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OPINIÃO

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Bolsonaro chama Lula de bandido e manda ele fazer uma "jegueata"

Presidente Jair Bolsonaro provoca aglomeração de seus apoiadores no "cercadinho" do Palácio da Alvorada - Gabriela Biló/Estadão Conteúdo
Presidente Jair Bolsonaro provoca aglomeração de seus apoiadores no "cercadinho" do Palácio da Alvorada Imagem: Gabriela Biló/Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

13/07/2021 18h05

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Em mais uma exibição no "cercadinho" do Alvorada, de onde ele governa o Brasil para os seus devotos, cada vez em menor número, o presidente Jair Bolsonaro deu nesta terça-feira uma pista de como pretende conduzir sua campanha à reeleição, que já começou, no ano que vem.

"Qual vai ser o futuro nosso se esse bandido for eleito presidente da República?", perguntou aos seus admiradores, referindo-se ao ex-presidente Lula. "Manda o Lula organizar uma jegueata para ele. Ele não pode andar na rua", disparou.

O perigo de Lula vencer as eleições parece assustar cada vez mais o presidente. Bolsonaro só pensa nisso, está até com insônia e soluços. No último Datafolha, Lula ganharia no segundo turno por 58% a 31%.

Para impedir que isso aconteça, o capitão voltou a defender o voto impresso, única forma, segundo ele, de evitar fraudes, que dariam a vitória a seu adversário, embora não exista nenhum registro disso nestes últimos 25 anos, desde que foi adotada a urna eletrônica.

Em seu raciocínio tortuoso, o atual presidente foi a Cuba buscar argumentos para a sua teoria, embora lá não existam eleições livres e diretas, nem urna eletrônica, para escolher o presidente da República. Também não existem motociatas nem jegueatas, o neologismo criado por ele em referência à região de origem do ex-presidente.

Os protestos populares do último fim de semana contra o governo em Cuba serviram de gancho para Bolsonaro acenar mais uma vez com o "perigo vermelho", como já fizera nas eleições de 2018.

"Ele está contra o movimento de liberdade para Cuba e tem gente que apoia esse cara para ser presidente do Brasil. Aqui, para não entrar na linha de Cuba, tem que ter o voto impresso e auditável". E acrescentou mais uma condição para evitar fraudes: "A contagem pública dos votos também".

Fico pensando como se daria isso. Cada eleitor poderia conferir seu voto impresso antes que fosse auditado? Os votos trariam nome e endereço do eleitor para se saber quem votou em quem?

Dá para imaginar a confusão que se armaria em cada zona eleitoral na contagem dos votos, mas é exatamente isso que o presidente está procurando para melar o jogo e se proclamar vencedor.

Assim como não acredita na fidelidade das urnas eletrônicas, Bolsonaro também não bota fé nas pesquisas eleitorais, outra das suas obsessões.

"Segundo o Datafolha, ele (Lula) tem 60% das intenções de voto, mas não vai para a rua". Calma, ainda não se chegou a tanto. O que já está nesta faixa é a rejeição a Bolsonaro.

Se as eleições estão marcadas para outubro do ano que vem, só quem não tem o que fazer e não respeita o calendário do TSE pode-se dar ao luxo de estar em campanha com tamanha antecedência.

À medida em que as investigações da CPI do Senado sobre as maracutaias na compra de vacinas avançam para o gabinete presidencial e arredores, mais o presidente procura mudar de assunto, com ataques a torto e a direito, contra inimigos reais ou imaginários, vendo em tudo uma grande conspiração para apeá-lo do poder.

Quem ainda for seu amigo, deveria convencê-lo a entregar a arma que garante deixar sempre ao lado da cama. Ninguém o está ameaçando. O único perigo é ele mesmo.

Em tempo: com tantas denúncias de corrupção rondando o governo, fiquei curioso em saber o que o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro, o paladino da honestidade, estaria achando de tudo isso. Por onde ele andará?

Vida que segue.