes sociais espalhada pelo país, com raras exceções, os principais veículos de mídia impressa estão aumentando o tom dos ataques ao presidente e seus ministros.

A imprensa sobe o tom

Hoje, foi a vez do Estadão chamar Bolsonaro de "o mais inepto presidente da história pátria" no editorial "A alternativa a Bolsonaro", em que vai direto ao ponto:

"Está claro para um número cada vez maior de cidadãos que Jair Bolsonaro não reúne mais condições de continuar na Presidência e que sua permanência no poder põe em risco a vida de incontáveis brasileiros em meio à pandemia de covid-19, em razão de sua ignominiosa condução da crise".

Na opinião do jornal, Bolsonaro "só se segura porque não foram reunidas condições políticas para o afastamento constitucional", e por falta de alternativas.

De fato, se ele sair para dar lugar ao general Mourão, seu vice, a emenda pode ficar pior do que o soneto.

A esquerda se articula e o Centrão já não garante

As condições políticas estão sendo criadas na denúncia coletiva que deve ser protocolada até o final da semana pelos partidos PT, PCdoB, Rede, PSB e PDT. É a primeira vez que a oposição se une para preparar uma ação conjunta pelo afastamento de Bolsonaro.

Mas até no Centrão já tem parlamentar especulando sobre o impeachment do presidente, como mostrou Igor Gielow na Folha: "O `isso não tem chance de acontecer´ deu lugar a um cauteloso `olha, depende´".

A retumbante derrota de Bolsonaro na "guerra da vacina" travada com o governador paulista João Doria e a tragédia de Manaus foram para a conta do presidente, e não do seu ministro da Saúde, o general Pesadelo, como agora é chamado.

Dos 56 pedidos de impeachment contra Bolsonaro parados na Câmara dos Deputados (cinco já foram arquivados por Rodrigo Maia), 26 se referem a ações do presidente no combate à covid-19, como a insistência em receitar cloroquina e falhar na compra de vacinas, que estão chegando a conta-gotas.

EUA sem datas para o Brasil

Levantamento feito pela Folha junto a especialistas mostra que os fracassos em série do planejamento federal para aquisição e distribuição de vacinas, além da falta de oxigênio em Manaus, deram mais solidez ao embasamento jurídico para abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro.

Os apoios políticos para que isso aconteça chegam não só da esquerda, mas de João Amoêdo, do Partido Novo, e de movimentos de direita como o Vem pra Rua e o MBL, que se formaram durante os protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff e agora estão organizando manifestações contra o atual governo.

Para completar o inferno astral de Bolsonaro, que já bateu de frente com a China e a Índia e agora está tentando consertar o estrago com os principais fornecedores de vacinas e insumos, a carta amistosa que ele enviou a Joe Biden não ajudou a melhorar as relações com o novo presidente americano, cuja vitória demorou a reconhecer, ficando com Donald Trump até o fim, denunciando fraudes na eleição.

Ao ser perguntada pela repórter Raquel Krähenbühl, da Globo News, sobre uma eventual conversa de Biden com Bolsonaro, a secretária de imprensa do do novo presidente americano, Jen Psaki, deu uma resposta curta e grossa:

"Não há datas para conversas com o Brasil".

Ou seja, mandou o presidente brasileiro para o final da fila de prioridades de Biden.

Outro dia, ao posar para uma foto ao lado de um homem montado a cavalo, no município baiano de Coribe, a 900 quilômetros de Salvador, onde foi inaugurar obras, Bolsonaro resolveu brincar com ele:

"Não sei qual de nós três é o mais inteligente...".

Diante dos últimos acontecimentos, há controvérsias.

A imagem foi registrada pelo tenente do Exército Mosart Aragão Pereira, do Gabinete de Segurança Institucional, e divulgada nas redes sociais, sem comentários.

Vida que segue.

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