A tal da terceira via virou um beco sem saída por falta de líderes e votos

Por maiores que sejam o apoio de setores da imprensa e de recursos disponíveis, a barafunda partidária protagonizada por Doria e Moro, na quinta-feira, só provou uma coisa: não se cria candidato em laboratório.

Até a turma da grana da Faria Lima já se deu conta disso, como mostra a reportagem na Folha de hoje: "Faria Lima balança entre Lula Bolsonaro _ Para gestores do mercado financeiro, nem Bolsonaro está tão à direita como se esperava, nem Lula ficaria tão à esquerda".

Gestor da Versa Fundos de Investimento, Luiz Fernando Alves diz que a possibilidade de uma terceira via ainda vir a galgar espaço nas intenções de voto parece bastante combalida a essa altura do campeonato: "Acho que ninguém no mercado ainda trabalha com o cenário de uma terceira via".

Por falta de líderes, projetos e, principalmente, de votos, a terceira via só sobrevive nas colunas tucano-lavajatistas na mídia que ainda não se conformam com a desistência de Sergio Moro e o minueto grotesco do vaivém de João Doria.

O problema é que depois dessa dança de cadeiras ninguém acredita mais no que os dois falam. Perderam nesse teatro de sombras o pouco de credibilidade que ainda lhes restava.

Tanto Moro pode estar preparando sua volta mais adiante, porque só abriu mão da candidatura "nesse momento", como Doria pode desistir mais à frente, ao perceber que só ficou candidato de si mesmo, segurando as penas do PSDB que lhe puxou a escada e voou.

Ex-juiz de primeira instância, ex-"herói nacional", ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, ex-consultor de multinacional americana e agora ex-pré-candidato a presidente da República, Moro sempre quis dar um passo maior do que as pernas e agora terá que se conformar em disputar uma vaga de deputado federal para garantir o foro privilegiado.

Nos seus tempos de herói, jurava por todos os santos que jamais entraria na política. Ficava até ofendido quando tocavam nesse assunto. Agora, que sua campanha estava morrendo na praia, até o início da semana dizia que a chance de desistir da candidatura era "zero" e também fazia cara de ofendido. Na pressa de mudar de legendas, esqueceu de avisar o Podemos, o antigo partido que lhe pagava um salário mensal para ser candidato. Ficou feio.

Em sua primeira campanha para prefeito de São Paulo, em 2016, Doria também queria distância dos políticos e se apresentava como "o gestor". Eleito, abandonou o cargo no meio do mandato para se candidatar a governador, já pensando em ser presidente da República, passando por cima do padrinho Geraldo Alckmin. E agora se apresenta como grande "estrategista político" ao justificar a lambança de desistir da desistência da candidatura.

Doria e Moro ficaram menores do que entraram nesta pré-campanha eleitoral, sem nada ter apresentado de concreto aos eleitores para justificar suas candidaturas. Queriam votos em nome de quê, de qual projeto de país?

Com os dois em baixa no mercado, os arautos da terceira via procuram agora um outro nome, mas quem? Simone Tebet, a senadora que ganhou 15 minutos de fama na CPI da Covid? Eduardo Leite, que perdeu as prévias tucanas para Doria? Parece brincadeira, mas tem gente que leva isso a sério.

Nem o malabarista Gilberto Kassab conseguiu até agora encontrar um candidato para chamar de seu, mas não desiste. O prazo para o troca-troca partidário acaba amanhã. Não vai dar tempo para inventar um novo candidato da terceira via nem um novo partido para abrigar tucanos que não se bicam.

Como escrevi outro dia, restaram na corrida apenas Lula e Bolsonaro, goste-se deles ou não. Para quem ainda preza a democracia, não é uma escolha tão difícil.

Vida que segue.