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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quem Bolsonaro pensa que ainda engana com a sua ofensiva de ataques ao STF?

Steve Bannon e Olavo de Carvalho participam do jantar com Bolsonaro em Washington, no início do governo, em que ele anunciou suas planos - ALAN SANTOS / PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA / AFP
Steve Bannon e Olavo de Carvalho participam do jantar com Bolsonaro em Washington, no início do governo, em que ele anunciou suas planos Imagem: ALAN SANTOS / PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA / AFP

Colunista do UOL

18/05/2022 15h21

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Será que os consultores jurídicos de confiança do presidente, o procurador Augusto Aras e os ministros Nunes Marques e André Mendonça, não o advertiram sobre a palhaçada do processo movido contra Alexandre de Moraes, do STF, justamente o ministro responsável pelo inquérito que apura os crimes de uma suposta organização criminosa formada pelo capitão e seus generais na cúpula do governo?

Quem Bolsonaro pensa que ainda engana com esses seus gestos desesperados, por medo de perder as eleições e a imunidade que o cargo lhe oferece, nesta escalada de falas e atitudes delirantes das últimas semanas?

Até o gramado e os arbustos do "cercadinho" do Alvorada já sabem que seu único objetivo é criar mais confusão e desconfiança para tentar melar o processo eleitoral em curso, razão das investigações determinadas por Moraes à Polícia Federal.

Como já era de se esperar, o ministro relator Dias Toffoli rejeitou, sumariamente, nesta quarta-feira, a notícia-crime apresentada por Bolsonaro por suposto abuso de autoridade.

"O Estado Democrático de Direito impõe a todos deveres e obrigações, não se mostrando consentâneo com o referido enunciado a tentativa de inversão de papéis, transformando o juiz em réu pelo simples fato de ser juiz", justificou Toffoli, dando o assunto por encerrado, ao não encontrar "justa causa" para prosseguir com o pedido.

De fato, Bolsonaro age como aquele punguista pego em flagrante, que sai correndo e gritando: "pega ladrão!". O julgado agora quer julgar o julgador.

Segundo Toffoli, "não se pode admitir que a notícia-crime seja utilizada como sucedâneo de recurso ou como maneira de se ressuscitar questões já apreciadas e sedimentadas por esta Suprema Corte".

Tudo isso faz parte de um grande teatro do absurdo montado para, mais adiante, quando as urnas lhe negarem um novo mandato, municiar seus devotos fiéis, que já estão armados até os dentes para não aceitar um resultado desfavorável ao capitão, que agora resolveu ser candidato a ditador, com ou sem o apoio das Forças Armadas.

Seria tudo tragicômico se o país não estivesse vivendo a mais profunda crise institucional, política, econômica e social da sua história.

Outro dia, sugeri aqui que se pare de falar em golpe porque é exatamente isso que os golpistas querem, mas Bolsonaro não deixa.

O seu arsenal de absurdos e barbaridades parece inesgotável, superando-se a cada dia nos desatinos, sem se importar com os problemas reais enfrentados pelos brasileiros na luta pela simples sobrevivência.

Daqui a pouco ele inventa outra história maluca como essa, para tentar inverter os papéis com o juiz, fazendo-se ora de vítima, ora de algoz do Supremo Tribunal Federal, a última barreira para deter sua marcha alucinada contra as instituições democráticas.

O que mais me assusta é o estrondoso silêncio da chamada elite brasileira, que a tudo assiste, impassível, sem dar um pio. Aonde todos se esconderam, os capitães da indústria e os líderes do mercado financeiro, os doutores da USP, os bispos da CNBB, os advogados da OAB, os generais nacionalistas?

Bolsonaro não engana mais ninguém, só quem quer ser enganado, para continuar usufruindo seus privilégios e mordomias.

Nunca ficou tão evidente o plano sadomasoquista desse desajustado, que se compraz com o sofrimento alheio, faz discursos aos gritos e ri das próprias bobagens, como seus êmulos da Europa nos anos 30 do século passado.

No caso de Bolsonaro, ele resolveu declarar guerra ao próprio país, disposto a destruir tudo o que havia antes, para só depois criar uma outra nação, à sua imagem e semelhança, como anunciou naquele jantar com a direita americana em Washington, no início do seu mandato, ao lado de Olavo de Carvalho e Steve Bannon, o estrategista de Donald Trump. Quem tentar impedi-lo é inimigo, traidor da pátria, a serviço do comunismo internacional, que nem existe mais.

Só falta ressuscitar a campanha do "Ame-o ou Deixe-o" do tempo dos militares.

Vida que segue.

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