Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Em novo surto, Bolsonaro está ingovernável e manda trocar feijão por fuzil
Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail
Em meio a novos ataques aos tribunais superiores, que vêm-lhe impondo sucessivas derrotas, Bolsonaro subiu o tom na manhã desta sexta-feira, e resolveu partir para a guerra, o tudo ou nada, para armar suas falanges contra as instituições.
De volta ao "cercadinho" do Alvorada, em novo surto, ao ser perguntado por um devoto quando ele iria "parar de brigar dentro das quatro linhas e partir para o ringue", o presidente apontou a solução para enfrentar os problemas a bala. Que ringue, que nada.
"Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. Povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. Daí tem um idiota que diz "ah, tem que comprar feijão". Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar".
Quem pode comprar fuzil? Só as milícias urbanas e rurais, e seus financiadores, que se preparam para o 7 de Setembro.
Bolsonaro nem deve saber quanto custa um rifle, muito menos o feijão, para entender que não será fácil trocar um pelo outro, mesmo se o povo quisesse e pudesse.
Em promoção, no supermercado Extra, dois quilos de feijão carioca Camil podem ser comprados por R$ 18,49, ou em até duas vezes de R$ 9,24, sem juros. Feijão agora é a prestação...
Um rifle baratinho, calibre 22, está saindo na Casa do Tiro por R$ 2.850, à vista.
A não ser que o presidente queira sugerir a seus seguidores invadir supermercados, armados de rifles, para levar feijão na mão grande, fica difícil compreender o raciocínio.
BREAKING NEWS: Na exata hora em que escrevo estas linhas, recebo a informação de que militantes do Movimento de Luta, nos Bairros, vilas e favelas (MLB), ligado à Unidade Popular, ocupou agora de manhã a sede da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em busca de comida. Não estavam munidos de rifles, mas de panelas e bacias.
Parece que ouviram as palavras de Bolsonaro, mas não entenderam nada. O alvo do capitão é outro, não é comida. Embora diga que "não quer interferir em outros Poderes" hoje ele mirou no Tribunal Superior Eleitoral:
"Não sou machão, não sou o único certo. Agora, do outro lado, não pode um ou dois caras estragarem a democracia no Brasil. Começar a prender na base do canetaço, bloquear redes sociais. E, agora, o câncer já foi lá para o TSE. Lá tem um cara também que manda desmonetizar as coisas. Tem que botar um ponto final nisso. E isso é dentro das quatro linhas..."
Só não foi dito como ele pretende dar esse ponto final.
Para entender o que está acontecendo com a cabeça do presidente recorri aos dicionários e ao Google.
"Perder a noção da realidade e ter dificuldade de diferenciá-la de pensamentos e ideais imaginados são apenas alguns dos sintomas da esquizofrenia. Um dos delírios mais comuns em quem tem a esquizofrenia é a crença de que está sendo perseguido. Os pacientes podem ouvir vozes e ter alterações no pensamento e dificilmente são convencidos do contrário," ensina o médico psiquiatra Miguel Boarati, no site "Cuidados Pela Vida". Lembra alguém?
Segundo o Dicionário Online de Português, esses sintomas são definidos "por uma separação entre a ação e o pensamento, ocasionando a perda de contato com a realidade."
É exatamente o que está acontecendo na convocação dos protestos bolsonaristas do 7 de Setembro, para dar "verniz democrático a ato com raiz golpista", como se lê na edição de hoje da Folha:
"As convocações bolsonaristas para o dia 7 seguem a receita dúbia de flerte com o golpe enquanto pregam a necessidade de proteger a democracia do que enxergam como autoritarismo do STF".
No bolsonarismo, nunca se sabe onde termina a realidade e começa a ficção delirante, e é invertido o sentido das palavras como liberdade e democracia, muito utilizadas nas mensagens.
O algoz vira vítima e vice-versa, a fragilidade vira demonstração de força, a Constituição é adaptada à palavra de ordem do momento, o comportamento do indivíduo pode mudar de forma abrupta ou gradativa. Nada é, mas pode ser, ou não. Tudo depende de como o mandatário quer ver as coisas, não como elas são. Quando a razão dá lugar ao achismo e às fake news, chega-se à cloroquina e à terra plana.
O objetivo final é criar confusão, insegurança, medo, desconfiança, conflito, desanimo, jogar uns contra os outros, para reinar sozinho.
Dá para imaginar "todo mundo armado de fuzis", como quer Bolsonaro, para resolver nossas diferenças e carências?
Se isso não é crime de responsabilidade, incitação à violência e ameaça à ordem publica, o que falta ainda? Criar um Exército Islâmico aqui?
Ainda bem que cada vez menos gente, seja militar ou paisano, leva Bolsonaro a sério. E essa é razão do seu desespero, cada vez que sai uma nova pesquisa.
Para evitar novos surtos, só se proibirem as pesquisas sobre o governo ou tirarem o nome de Lula da urna eletrônica.
Trata-se de um grave caso médico, está evidente, que nenhuma tentativa de conciliação ou um imaginário pacto entre Poderes vai resolver.
Bolsonaro é simplesmente ingovernável.
Vida que segue.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.